Pastor Sergio Dusilek: ‘A sociedade está tensionando do conservadorismo para o radicalismo da extrema direita’
Dusilek alerta para os riscos do avanço de pautas como o homeschooling e a imposição de literatura cristã nas escolas, temas centrais do Congresso do Legado Cristão. Apesar das preocupações, Dusilek oferece uma visão otimista, lembrando que, na narrativa bíblica, sempre há um remanescente que renova a esperança em tempos desafiadores
O pastor progressista Sergio Dusilek, uma das lideranças da Igreja Batista Marapendi, no Rio de Janeiro, levanta questões importantes sobre os debates do Congresso do Legado Cristão. O evento, realizado no Memorial da América Latina, em São Paulo, abordou temas como “o papel da família, a essência da educação e o significado da liberdade sob a perspectiva cristã”. Durante dois dias, centenas de participantes, entre autoridades, empreendedores e cidadãos, discutiram como essas questões moldam a atuação do cristianismo na sociedade.
Organizado com o propósito de “avançar o reino” e com entrada gratuita, o congresso contou com o apoio de parceiros como a Câmara Municipal de São Paulo, Faedusp (Famílias Educadoras do Estado de São Paulo), SIMEDUC (Homeschooling Sem Medo) e o Ministério Ler.
Para Dusilek, o avanço de pautas como o homeschooling e a introdução de uma “literatura cristã” nas escolas são os maiores motivos de preocupação. “O papel da mãe no homeschooling e a ideia de impor uma literatura cristã nas escolas são questões que precisam ser amplamente debatidas”, afirma o pastor, que é pós-graduado em História da Filosofia e possui Mestrado e Doutorado em Ciência da Religião.
Apesar das preocupações, Dusilek mantém uma mensagem de esperança. Para ele, “na narrativa bíblica, sempre há um remanescente que faz florescer um novo tempo”.
Confira a entrevista completa do Pastor Sergio Dusilek à Focus, onde o entrevistado aborda suas perspectivas sobre os desafios e possibilidades do cristianismo.
Vimos uma comitiva de deputados comparecendo à posse de Donald Trump, gostaria de iniciar essa conversa pela “representação da Bíblia na Câmara” e em outros espaços de poder, porque essa contaminação da extrema-direita?
Bom, eu acho que isso é fruto de um projeto de poder. O que estamos vendo é a expansão de um ideário e de uma ideologia que alguns chamam de nacionalismo cristão, outros resgatam a ideia de fascismo, outros de populismo cristão. Seja qual for a nomenclatura usada, esse formato ideológico está fazendo uma semeadura e, ao mesmo tempo, tendo algum tipo de colheita. Eles surfam numa espécie de desencanto com a democracia, que (Gilles) Lipovetsky já havia mencionado, oferecendo soluções simplistas para problemas macro, o que sabemos que não se aplica. Mas essa tentativa de colocar soluções simplistas tem um grande apelo e, ao mesmo tempo, um grau de radicalização, deslocando os problemas para aquilo que não é problema. Então, se há uma questão de empregabilidade nos Estados Unidos, por exemplo, isso não se deve aos imigrantes, que normalmente estão em subempregos. Quando Trump diz que aqueles que migram são criminosos, os Estados Unidos não vão ser a grande cadeia dos presidiários da América Latina; ao jogar o foco nisso, desvia uma questão de um problema estrutural na economia americana, atribuindo esse problema a quem não tem culpa. Mas a extrema direita faz isso porque tem um certo apelo e, logicamente, quando você localiza um inimigo, sociologicamente, regimenta uma turba para lutar contra esse inimigo. Essa ideia de fulanizar os inimigos é uma forma de ganhar apoio e também fomenta esse tipo de luta. E aí, o que acontece? No Brasil, temos esse eco americano, especialmente pela vinculação dos evangélicos do Brasil com os Estados Unidos. Boa parte do que aconteceu e acontece aqui no meio evangélico é um eco dos Estados Unidos. Por exemplo, temos algo chamado Vento de Doutrina, que é uma prática sem lastro na Bíblia, mas feita em algum lugar. Não sei se você sabia disso, mas no início dos anos 90, no Brasil, teve o vento de doutrina chamado Dente de Ouro, onde nos cultos, o pastor orava e dizia para abrir a boca e ver se aparece um dente de ouro. É nesse nível de ridículo, porque o Vento de Doutrina é ridículo. E as pessoas seguiam isso. Onde começa isso? Nos Estados Unidos. A teologia da prosperidade, onde começa? Nos Estados Unidos e ecoa aqui. Essa caixa de eco e ressonância do movimento evangélico brasileiro em relação aos Estados Unidos faz com que iniciativas de lá acabem refletindo aqui. A diferença é que, por conta de outros interesses, como vimos na Bolívia com a ação do Elon Musk, essa abrangência ganhou mais espaço em outros países da América Latina. Notadamente, são países onde também está crescendo o número de evangélicos. Então, novamente, é a forma ideal para a entrada.
