Livro sobre o 2 de julho na Bahia será lançado em cortejo no Pelourinho
Festividade em Salvador marca a Independência do Brasil na Bahia; a partir deste viés, obra com realização do CSBH debate desafios e ensinamentos da luta social

O feriado estadual de 2 de julho, data conhecida como a Independência da Bahia, é um momento histórico bastante relevante para a Independência do Brasil, que, apesar do senso comum, durante muito tempo, apontar como um processo pacífico, foi um período marcado por diversos eventos violentos, como foi a guerra entre brasileiros e o exército colonial de Portugal na província da Bahia entre fevereiro de 1822 e 2 de julho de 1823.
Com protagonistas que simbolizam a pluralidade do povo brasileiro, como as mulheres Maria Quitéria, Maria Felipa, Joana Angélica, e General Labatut, Corneteiro Lopes, cacique Bartolomeu Jacaré, entre outros, a guerra contra os portugueses travada naquele momento traz reflexões sobre as lutas enfrentadas pelo conjunto do povo brasileiro contra os interesses das elites até os dias de hoje.
É neste contexto que o livro “2 de julho: 200 anos da luta de um povo” será lançado junto aos festejos da data, em Salvador, na capital baiana. A obra, de organização do professor Sérgio Guerra Filho, é uma realização do CSBH, o Centro de Documentação e Memória Política Sérgio Buarque de Holanda, da Fundação Perseu Abramo.

O lançamento da obra será realizado no meio do cortejo deste ano, na quarta-feira (2), no restaurante Ponto Vital, que fica no Pelourinho, com a presença dos autores e de Elen Coutinho, diretora da fundação. A publicação conta com artigos de pesquisadores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Universidade Federal da Bahia, Universidade do Estado da Bahia e Universidade Estadual de Santa Cruz, além de textos de autores de universidades de outros estados.
O livro surgiu como resultado de uma série de seminários promovidos pela Fundação Perseu Abramo em 2023, na ocasião de celebração do bicentenário da Independência, que agregou diversos atores nas discussões, entre eles integrantes do meio acadêmico, que sintetizaram os debates na obra.
Passado e presente
“A construção de um mito do 7 de setembro acabou apagando os processos que ocorreram em outras províncias, onde tivemos, inclusive guerras, como foi o caso da Bahia, a participação das pessoas comuns, mulheres, indígenas, a população escravizada, e fica parecendo que a independência foi finalizada com um grito”, diz Sérgio Guerra Filho.
Professor do departamento de História da UFRB, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, ele comenta que os protagonistas deste episódio, assim como os fatos desse período, foram apagados da historiografia brasileira durante muito tempo para que triunfasse no imaginário a imagem da famosa pintura de Pedro Américo, “Independência ou Morte”, que retrata D. Pedro I de maneira glamourosa às margens do Ipiranga.
“A gente não pode esquecer que nossa história foi construída a ferro, fogo e sangue. A história do nosso povo é de muita luta, opressão e resistência, comenta o historiador.
De acordo com Sérgio Guerra Filho, a ideia do livro é poder abordar essa trajetória histórica de lutas coletivas, populares e de organização das classes trabalhadoras com a produção de uma espécie de balanço que respondesse o quanto avançamos e o quanto ainda precisamos avançar.
“A lição que temos é que a democracia não acontece só na hora de ir na urna. O 2 de julho tem um papel civilizatório importante, aí vemos que aconteceram coisas para além do que, em geral, as pessoas costumam saber. E isso não diz respeito apenas a Bahia, mas a todos os espaços que constituem essa nação”, afirma.

O cortejo
Em diversos pontos do estado, são realizados grandes cortejos, de caráter cívico, com destaque para os heróis anônimos representados pelas figuras dos caboclos e caboclas, marcando a data da vitória, quando o exército formado por brasileiros entrou na cidade de Salvador desocupada pelos inimigos portugueses.
Além de Salvador, o professor cita outros locais onde há o evento, como em Itacaré, Saubara, Caetité, Itaparica, Cachoeira e São Félix. “Originalmente, a festa não foi organizada pelas autoridades, foi uma festa que surgiu a partir dos próprios veteranos, e depois as autoridades entraram para organizar porque festa e rebeldia eram coisas que andavam juntas”, destaca Sérgio Guerra Filho.
“Hoje é uma festa que a cidade inteira se mobiliza, as escolas, as casas ficam enfeitadas, as pessoas vão para rua para cultuar esse ente que é o caboclo, que representa muito o que é o povo baiano, é uma comoção, é uma festa que mistura tudo, o cívico, o festivo e até o religioso”, comenta o professor.