Ataques a jornalistas em Gaza agravam crise humanitária; mundo começa a reagir
Exército de Israel admite ter alvejado correspondente da Al Jazeera; ONU condena ação e alerta para risco extremo a mais de 300 mil crianças em Gaza

O exército israelense confirmou ter deliberadamente alvejado o correspondente da Al Jazeera Anas al-Sharif, acusando-o de liderar “uma célula terrorista do Hamas”, alegações que tanto o jornalista quanto a rede de comunicação já haviam negado veementemente.
Segundo autoridades hospitalares, as forças israelenses mataram o repórter da Al Jazeera e outras sete pessoas em um bombardeio preciso ocorrido no domingo nas proximidades do complexo hospitalar Al-Shifa, em Gaza.
O ataque tirou a vida de al-Sharif, do também jornalista da Al Jazeera Mohamed Qureiqa e de três cinegrafistas que se abrigavam próximo à emergência do hospital, setor que foi danificado durante a ação. Outras três vítimas fatais foram registradas no mesmo ataque.
Ataque israelense mata jornalistas em Gaza e agrava crise humanitária, com aumento da desnutrição infantil e colapso da produção de alimentos
Em nota oficial, as Forças de Defesa de Israel (IDF) admitiram ter al-Sharif como alvo, sustentando que ele era “um comandante do Hamas que se infiltrou no jornalismo”, versão reiteradamente rejeitada pelo profissional e pela emissora.
Como justificativa, o IDF divulgou supostos documentos e materiais de inteligência encontrados em Gaza que, segundo alegam, comprovariam os vínculos do jornalista com o grupo militante.
ONU condena ataques
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, condenou a ação. “Estes últimos assassinatos evidenciam os riscos extremos que os jornalistas continuam a enfrentar ao cobrirem o conflito em curso”, declarou a porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, durante briefing à imprensa em Nova York.
“O Secretário-Geral exige uma investigação independente e imparcial sobre esses recentes homicídios”, acrescentou.
Segundo atualização do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), com base em dados das autoridades de saúde de Gaza, o número de crianças mortas por desnutrição no território desde outubro de 2023 já ultrapassou 100.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP) aponta que mais de um terço da população passa dias inteiros sem se alimentar. O quadro é agravado pelo aumento vertiginoso de casos de desnutrição aguda, colocando mais de 300 mil crianças em risco extremo.
O alerta coincide com o recente relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) de que apenas 1,5% das terras cultiváveis em Gaza permanecem acessíveis e intactas – situação que, segundo a agência, “sinaliza um colapso quase total da produção local de alimentos”.
Brasil condena ataque e cobra segurança para jornalistas
O governo brasileiro divulgou nota condenando a morte de seis jornalistas da Al Jazeera em ataque aéreo israelense contra uma tenda próxima ao hospital Al-Shifa, em Gaza. No comunicado, o Itamaraty classificou a ação como flagrante violação ao direito internacional humanitário e à liberdade de imprensa, elevando para mais de 240 o número de profissionais mortos desde o início do conflito. O Brasil também instou Israel a garantir segurança aos jornalistas e a suspender restrições à entrada de profissionais da imprensa internacional no território.
Com informações da ONU e da Euronews