E, além de ser eco, tem um investimento estadunidense, investimento financeiro, nessa promoção de uma pregação fundamentalista. Então, isso também é um reforço a esse processo todo. Por isso que a sociedade está tensionando do conservadorismo para o radicalismo da extrema direita, ou do conservadorismo para o fundamentalismo. Todo fundamentalista é conservador, mas nem todo conservador é fundamentalista. Sim. Então, a sociedade tende a estar sendo tensionada e tracionada para o radicalismo por conta desse tipo de investimento que aumentou muito aqui no país, no Brasil especificamente, a partir dos anos 2000. Sempre teve, mas a partir dos anos 2000 foi uma coisa mais avassaladora. E hoje está espraiado. E essa turma aí incorpora o discurso, mas eles não incorporam a prática. Sim. Não passariam no teste como um evangélico clássico, porque o modo de vida deles desdiz o que é um evangélico. Por exemplo, o senador Flávio Bolsonaro, ele é um cara que frequenta o Sambódromo no carnaval. Um evangélico clássico, uma igreja evangélica, uma Assembleia de Deus, por exemplo, uma igreja mais tradicional, não aceita isso. Então, ele está lá com aquele cigarro eletrônico, dando baforada em pleno carnaval carioca. As pessoas, os evangélicos, não aceitam isso. Então, veja, mas ele incorpora o discurso, ele batiza, mostra o batismo, publiciza o batismo, assim como os demais para criar um elo de identificação, ainda que não seja um elo de alma, é só um elo estético ou um elo da foto, um elo instangramável, vamos dizer assim.
Sobre o Congresso do Legado Cristão que aconteceu no Memorial da América Latina, um encontro de evangélicos sem taxa de inscrição, chama a atenção os temas do congresso “família, educação e liberdade”. Qual é o paralelo que a gente poderia fazer do com o “tradição, família e propriedade”? Como o senhor vê esse evento, e principalmente as ideias que eles estão trazendo com relação ao homeschooling?
Esse evento é assustador, não é? Mas ele não é o pior deles, dentro do que está acontecendo. O nosso problema hoje, eu tenho falado isso e vou repetir, não se trata de um cupinzeiro, é de um cupinzal. Eles se conectam entre si. Então, você tem, por exemplo, ali, entre os preletores, gente que faz parte da Coalizão Conservadora Evangélica, que é uma organização que procura articular a propagação do fundamentalismo evangélico no Brasil. Você tem ali gente que participa de eventos e coordena eventos da chamada Editora Fiel, que só publica tradução e autores nacionais, poucos, mas a maior parte é tradução de autores fundamentalistas, e que realiza congressos para pastores que vão aos seus encontros para ouvir doutrinação fundamentalista. Então, assim, você tem ali, por exemplo, uma preletora nesse Legado Cristão que é esse congresso de São Paulo, que ela tem uma ligação com um movimento muito grande entre os jovens chamado Descende, que reúne, veja, eles fizeram três encontros, um em São Paulo, se não me engano, no Morumbi, no estádio de futebol, lotado. Outro encontro foi feito, acho que aqui no Rio de Janeiro, me parece que foi no Maracanã, e o terceiro no Mané Garrincha, em Brasília. E quem são as pessoas que falam desses encontros? Quem falou, quem tem a palavra foram esses pregadores fundamentalistas, os líderes do encontro, Bolsonaro, Silas Malafaia e mais alguns outros. Nós temos aí nesse encontro do Legado, um procurador da república. Nós tivemos um encontro em 2022, que é uma associação de empresários evangélicos, de evangelização de empresários evangélicos. Em 2022, o tema era domínio do sistema. E entre os pregadores estava o procurador-geral da república, Augusto Aras, estava a senadora Damares, ou a candidata ao senado Damares, a ministra Damares, no caso, e mais algumas figuras da república. Então, veja, eles transitam, eles estão articulados. Não existe o legado cristão, é um segmento, é uma reta sozinha, para uma linha. Aí você tem a Fiel fazendo uma outra reta para outra linha, e todas as vezes apontando para o fundamentalismo. Eles estão articulados. Então, é o cumpisal, não o cumpiseiro, que é o mais grave.
