“Não cabemos em outro lugar”: Teatro do Contêiner resiste à remoção pela Prefeitura de São Paulo
Ministério Público investiga ação de Ricardo Nunes contra companhia que transformou área abandonada no centro em polo cultural com mais de 4 mil atividades desde 2016

O Ministério Público de São Paulo instaurou, em junho, um inquérito para apurar possível improbidade administrativa e abuso de poder por parte do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta remover o Teatro de Contêiner Mungunzá, instalado desde 2016 na região da Luz, centro da capital paulista.
No fim de maio, a Companhia foi notificada pela Prefeitura para desocupar, em 15 dias, o terreno que ocupa há quase uma década e onde hoje funcionam o teatro, um coletivo social e diversas estruturas comunitárias.
Espaço virou referência cultural e social no centro
O Teatro de Contêiner Mungunzá é formado por 11 contêineres e abriga cerca de 70 trabalhadores diretos. Desde sua criação, já sediou mais de 4 mil atividades culturais, a maioria gratuita. Ao lado do teatro, atua também o Coletivo Tem Sentimento, que acolhe mulheres e homens trans com oficinas voltadas à geração de renda. Na praça onde estão instalados, há ainda quadra, playground, estúdio e sala pedagógica.
Segundo Lucas Beda, integrante da Companhia, o terreno estava abandonado quando o grupo realizou ali seu primeiro festival:
“Pedimos uma licença para o festival Arquiteturando a Cidade, e acabamos ficando. Como não havia equipamentos democráticos no centro, outros coletivos passaram a usar o espaço, inclusive ocupações do entorno”, afirma.
Com o tempo, o local superou a proposta inicial de ser apenas sede da Companhia Mungunzá:
“O espaço assumiu a função de equipamento público, com portões sempre abertos. Já fizemos mais de quatro mil atividades artísticas, mais de 80% gratuitas”, relata Beda.
A proposta da Prefeitura de transferir o grupo para uma área na região da Sé foi recusada. O coletivo afirma que o espaço oferecido não comporta a dimensão atual do projeto nem mantém sua inserção comunitária:
“Eles dizem que o teatro tem 290 m², mas ocupamos uma praça de 2.200 m². É um projeto de rua e de cena ao mesmo tempo. Isso não cabe em outro lugar”, argumenta.
Mobilização de artistas e sociedade civil
A tentativa de remoção provocou forte reação da sociedade civil. Mais de 60 coletivos artísticos assinaram uma carta pública criticando a decisão, que classificam como “higienista” e insensível ao papel social do espaço.
A atriz Fernanda Montenegro se juntou à mobilização e pediu, em vídeo, que o prefeito reconsidere a decisão.
O inquérito do Ministério Público vai apurar se houve desvio de finalidade ou interesse público no processo de notificação da Companhia Mungunzá. O teatro segue funcionando normalmente enquanto aguarda desdobramentos.