O desafio do PT diante da realidade brasileira, por Brenno Almeida
Um seminário para repensar estratégias, fortalecer conexões e dialogar com os novos tempos
Com a experiência de governar o país pela quinta vez, acumulando vitórias eleitorais significativas em diversas regiões do Brasil e participando ativamente do cotidiano político nacional por mais de quatro décadas, o PT compreende que a sociedade brasileira tem se movido em direção a novos entendimentos sobre elementos estruturantes da vida em comunidade e da organização social.
Reconhecendo os desafios atuais, a Fundação Perseu Abramo preparou o Seminário “A Realidade Brasileira e os Desafios do Partido dos Trabalhadores”, concebido como parte de um processo contínuo que terá desdobramentos ao longo do primeiro semestre do próximo ano. Estruturados em “ondas”, essa primeira etapa se dedicou a três elementos estratégicos para a compreensão do Brasil contemporâneo: os desafios do PT diante da realidade brasileira; o novo mundo do trabalho; comunicação e as novas formas de sociabilidade.
Essas atividades tiveram como objetivo apresentar a iniciativa proposta pela Direção Nacional e mobilizar nossa base militante, ampliando as discussões sobre temas essenciais, na intenção de atualizar a nossa leitura da realidade brasileira. Esse esforço reflete diretamente no debate interno do PT, especialmente no contexto do processo de eleições diretas que renovará a direção do partido em 2025.
Em 5 de novembro, em formato híbrido, o debate sobre o desafio do PT diante da realidade brasileira deu início a essa sequência de encontros, abordando, entre outros assuntos, a importância da renovação de quadros na direção do Partido, a centralidade do presidente Lula na articulação com as forças políticas atuais, a influência das pautas morais no debate político, a relação com as classes médias e a importância da escuta das demandas da população periférica pelo Partido.
Com intensa participação do público, a repercussão desses temas evidenciou a necessidade urgente de aprimorar as políticas públicas que se contrapõem ao avanço do programa neoliberal, que visa restringir o papel do Estado brasileiro na promoção de direitos e no combate às desigualdades. Para isso, é fundamental revitalizar as conexões do PT e seus quadros com setores da sociedade que historicamente estão afinados com o partido.
Uma semana depois, no dia 12 de novembro, em meio ao debate sobre a redução da jornada de trabalho 6×1, recebemos um painel sobre o novo mundo do trabalho, que ampliou as discussões sobre este tema atual e trouxe relatos contundentes sobre a rotina dos trabalhadores engajados em atividades gerenciadas por aplicativos. Os caminhos que a nova classe trabalhadora tem seguido diferem estruturalmente dos modelos existentes na época de fundação do PT e no desenvolvimento de suas teses e programas ao longo dos anos.
Em um cenário cada vez mais degradante para os trabalhadores, com alta rotatividade, precarização, informalidade e uma frequente opção pelo empreendedorismo, revela-se a urgência de atualizar a interpretação dessa realidade, sob o risco de secundarizarmos o tema do trabalho no debate central do PT, negando os propósitos estruturantes da fundação do Partido.
Encerrando o ciclo proposto, o encontro realizado no dia 26 de novembro abordou a comunicação e as novas formas de sociabilidade. Com a recorrente queixa de que a esquerda precisa dominar a lógica das redes para criar estratégias de comunicação, reunimos especialistas que discutiram desde a subjetividade do sujeito contemporâneo, em que a luta coletiva dá espaço à atuação excessivamente personalista, até a necessidade de organização de uma militância com perfil ciberativista para a disputa da arena digital.
O trabalho que temos com relação a essa temática não se resume apenas ao fortalecimento da presença do PT, seus quadros ou do governo federal nas redes sociais, mas ao fortalecimento da identidade do programa do PT com a sociedade. É urgente uma mudança na lógica entre verticalidade e descentralização da comunicação, ajustando a forma de pensar político. Sem isso, não há como potencializar ferramentas que se atualizam com um alcance cada vez maior e mais próximo das pessoas a cada segundo.
Ao fim desta primeira etapa, é possível identificar um ponto convergente: a ideia de que causas comuns sejam coletivamente fortalecidas e refletidas em bandeiras defendidas pelo conjunto da nossa militância, dirigentes e parlamentares, que traduzam a essência do nosso programa e façam parte do debate organizativo do partido. Há um profundo reconhecimento pelas contribuições dadas ao fortalecimento do campo democrático e popular ao longo dessas décadas, mas também uma força significativa que necessita de uma organização sensível aos novos desafios impostos à sociedade brasileira. O desafio posto é mais um entre tantos que superamos com trabalho e portas abertas para novas ideias que, embora reflitam diferenças, contribuem para a construção de caminhos possíveis.