Quando falamos de educação oferecida pelos pais, estamos falando de sobrecarregar as mães, né?
Pelo menos duas das organizações que apoiam o congresso são de homeschooling. E um dos temas que eles trouxeram de 2018 para cá foi o homeschooling, o papel da mãe do homeschooling. Meu Deus, são movimentos que são preocupantes. A segunda coisa que preocupa é a ideia de literatura cristã nas escolas. Eles querem colocar uma literatura cristã… E veja, tem autores cristãos que são muito bons. Mas não é porque ele é cristão que tem que ser lido. Ele tem que ser bom para ser lido. Se tiver um autor cristão na qualidade de Machado de Assis, merece ser lido. Mas não é porque ele é cristão que tem que ser lido.
É aquela história, não é por que é mulher que precisa ocupar um espaço. Eu preferia não ter a Damares como senadora, por exemplo.
É mais ou menos isso, entendeu? Eles estão forçando esse tipo de coisa através de pressão nos conselhos de educação dos municípios. A ideia é articular os pais crentes para poder fazer com que as escolas adotem literatura cristã, reconhecidamente cristã. Há não muito tempo atrás, mais ou menos um ano, um ano e meio atrás, um cartunista chamado Guilherme Infante, ele faz O Capirotinho, um rapaz muito talentoso e o cartoon dele é muito engraçado, muito bem feito. E o Capirotinho foi chamado para uma prefeitura de Minas Gerais, no interior de Minas, para ensinar, dar uma oficina de HQs, de como fazer os desenhos, como é que ele faz, como as crianças podiam desenvolver isso. Os pais souberam que era o cartoonista do Capirotinho que tem uma mensagem cristã, porque O Capirotinho se revolta. Não é contra as pautas… O Capirotinho, por vezes, tem a fala de Jesus espelhada. Mas sim, os pais se revoltaram porque era o Capirotinho, porque iria satanizar as crianças. Fizeram um movimento, pressionaram a Secretaria da Educação daquela cidade, no interior de Minas, e o cara estava em um ônibus indo para a cidade e veio o recado dizendo que eles não iam mais contar com ele.
Sim. Então, essa pressão e articulação já estão acontecendo, inclusive em relação à literatura cristã. Outra questão é a ideia de abrir escolas. Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, há uma profusão de Christian Schools com ensino bilíngue. As escolas surgem do nada, aparecem com nomes em inglês e começam a funcionar. A grande pergunta que se coloca é que a propaganda afirma: “Nós vamos proporcionar um ensino cristão e não vamos deixar que seu filho seja atraído pela ideologia esquerdista.” Aqui, seu filho não será cooptado. Esses movimentos estão agora criando escolas nesse formato, em parceria com igrejas. Muitas igrejas evangélicas têm uma estrutura educacional, com salas de apoio para a escola dominical, entre outras atividades. Estão agora abrindo escolas nas igrejas e cobrando por isso. Talvez caiba uma ação governamental, porque a isenção de IPTU é concedida para fins religiosos, não comerciais. É importante verificar se há possibilidade de ação nesse aspecto. A ideia da teologia do domínio é usar a democracia enquanto preparam o campo, para que a próxima geração se acostume com a ideia de teocracia. Quando forem maioria, elegerão um governante teocrático e mudarão a situação, instaurando uma ditadura teocrática.
Como o senhor avalia a disseminação das fake news nas bases da igreja, citando como exemplo o caso do deputado Nícolas Ferreira, que é um evangélico fervoroso.
