Após recusa brasileira a novo embaixador e críticas de Lula à guerra em Gaza, Israel rebaixa relações diplomáticas; governo brasileiro condena ataques e reafirma defesa da solução de dois Estados

Brasil-Israel: Itamaraty reage a insultos e relações diplomáticas são rebaixadas
O impasse se agravou depois que o governo brasileiro não respondeu à indicação de Gali Dagan (foto) para assumir a embaixada israelense em Brasília, o que foi interpretado por Tel Aviv como recusa política
Foto: Reprodução/Montagem 

Com informações da Agência Brasil e The Times of Israel

As relações diplomáticas entre Brasil e Israel atravessam um dos momentos mais tensos das últimas décadas. Após meses de atritos, os dois países ficarão sem embaixadores pela primeira vez em décadas, reduzindo a interlocução política direta.

O impasse se agravou depois que o governo brasileiro não respondeu à indicação de Gali Dagan para assumir a embaixada israelense em Brasília, o que foi interpretado por Tel Aviv como recusa política. 

Israel anunciou que não fará nova nomeação e manterá apenas um encarregado de negócios no posto. O Planalto avalia que a medida cristaliza a deterioração em curso e que seguirá defendendo, na ONU, cessar-fogo imediato e a solução de dois Estados.

Escalada de acusações

O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, intensificou a crise ao chamar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “antissemita apoiador do Hamas” em publicação nas redes sociais, em português, ilustrada por uma imagem gerada por inteligência artificial. 

Katz já havia protagonizado um episódio em 2024, quando levou o embaixador brasileiro Frederico Meyer ao Museu do Holocausto em Tel Aviv, ato que o Itamaraty classificou como uma forma de humilhação.

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) reagiu nesta terça-feira (26), classificando as declarações de Katz como “ofensas, inverdades e grosserias inaceitáveis”. 

O comunicado afirmou: “Cabe ao ministro da Defesa assegurar que seu país não apenas previna, mas também impeça a prática de genocídio contra os palestinos”.

O governo brasileiro lembrou que as operações militares israelenses já resultaram na morte de 63 mil palestinos, um terço deles mulheres e crianças, e destacou o uso da fome como arma de guerra.

Diplomacia acirrada

A crise diplomática se arrasta desde a guerra em Gaza, em outubro de 2023, quando um ataque do Hamas deixou 1.200 mortos em Israel e resultou em 250 reféns e deu início a uma série de ataques e crimes de guerra cometidos por Israel. 

A resposta israelense causou milhares de mortes civis palestinas e hoje deixa o país em estado de fome. Em fevereiro de 2024, após Lula comparar a ofensiva em Gaza ao Holocausto, Israel declarou o presidente brasileiro persona non grata. O Brasil chamou de volta seu embaixador em Tel Aviv e não nomeou substituto.

O governo brasileiro também se juntou à ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ), que acusa Israel de genocídio. Em julho de 2025, o Brasil deixou a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), alegando incompatibilidade com sua posição diante da guerra, decisão que Tel Aviv usou para reforçar as acusações contra Lula.

Posição oficial do Brasil

O Brasil manteve postura crítica às políticas do governo de Benjamin Netanyahu, sem deixar de condenar o terrorismo. “O governo brasileiro já deixou claro que não é contra Israel, e sim contra políticas adotadas pelo premiê Netanyahu”, disse o assessor especial da Presidência, Celso Amorim.

Em nota, o Itamaraty reforçou sua posição: “Espera-se do sr. Katz, em vez de habituais mentiras e agressões, que assuma responsabilidade e apure a verdade sobre o ataque de ontem contra o hospital Nasser, em Gaza”.

Nesta semana, o governo brasileiro voltou a defender a reforma do Conselho de Segurança da ONU, com a inclusão de países do Sul Global como membros permanentes.