Após enfrentar a terceira greve geral em pouco mais de um ano de governo, aumento da inflação e queda na popularidade, o presidente da Argentina, Javier Milei sofre derrotas no congresso e nas ruas

Acabou a lua de mel com Milei?, por Paulo Pereira
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Buenos Aires, 15 de abril: A semana começou com tensão e dúvidas nos mercados argentinos e na população com o anúncio do governo em rede nacional sobre o fim das restrições cambiais para a compra de dólares por pessoas físicas. A medida anunciada pelo presidente Javier Milei na sexta-feira (11/4) põe fim ao limite de compra de US$200 por mês para pessoa física, pela via oficial, após o país selar um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), desta vez de US$ 20 bilhões. A medida, que não é inédita, também foi tomada pelo ex-presidente Mauricio Macri em 2019, é uma promessa de campanha de Milei, mas o cenário é de dúvidas sobre a desvalorização da moeda e aumento na inflação para os próximos meses.  

O anúncio do fim do “CEPO cambiário” vem de encontro com os números ruins que enfrenta Milei. A aprovação do governo caiu 4 pontos (47% de imagem positiva) e mais da metade tem uma opinião ruim ou muito ruim sobre o presidente. Além disso, 61% não concorda que a Argentina assuma mais dívidas com o Fundo Monetário Internacional.

Os dados mostram a insatisfação da população com o governo de extrema direita: uma rejeição categórica dos cortes nas pensões e aposentadorias; críticas à repressão; evidências de corrupção e da participação do presidente no esquema Libra.

Para 53% da população a inflação não está caindo. 46% dizem que o dólar está subindo muito ou bastante e 64% dizem que a pobreza não está diminuindo. Nada menos que 87,3% dizem que deveria haver um aumento emergencial nos salários dos aposentados. Essa é uma opinião quase unânime. 61,4% estão preocupados com o desemprego, o que – traduzido – significa que eles têm um forte medo de perder seu emprego atual.

A deterioração também se reflete em termos eleitorais: os cidadãos que dizem que votarão no peronismo já estão em pé de igualdade com aqueles que dizem que apoiarão candidatos libertários. Essa é uma mudança notável na tendência, pois até alguns meses atrás, as listas do partido do presidente “La libertad avanza”  prevaleciam. Os argentinos vão às urnas em outubro para renovar um terço do congresso.  

Os números são da pesquisa nacional realizada pela Analogías Consultoria. Foram entrevistados 2.854 cidadãos de todo o país, com entrevistas  realizadas por  telefones fixos e celulares.

*Paulo Pereira é jornalista formado pela PUC Campinas, reside e atua em Buenos Aires desde 2013