Safra celebrada do cinema nacional leva “O Agente Secreto” a representar o Brasil no Oscar 2026
Filme estrelado por Wagner Moura será o representante do país na categoria de Melhor Filme Internacional; governo celebra escolha e safra brasileira ganha destaque mundial

Há muito tempo a escolha brasileira para o Oscar não mobilizava tantas paixões – reconhecendo aqui, é claro, que Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, foi um um arrebatador e inesperado sucesso – desde que a equipe do longa trouxe a estatueta, inédita, de Melhor Filme Internacional.
As apostas para a próxima edição já esquentam e, nesta segunda-feira (15/9), a Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais (ABCAA) anunciou que O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, será o representante do Brasil na corrida por uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026.
O anúncio não veio sem disputa: nas redes, espectadores, críticos e profissionais do setor dividiram-se entre o filme de Kleber e Manas, de Marianna Brennand, reconhecido pela força social e pelo brilho de seu elenco, ancorado por Dira Paes.
Indicação de O Agente Secreto ao Oscar e destaque de Manas em Los Angeles reafirmam a força do cinema brasileiro no cenário internacional
O clima de celebração, entretanto, não diminui a responsabilidade que recai agora sobre O Agente Secreto, longa que mergulha nas sombras da ditadura militar brasileira ao narrar a trajetória de um jovem recrutado como informante. Suspense, memória política e drama humano se cruzam em uma obra que já emocionou plateias de Cannes, onde Kleber recebeu o prêmio de Melhor Diretor e Wagner Moura o de Melhor Ator.
Um filme, um país
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em agosto recebeu elenco e equipe para uma sessão especial no Palácio da Alvorada, celebrou publicamente a decisão: “O audiovisual brasileiro vive um grande momento, fruto de muito talento, trabalho e incentivo. Estou certo de que O Agente Secreto vai representar o nosso cinema com louvor”.
Naquela exibição em Brasília, acompanhada pela primeira-dama Janja e pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, o filme foi recebido como mais do que produto artístico: era também memória e reflexão sobre democracia. Kleber Mendonça Filho resumiu o espírito da noite:
“Este filme foi feito no Brasil, com recursos brasileiros e com histórias que falam de nós. Levá-lo para Cannes e receber esse retorno é prova de que o Brasil tem muito a dizer ao mundo através da sua arte. Estar hoje no Palácio da Alvorada reforça o quanto o cinema pode ser também um ato político e cultural”.
O apoio público ao longa também sublinha a política de retomada do setor audiovisual. O Agente Secreto contou com financiamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), gerido pelo MinC e pela Ancine, ferramenta que viabilizou uma geração de filmes com ambição estética e repercussão internacional.
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“Manas” brilha em Hollywood
Embora O Agente Secreto tenha sido a escolha oficial, Manas, de Marianna Brennand, também viveu seu momento em Los Angeles.
O longa teve uma sessão exclusiva organizada por Julia Roberts e Sean Penn, que atuam como apoiadores da obra.

Ao lado da atriz paraense Dira Paes, Roberts destacou o impacto emocional do filme: “Estou muito animada com o que está prestes a acontecer com todos nesta sala, porque aconteceu comigo e vai transformar vocês. Este filme é uma afirmação da vida de uma forma tão triste, bonita e mágica”.
Dira Paes, emocionada, relatou ao Globo: “Foi emocionante ouvir da própria Julia, olhando nos meus olhos e segurando minhas mãos, o quanto ela estava tocada com o nosso trabalho, e depois receber aquele abraço sincero de quem diz: ‘estamos juntas!’”.
Manas foi um dos pré-selecionados pela ABCAA e segue sua trajetória internacional. A disputa simbólica com O Agente Secreto mostra não um racha, mas a potência de uma cinematografia capaz de oferecer múltiplos olhares sobre o Brasil contemporâneo.
Uma safra celebrada
O cinema brasilero vive um momento raro de reconhecimento internacional. Em Cannes, Wagner Moura foi premiado como ator, Kleber como diretor; em Berlim, O Último Azul conquistou o Prêmio da Crítica com sua alegoria distópica sobre regimes autoritários.
Além de O Agente Secreto e Manas, a lista de indicados pela ABCAA incluiu filmes de forte densidade social e estética: Kasa Branca, de Luciano Vidigal, um retrato afetivo da Baixada Fluminense; Baby, de Marcelo Caetano, olhar sobre juventude e masculinidade em São Paulo; e Oeste Outra Vez, faroeste sertanejo de Érico Rassi que revisita o gênero com sotaque brasileiro.

Cena do filme O Último Azul. A atriz Denise Weinberg (foto) interpreta a personagem Tereza. Foto: Vitrine Filmes/Divulgação