O líder do CDU, Friedrich Merz, inicia negociações com o SPD para formar coalizão e isolar o AfD
Após crescimento da extrema direita, Alemanha inicia formação de novo governo
Friedrich Merz, líder do CDU, durante coletiva em Berlim, onde anunciou o início das negociações para formar um novo governo sem o AfD Foto: Reprodução Youtube

O líder do Partido Democrata-Cristão (CDU), Friedrich Merz, anunciou em coletiva de imprensa em Berlim que iniciará negociações com o Partido Social-Democrata (SPD) para a formação de um novo governo. As conversas já estão em andamento e devem resultar em um acordo até a Páscoa, antes do fim do atual governo, em 20 de abril.

Merz ressaltou que seu principal objetivo é tirar a Alemanha da crise econômica e redefinir sua relação com os Estados Unidos. No domingo, 23, ele afirmou: “Nosso objetivo é fortalecer a Europa o mais rápido possível, para que alcancemos a independência dos EUA”. Ele também criticou a postura de Donald Trump, afirmando que “os americanos desta administração não se importam muito com o destino da Europa”.

A Alemanha evitou uma recessão em 2024, mas sua economia segue fragilizada, com grandes empresas como Volkswagen, Bosch e Ford anunciando cortes de milhares de empregos. Merz prometeu um governo forte, focado na recuperação econômica e na redução dos conflitos políticos que marcaram a coalizão anterior.

Recorde de participação nas eleições

As eleições alemãs registraram um comparecimento histórico de 83,5%, o maior em 40 anos. O Bundestag, parlamento alemão, possui 630 cadeiras, sendo necessárias 316 para uma maioria simples.

O CDU, partido da ex-chanceler Angela Merkel, foi o mais votado, alcançando 28,52% dos votos e garantindo 208 cadeiras. Seu líder, Friedrich Merz, descartou qualquer aliança com o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que ficou em segundo lugar.

O AfD obteve 20,8% dos votos, elegendo 152 parlamentares. Sua líder, Alice Weidel, defende que seu partido é um movimento libertário e conservador, e não racista. O AfD propôs a polêmica política de “remigração”, que inclui a deportação de imigrantes que cometeram crimes.

O SPD, do atual chanceler Olaf Scholz, sofreu uma grande derrota, perdendo 40% das cadeiras e caindo para o terceiro lugar, com 16,41% dos votos e 120 cadeiras. O Partido Verde também reduziu sua presença, elegendo 85 parlamentares(11,61%).

O partido de esquerda Die Linke teve uma reviravolta com sua estratégia digital. A jovem parlamentar Heidi Reichinnek, co-presidente do partido, viralizou no TikTok com um discurso contra o AfD, alcançando sete milhões de visualizações. Isso ajudou o partido a conquistar 9% dos votos e 64 cadeiras.

Enquanto isso, a polêmica líder da esquerda, Sahra Wagenknecht, fundou o partido Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), que ficou abaixo da cláusula de barreira, atingindo apenas 4,97% dos votos.

Líderes mundiais cumprimentam Merz

O presidente da França, Emmanuel Macron, felicitou Merz pela vitória e expressou o desejo de trabalhar juntos por “uma Europa forte e soberana”. O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, destacou a intenção de aprofundar a cooperação em segurança e crescimento econômico.

O presidente espanhol, Pedro Sánchez, parabenizou Merz e defendeu que “uma Europa forte requer trabalho conjunto para enfrentar desafios comuns, como competitividade, transição ecológica e digital”.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, destacou a importância da parceria com a Alemanha para trazer “paz real” à Europa e impulsionar reformas.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, também cumprimentou Merz, reforçando que a Alemanha é “um país amigo e parceiro crucial do Brasil na defesa da democracia e do multilateralismo”. Lula ressaltou o histórico de colaboração entre os dois países e expressou esperança em aprofundar relações para fortalecer a inserção internacional de ambas as nações.

A formação do novo governo alemão será decisiva para os rumos do país e da União Europeia nos próximos anos, especialmente diante do crescimento da extrema-direita e das tensões geopolíticas globais.