O líder da Igreja Católica, que faleceu nesta segunda-feira (21), manteve uma relação de profunda admiração com o atual presidente da República

Lula e o papa Francisco: a troca de cartas que marcou um diálogo de respeito
Papa Francisco recebe um abraço do presidente Lula
Foto: Ricardo Stuckert

Em 29 de maio de 2019, Luiz Inácio Lula da Silva enfrentava uma das maiores batalhas de sua vida: o cárcere político, decretado sem provas ou crime definido, em vigor desde 7 de abril do ano anterior.

Naquela época, o hoje presidente, então preso, já havia recebido, na cela onde cumpria sua pena, diversas lideranças políticas e religiosas, além de artistas. Do lado de fora, centenas de pessoas mantinham vigília em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba, em apoio a Lula.

Mas, naquele dia, uma mensagem escrita à mão teria um impacto tão profundo quanto as demonstrações de solidariedade presenciais. A carta era assinada pela maior autoridade católica do mundo: o argentino Jorge Mario Bergoglio, conhecido como papa Francisco.

O pontífice respondia a uma missiva enviada por Lula em 3 de maio daquele ano. Na resposta, Francisco expressou solidariedade diante das perdas familiares do presidente: “Quero […] lhe encorajar, pedindo que não desanime e continue confiando em Deus”, escreveu ao final da mensagem.

Lula e o papa Francisco: a troca de cartas que marcou um diálogo de respeito

 Não era a primeira vez que o papa manifestava apoio. Em agosto de 2018, ele já havia enviado outra carta a Lula, acompanhada de um rosário e de uma dedicatória no livro “A Verdade Vencerá”, obra baseada em entrevistas com o ex-presidente e lançada no início daquele ano. Os presentes foram entregues por meio do chanceler Celso Amorim.

Na carta de maio, Francisco também refletiu sobre o papel da política, em palavras que ecoaram entre defensores da democracia: “Estou convencido de que a política pode tornar-se uma forma eminente de caridade, se for exercida com respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas.”

A afinidade entre os dois ganhou novos capítulos em 13 de fevereiro de 2020, quando se encontraram pessoalmente, três meses após Lula deixar a prisão. O encontro durou cerca de uma hora, e, segundo a assessoria do ex-presidente, os temas abordados foram desigualdade, fome, meio ambiente e justiça social – questões centrais no pontificado de Francisco desde 2013.

Em 2023, já com Lula de volta à Presidência, um novo encontro ocorreu no Vaticano. Desta vez, discutiram novamente a fome, a luta por justiça social e o futuro da Igreja Católica no Brasil e na América Latina.

A morte do pontífice 

Nesta segunda-feira (21), às 7h35, o papa Francisco, líder da Igreja Católica, primeiro pontífice jesuíta e sul-americano da história, faleceu aos 88 anos no Vaticano. O anúncio foi feito em vídeo pelo cardeal Kevin Farrell: “Queridos irmãos e irmãs, com profunda tristeza devo anunciar a morte do nosso Santo Padre Francisco.”

Ele lutava contra uma série de problemas respiratórios desde fevereiro, incluindo pneumonia bilateral, bronquite crônica e infecções. Após 38 dias internado no Hospital Policlínico Agostino Gemelli, retornou ao Vaticano, onde faleceu. Seu sepultamento ocorrerá na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, no próximo sábado. O presidente Lula decretou luto oficial de sete dias no Brasil.