Veja, hoje em dia, muitos pastores têm grupos da igreja no WhatsApp ou Telegram, permitindo acesso direto às pessoas da congregação. Isso facilita, por exemplo, que um pastor envie uma fake news aos membros da igreja, que pode ser rapidamente disseminada. As mensagens podem vir com pedidos para repassá-las a mais pessoas, incluindo familiares e amigos, espalhando-se sem controle. Nesse cenário, existe outra organização, a Global Kingdom Partnership Network (GKPN), que tem uma atuação influente no Brasil. Essa organização promoveu reuniões em 2018 e 2022, nas quais decidiu apoiar Bolsonaro. A GKPN reúne líderes de megachurches, cada um com um grande número de membros, que podem variar de 3 mil a até 50 mil pessoas. Esses líderes coordenam ações conjuntas. Por exemplo, mesmo se apenas considerássemos os seguidores dessas figuras, facilmente alcançaremos entre 25 e 30 milhões de pessoas.
Essas pessoas se reúnem e coordenam ações de forma organizada. Um líder de um segmento específico do movimento evangélico planeja uma ação e a dissemina para outros líderes do seu grupo. Esses líderes, por sua vez, passam a informação para seus subordinados, até chegar ao pastor da igreja, que repassa aos membros. Parece evidente que este movimento facilita a propagação de fake news. Também parece claro que qualquer ação do governo sofre uma espécie de “batismo” prévio, impedindo que receba o devido crédito. É comum que um pastor diga: “Olha, que coisa interessante. Temos um governante ligado ao diabo, mas Deus, que é maior, faz com que ele abençoe o povo de Deus.” Assim, quem recebe o crédito? Não é o governante, não é o Lula, mas sim uma intervenção divina. Pode chover dinheiro, porque é batizado. Se chover dinheiro, falam assim, olha, Deus está fazendo chover dinheiro. Não tem jeito. Então, eu acho que o sistema de propagação das fake news é só mais um elemento que compõe esse processo, logicamente, um elemento que faz, que provoca a septicemia no sistema todo.
Olha só, eu gostaria de destacar alguns pontos importantes sobre o que está por trás do Legado Cristão. Eles dizem lá que tem algumas esferas da soberania de Deus que agem na sociedade. O Estado, a família. Mas, pela primeira vez, eu vejo a figura do mercado. Isso é gravíssimo. Quem é o mercado? O que é o mercado? Essa visão de que há um espírito mercado que se autorregula, essa visão ingênua, quase que uma reprodução, a crítica de Adam Smith, isso não se sustenta. Nem como algo que tem uma participação a partir da soberania de Deus. Então, qualquer coisa que atinja o mercado atinge a Deus e o desejo de Deus. Então, se um governo de esquerda, ele automaticamente implica em uma ação maior do Estado e um envolvimento maior do Estado nas políticas públicas, o que acontece? Esse governo, ele é demonizado na sua raiz. Porque ele atenta contra a vontade de Deus que quer que o mercado se regule. Outra coisa que é impressionante: os compromissos que eles têm e que eles leram duas vezes, nas duas manhãs, cantando o hino e lendo o compromisso. E aí, lê o compromisso: Irmão, votar irmão. Formar lideranças. Ocupar postos-chave, destaquei só quatro, mas acho que são 10 ou 12. E manter alianças nacionais e internacionais pela liberdade.
