Atacar o PT, a UNE e o governo Lula no Movimento Estudantil seria uma linha-auxiliar da extrema direita nas universidades?, por Arthur Gimenes
O movimento estudantil brasileiro vive uma disputa histórica entre a maioria que atua junto com o governo Lula e setores que se colocam em oposição. Essa oposição, embora se reivindique de esquerda, muitas vezes cumpre um papel que só interessa à direita.

Hoje, grande maioria das entidades estudantis como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), entre outras, são dirigidas por um campo chamado de majoritário, composto por juventudes e correntes de diversos partidos de esquerda, tendo como destaque a União da Juventude Socialista (UJS), do PCdoB, que preside ambas as entidades e o Coletivo ParaTodos, da JCNB e Juventude do PT, que está na vice-presidência da UNE e UBES.
Porém, dentro do Movimento Estudantil, forças ditas de “extrema-esquerda” ou de “oposição de esquerda” com base ideológica majoritariamente trotskista e/ou “marxistas-leninistas” que fazem oposição ao campo majoritário das entidades estudantis. Seria uma linha auxiliar da direita brasileira dentro das universidades?
Alguns marcos na Educação do Governo Lula III
Desde quando Lula assumiu o seu terceiro mandato em 2023 após uma derrota histórica contra Bolsonaro e o Bolsonarismo, a educação passou a ser prioridade para o Governo do Brasil após um apagão na pasta com os governos Temer e Bolsonaro. Logo em fevereiro de 2023, o presidente Lula ao lado do ministro da Educação Camilo Santana, da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação Luciana Santos e dos presidentes da CNPq e CAPES, Ricardo Galvão e Mercedes Bustamante, anunciou o aumento nos valores das bolsas de pós-graduação e iniciação científica e na quantidade de bolsas a serem concedidas, atendendo 258 mil bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Ministério da Educação, e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
O último reajuste nos valores das bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado ocorreu em abril de 2013. Também há cerca de dez anos não havia uma recomposição do número de bolsas (GOV.BR, 2023), um grande marco para a pesquisa e extensão no Ensino Superior brasileiro.
Ainda em 2023, Lula, ao lado da UNE e da UBES sanciona a nova Lei de Cotas, constando também a prioridade para os cotistas no recebimento do auxílio estudantil e a extensão das políticas afirmativas para a pós-graduação (GOV.BR, 2023).
Em fevereiro de 2024, Lula em mais uma decisão acertada anuncia a criação do programa “Pé-de-Meia”, programa esse de incentivo financeiro-educacional voltado a estudantes matriculados no ensino médio público beneficiários do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).
O programa funciona como uma poupança para promover a permanência e a conclusão escolar de estudantes nessa etapa de ensino. Seu objetivo é democratizar o acesso e reduzir a desigualdade social entre os jovens, além de fomentar a inclusão educacional e estimular a mobilidade social.
O estudante do ensino regular recebe o pagamento de incentivos mensais no valor de R$ 200, que podem ser sacados em qualquer momento. O beneficiário do Pé-de-Meia ainda recebe R$ 1.000 ao final de cada ano concluído, que só podem ser retirados da poupança após a formatura no ensino médio.
Considerando as parcelas de incentivo, os depósitos anuais e o adicional de R$ 200 pela participação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os valores chegam a R$ 9.200 por aluno (GOV.BR, 2025).
A oposição controversa ao governo Lula
Enquanto o governo do presidente Lula, ao lado das entidades estudantis como UNE e UBES comandadas por essa frente majoritária, chamada pela “esquerda radical” de “imobilistas” são conquistados, ao lado do governo marcos históricos para a educação básica e para o ensino superior, mesmo assim essa majoritária é chamada de neoliberais, conciliadores com a classe burguesa, entre tantas outras nomenclaturas que sabemos que não cabe ao governo do presidente Lula, tampouco ao PT e PCdoB.
O que a oposição de esquerda fez pela educação brasileira, pelo Ensino Básico e Superior? Para que sem embasamento teórico e prático ir contra as entidades estudantis que são pontas de lança na defesa de um país democrático e soberano com escolas e universidades públicas, gratuitas e de qualidade e que ao lado do governo Lula realmente transforma a educação?
Determinados grupos e partidos da “oposição de esquerda” teceram diversas críticas pelo presidente Lula ser convidado e compor espaços como as duas últimas edições do Congresso da UNE (CONUNE).
Como é possível setores ditos de esquerda serem contra a vinda de um presidente de esquerda e que atendeu em seus outros dois mandatos e atende as demandas dos estudantes?
Breve resgate histórico da educação nos governos Lula I e II
Vale a pena fazer um resgate histórico dos marcos dos governos do presidente Lula durante os mandatos de 2003 a 2010. Em 2008, sob a gestão de Fernando Haddad no Ministério da Educação, por meio da Lei n. 11.892, de 29 de dezembro daquele ano foi instituída a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (IFPB, 2023), os Institutos Federais que é o maior exemplo de democratização ao acesso do ensino superior e técnico no Brasil e na América Latina, que em 2024 Lula anunciou a criação de 100 novos Institutos Federais que abrirão 140 mil vagas em cursos (EBC, 2024).
Devemos lembrar também uma outra importante conquista para os jovens, filhos da classe trabalhadora brasileira, o Programa Universidade para Todos (ProUni) criado em 2004, pela Lei nº 11.096/2005, tendo como finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação e de cursos sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2018).
Um modelo consolidado na educação brasileira que já beneficiou 3,4 milhões de estudantes em 20 anos (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2025). Programa esse que quase a maioria da oposição à gestão da UNE foi contra nos processos congressuais.
Enquanto as gestões majoritárias das entidades estudantis trabalham ao lado do governo Lula para abrir caminhos, o que a dita “oposição de esquerda” faz pela educação, pelos estudantes brasileiros? Qual é o objetivo em fazer oposição a um governo de esquerda? Ser linha auxiliar da extrema-direita no dentro das universidades e escolas brasileiras?
É importante lembrar que os nossos inimigos e opositores não estão no campo da esquerda, e sim no campo da direita, como Tarcísio de Freitas (Republicanos) que insiste em atacar a educação básica com a precarização das Escolas Estaduais e tentativas de privatizações e militarização, além do sucateamento das universidades e faculdades estaduais como USP, UNICAMP e em especial a UNESP e FATEC.
Essa é a reflexão que devemos fazer: os nossos inimigos não estão dentro das entidades estudantis, das escolas, das universidades e muito menos dentro da esquerda.
Como alguém que acompanha e compõe o Movimento Estudantil desde a entrada na Juventude do PT é triste ter que fazer uma leitura como essa: triste, porém necessária.
*Arthur Gimenes é estudante de Administração Pública na FCLAr/Unesp, é militante da Juventude do PT, Coletivo ParaTodos e Núcleo Caravana do PT. Também é membro do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Araraquara e preside o Conselho Municipal de Juventude.