Enquanto você lê esta matéria, 3 toneladas de roupas foram descartadas no mundo. O planeta aguenta esse ritmo?

Para estar na moda hoje é preciso questionar. Não apenas preços e valores ou imposições de beleza, mas principalmente a gigantesca cadeia de produção da moda no mundo. Chique mesmo, no século 21, é saber de onde vem a roupa que se veste, como foi produzida, quais impactos causa à sociedade e quem a produz.

Uma pesquisa rápida revela que a indústria da moda mundial movimenta mais de 2,5 trilhões de dólares anuais e emprega cerca de 8 milhões de pessoas na cadeia têxtil e de confecção, incluindo trabalhadores diretos e indiretos. Trata-se de um sistema complexo que envolve desde a produção de matérias-primas até o varejo.

Os resultados considerados excelentes – vendas extraordinárias e diárias de marcas de fast fashion – escondem a exploração de mão de obra majoritariamente feminina e a contaminação do meio ambiente. Será que as pessoas sabem que o algodão daquela calça jeans esquecida no armário pode vir de lavouras do Nordeste que intoxicam trabalhadores rurais e poluem rios com agrotóxicos contrabandeados?

E os milhões de litros de água potável utilizados para produzir um jeans? E as condições de trabalho das costureiras espalhadas pelo mundo? Em 24 de abril de 2013, o mundo conheceu a cruel realidade da indústria fashion com o desabamento do Rana Plaza em Bangladesh, que matou 1.134 pessoas e deixou milhares de feridos.

Moda a qualquer custo: setor explora 8 milhões de trabalhadores e ameaça o clima, alertam cientistas
Trabalhadoras da Indústria “fast fashion” em fábrica na Índia Reprodução Wikimedia Commons

A Semana Fashion Revolution surgiu como resposta, reunindo o maior movimento de moda ativista do mundo. Com o tema “Pense Global, Aja Local: quem é o Brasil na Revolução da Moda?”, a iniciativa busca mapear problemas e soluções para uma moda mais justa e ecológica.

Segundo as organizadoras, o objetivo é “questionar as práticas convencionais da indústria e impulsionar mudanças em direção a um modelo mais justo, seguro e ecologicamente responsável”. A moda está intrinsecamente ligada ao mundo do trabalho e à sustentabilidade do planeta.

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A tragédia que mudou a indústria da moda: colapso do prédio onde ficava a fábrica Rana Plaza, em Bangladesh deixou mais de mil mortos

Esforços mínimos importam

Mercedes Bustamante, bióloga da Universidade de Brasília, alerta: “Cada tonelada de carbono importa. Ainda que pareçam esforços mínimos, eles são importantes. Sem ação climática ambiciosa, o desenvolvimento sustentável não será alcançado”. A boa notícia é que já existem tecnologias para reduzir as emissões pela metade até 2030 – o desafio é político e financeiro.

As previsões científicas indicam que em cinco anos os efeitos das mudanças climáticas – enchentes, secas, inundações – serão ainda mais intensos. Não há atalhos: a solução exige políticas públicas, tecnologia, financiamento e ações individuais. A moda circular prova que é possível consumir com consciência, lembrando que as roupas já produzidas poderiam vestir toda a humanidade.

Os cinco erres nunca foram tão necessários: repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar. Virar essa chave depende tanto de ações de Estado quanto de escolhas cotidianas. Afinal, o verdadeiro estilo está em vestir valores que preservam vidas e o planeta.

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