De 2018 pra cá, chegou a Capital Ministres, que é uma organização fundamentalista. A ação dela é lobby no Congresso Nacional. Ela reúne os deputados evangélicos e outros pressionando para votar nas pautas que eles acham importantes. Dentre essas pautas, logicamente, aquelas contra o aborto, contra o reconhecimento de diferentes tipos de gênero, no seu masculino e feminino, e por aí vai. Chegou a GKPN com força, que nós já falamos. Aumentou a incidência dos congressos fundamentais que são mais da infiel, vamos dizer assim, clínicas de pregação expositiva. Há missionários, que estão indo no interior, no rincão do país, oferecendo aos pastores “olha, nós estamos aqui pra atualizar, dar uma oficina, um workshop de atualização de homilética, para você pregar melhor”. E, na verdade, o que eles estão fazendo é uma doutrinação fundamentalista. Recentemente um missionário norte-americano foi dar essa clínica para pastores do Pará e Amapá. Há cinco anos atrás, um missionário foi dar essa clínica, um norte-americano, no interior da Bahia. Nós temos aí outro problema, que são os cursos de teologia, que os cursos de teologia confessionais, ou seja, que estão debaixo de uma denominação evangélica, invariavelmente, com uma exceção de um, os demais estão todos debaixo de uma teologia fundamentalista. Isso quer dizer, que daqui a 10, 12 anos, não vai ter Sérgio, nem José Barbosa Júnior, nem Ariovaldo Ramos, não vai ter Uziel, não vai ter Edivar Gimenez, não vai ter Antônio Carlos Costa, não vai ter um pastor de centro-esquerda, quanto mais esquerda. E sabe o que acontece? Os cursos estão tendo reconhecimento pelo MEC. E ampliando as vagas. E não só isso.
O MEC está autorizando outros cursos nesses centros confessionais, como o curso de História. Então, eu quero dizer para vocês, da seriedade desse tema, o que é que ele provoca essas muitas ações, esse cupinzeiro, ou melhor, esse cupinzal? São vários cupinzeiros, vários, o que eles estão promovendo no meio evangélico? Uma blindagem mental, uma promoção de uma nova narrativa que criminaliza e demoniza o pensamento de esquerda. Eles estão corroendo os fundamentos da democracia por dentro. Estão promovendo uma semeadura, porque eles querem um dia ser maioria, não para o bem da democracia, não para fazer uma influência positiva no país, mas para implantar uma teocracia, uma teocracia da teologia do domínio, fruto da teologia do domínio. Nem Tarcísio, nem Bolsonaro, nem Ricardo Nunes, nem Caiado, nenhum desses caras, eles vão ser banidos. Eles estão achando que vão ocupar, eles vão ser banidos. Até hoje o domínio nos Estados Unidos, um dos seus propagadores, que era genro do idealista, o propagador foi o Gary North, ele e outros colegas dele fazem uma crítica ao Jerry Fowle, que era um pastor batista fundamentalista, que movimentou os evangélicos pela criação da maioria moral nos Estados Unidos, para votar em Reagan e vencer a eleição contra o Jimmy Carter. Esses caras, o que eles estão falando é o seguinte: o Jerry Fowle não foi suficiente, ele não foi até onde ele tinha que ir. Eles atacam o Jerry Fowle, que era a coisa mais extremista que existia. Então, não vai sobrar ninguém. Essa é a questão.
Para a gente não acabar muito para baixo, Meu Deus do céu, será que o medo está tomando conta do mundo hoje?
Bom, a única coisa que eu posso dizer é que normalmente sempre há um remanescente, pelo menos essa história, da narrativa bíblica, sempre há um remanescente que faz florescer um novo tempo. Eu só acho que a gente não precisava chegar no remanescente, não é? Eu acho que nós temos hoje os instrumentos, ou devíamos buscar ter os instrumentos, para evitar que chegássemos ao ponto de ser o remanescente e começar um processo lento de reconstrução. Eu acredito que a coisa tem que começar agora, nós temos tudo para fazer e evitar essa ação, esse, vamos dizer assim, esse prognóstico aterrador. Nós temos tudo. O governo está com o PT, nós temos tudo para poder evitar isso, usar os mecanismos legais para evitar chegar nesse ponto. A questão toda é que precisa enfrentar isso de frente, assim, de peito aberto, e criar, talvez, usando um pouco o Vladimir Safatle, a ideia de polarizar. Nós estamos condescendendo demais. Vamos polarizar, para que haja uma polarização. Talvez esse seja um caminho para a gente. Eu acredito que, em termos de debate, logicamente que o Henrique Vieira sozinho, por exemplo, engole todos esses deputados de direita, uma Erika Hilton engole todos eles também, então, eu acredito que na capacidade de articulação de ideias, de oratória, e também de sustentação daquilo que é digno, do que é verdadeiro, não tem espaço para essa turma toda que está aí. Agora, falta encarar isso com um pouco mais de propriedade, para que não seja necessário haver um remanescente para recomeçar tudo de novo.