Brasil reduz desmatamento em todos os biomas pela primeira vez em anos
Levantamento do MapBiomas mostra recuo generalizado do desmatamento no país, com destaque para Pantanal, Pampa e Cerrado. Em seis anos, agropecuária foi responsável por 97% da perda de vegetação nativa no Brasil

Todos os biomas brasileiros apresentaram redução na área desmatada em 2024, segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD), publicado em 14 de junho pela rede MapBiomas. A única exceção foi a Mata Atlântica, que se manteve estável após uma queda significativa no ano anterior, mesmo diante dos impactos de eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul.
De acordo com o levantamento, a área total desmatada no país caiu 32,4% em relação a 2023, enquanto o número de alertas validados recuou 26,9%. É o segundo ano consecutivo de redução: em 2023, a retração já havia sido superior a 11% frente a 2022.
Também houve queda no tamanho médio dos desmatamentos. O número de alertas com área superior a 100 hectares foi 31% menor em relação ao ano anterior. O dia com maior área desmatada em 2024 foi 21 de junho, com 3.542 hectares de vegetação nativa suprimidos em apenas 24 horas. A média diária de 2024 foi de 3.403 hectares, o equivalente a 141,8 hectares por hora. Na Amazônia, o ritmo foi de 1.035 hectares por dia (cerca de sete árvores por segundo); já no Cerrado, a perda foi mais intensa: 1.786 hectares por dia.
Os eventos extremos no Rio Grande do Sul impactaram os dados da Mata Atlântica. Sem eles, o bioma teria registrado uma redução de pelo menos 20% na área desmatada em comparação com 2023.
O Pantanal teve a maior redução proporcional, com 58,6% a menos de área desmatada. Em seguida, destacaram-se o Pampa (-42,1%) e o Cerrado (-41,2%). Na Amazônia e na Caatinga, as quedas foram de 16,8% e 13,4%, respectivamente.
Dois terços das Terras Indígenas (TIs) brasileiras não registraram qualquer evento de desmatamento em 2024. Apenas 33% das TIs tiveram ao menos um episódio detectado, totalizando 15.938 hectares de vegetação perdida, uma queda de 24% em relação a 2023. Essa área representa 1,3% do total desmatado no Brasil. A TI Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA) liderou o ranking, com 6.208 hectares desmatados, um aumento de 125% em relação ao ano anterior.
Dentro das Unidades de Conservação (UCs), a perda somou 57.930 hectares em 2024, 42,5% a menos que em 2023. Nas UCs de Proteção Integral, a redução foi ainda maior: 57,9%. A APA Triunfo do Xingu (PA) liderou o ranking nacional, com 6.413 hectares desmatados — uma queda de 31,7% frente ao ano anterior. Em seguida, aparecem a APA Serra da Ibiapaba (CE/PI), com 6.145 hectares, e a APA da Chapada do Araripe (CE/PE/PI), com 5.965 hectares.
A análise por estados apontou Goiás como o mais eficiente na reversão do desmatamento: uma redução de 71%, passando de 69.388 hectares em 2023 para 19.467 hectares em 2024. Também se destacaram Paraná, Espírito Santo e Distrito Federal, todos com reduções superiores a 60%.
A principal causa da perda de vegetação nativa continua sendo a pressão da agropecuária, responsável por 97% de todo o desmatamento nos últimos seis anos. Outros vetores variam conforme o bioma. O garimpo, por exemplo, responde por 99% do desmatamento na Amazônia. Já os projetos de energia renovável concentram 93% do impacto na Caatingadesde 2019. O Cerrado lidera a perda por expansão urbana, com 45% da área desmatada por esse motivo em 2024.
Entre 2019 e 2024, o Brasil perdeu 9.880.551 hectares de vegetação nativa, área equivalente à da Coreia do Sul. Dois terços dessa devastação (67%) ocorreram na Amazônia Legal, totalizando 6.647.146 hectares.