Gigante político: diplomacia brasileira lidera luta contra a fome no G20
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para o seu terceiro mandato, o Brasil testemunha uma mudança dramática em sua política externa, por Pedro Henrichs
A cúpula do G20 de 2024, que reuniu líderes de mais de 82 países, marcou um momento decisivo para a diplomacia brasileira, evidenciando a transformação radical na abordagem política entre os governos de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Este encontro não apenas destacou o Brasil como um gigante político no cenário internacional, mas também reafirmou o compromisso do país na luta global contra a fome e a pobreza.
O momento marca o início de uma superação da política recente, o período do clã Bolsonaro no comando do país, com uma diplomacia restrita. Durante a presidência de Jair Bolsonaro, a diplomacia brasileira caracterizou-se por uma abordagem mais restrita e ideologicamente retrógrada.
Os encontros bilaterais de seu governo focaram-se principalmente em líderes conservadores, com ênfase em temas como segurança nacional e combate ao que o governo chamava de “ameaça comunista”. Esta estratégia, embora tenha fortalecido laços com alguns países específicos, como os Estados Unidos sob a administração Trump, resultou em um distanciamento significativo de parceiros tradicionais e de nações em desenvolvimento.
O filósofo Jean-Jacques Rousseau uma vez observou que “o mais forte nunca é suficientemente forte para ser sempre o senhor, se não transformar sua força em direito e a obediência em dever.” A abordagem de Bolsonaro, ao priorizar alianças baseadas em afinidades ideológicas em detrimento de interesses nacionais mais amplos, limitou a capacidade do Brasil de exercer influência em discussões globais cruciais.
Com Lula, diplomacia inclusiva e humanitária
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para o seu terceiro mandato, o Brasil testemunha uma mudança dramática em sua política externa. A participação de Lula no G20 foi marcada por uma série de encontros bilaterais que abrange um espectro muito mais amplo de líderes mundiais, desde potências tradicionais até nações em desenvolvimento. Esta abordagem inclusiva não apenas reposicionou o Brasil como um mediador global, mas também colocou em primeiro plano questões humanitárias urgentes, com destaque para o combate à fome e à pobreza.
O lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza durante o G20 foi um marco significativo. Lula, em seu discurso, enfatizou: “Não podemos aceitar como normal que milhões de pessoas ao redor do mundo não tenham o que comer, enquanto uma minoria acumula riquezas obscenas. A luta contra a fome é a guerra mais urgente que precisamos travar.” Esta declaração não apenas ressoou entre os líderes presentes, mas também estabeleceu o tom para uma nova era de diplomacia brasileira centrada em questões humanitárias.
O ex-chanceler Celso Amorim, figura-chave na articulação desta nova abordagem diplomática, comentou: “A diplomacia eficaz não se trata apenas de negociar acordos, mas de construir pontes de entendimento e compaixão entre as nações”. Sua experiência tem sido fundamental em meio às complexidades das relações internacionais e o desafio de posicionar o Brasil como nação líder global em questões humanitárias.
A questão israelense e a busca pela paz
Um dos temas mais delicados abordados durante a cúpula foi o conflito entre Israel e Palestina. O Brasil, sob a liderança de Lula, adotou uma postura firme contra a violência indiscriminada, defendendo uma solução pacífica que respeite os direitos humanos de ambos os lados. Esta posição contrasta fortemente com a de Israel, que se viu isolado em sua abordagem militar.
Lula declarou que “não podemos fechar os olhos para o sofrimento do povo palestino, assim como não podemos ignorar o direito de Israel à existência pacífica. A paz só será alcançada através do diálogo e do respeito mútuo”.
Esta declaração não apenas reafirmou o compromisso do Brasil com a paz mundial, mas também destacou o país como uma voz de razão e humanidade em um conflito complexo e prolongado.
Fórum Social do G20: amplificando vozes da sociedade civil
Paralelamente à cúpula oficial, o Fórum Social do G20 proporcionou um espaço vital para a participação da sociedade civil nas discussões globais. Este evento, fortemente apoiado pela delegação brasileira, reuniu representantes de ONGs, movimentos sociais e ativistas de todo o mundo. Temas como desigualdade econômica, mudanças climáticas e direitos humanos foram debatidos extensivamente, com propostas concretas sendo apresentadas aos líderes mundiais.
A socióloga brasileira Maria da Glória Gohn comentou sobre a importância deste fórum, pontuando que “a participação da sociedade civil em eventos como o G20 é fundamental para garantir que as vozes dos mais vulneráveis sejam ouvidas nas mais altas esferas de decisão global. O Brasil, ao apoiar ativamente este espaço, demonstra um compromisso real com a democracia participativa em nível internacional.”
Resultados concretos e compromissos futuros
Os esforços diplomáticos do Brasil durante o G20 resultaram em uma série de acordos e compromissos concretos:
1. Aliança Global Contra a Fome: Mais de 82 países se comprometeram a aumentar significativamente seus investimentos em programas de segurança alimentar e desenvolvimento agrícola sustentável.
2. Fundo de Emergência Climática: Foi estabelecido um fundo de US$ 100 bilhões para apoiar países em desenvolvimento na adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
3. Reforma do Sistema Financeiro Global: Os líderes concordaram em iniciar discussões sobre uma reforma abrangente das instituições financeiras internacionais, visando uma representação mais equitativa dos países em desenvolvimento.
4. Compromisso com a Paz: Foi assinada uma declaração conjunta reafirmando o compromisso com soluções pacíficas para conflitos globais, com menção específica à situação no Oriente Médio.
O Brasil como ponte entre Norte e Sul Global
A atuação do Brasil no G20 também destacou o papel do país como uma ponte crucial entre o Norte e o Sul global. Lula enfatizou a importância de considerar as perspectivas e necessidades dos países em desenvolvimento nas decisões globais. “Não podemos ter um mundo justo e equilibrado se as vozes do Sul continuarem sendo ignoradas,” declarou o presidente brasileiro.
Esta posição foi elogiada por líderes de nações em desenvolvimento. O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, comentou: “O Brasil, sob a liderança de Lula, está trazendo uma perspectiva vital para as discussões globais. Sua capacidade de dialogar tanto com as potências tradicionais quanto com os países em desenvolvimento é um ativo inestimável para a comunidade internacional.”
Desafios futuros e o papel contínuo do Brasil
Apesar dos sucessos alcançados, o caminho à frente permanece desafiador. A implementação efetiva dos acordos firmados durante o G20 exigirá um esforço contínuo e coordenado. O Brasil, tendo se estabelecido como um líder na luta contra a fome e na promoção do desenvolvimento sustentável, terá um papel crucial nos próximos anos.
O filósofo Bertrand Russell uma vez disse que “o único caminho para o progresso da humanidade é a cooperação.” O Brasil, através de sua diplomacia inclusiva e focada em questões humanitárias, está pavimentando este caminho. A tarefa agora é manter o momentum, transformando as promessas em ações concretas que beneficiem os mais vulneráveis ao redor do mundo.
Conclusão: um gigante político com uma missão humanitária
A participação do Brasil no G20 de 2023 marcou não apenas o retorno do país ao cenário internacional como um ator de peso, mas também estabeleceu uma nova direção para a diplomacia global. Ao colocar a luta contra a fome e a pobreza no centro das discussões internacionais, o Brasil reafirmou seu compromisso com um mundo mais justo e equitativo.
Como Lula concluiu em seu discurso final “o verdadeiro poder de uma nação não se mede pela força de suas armas, mas pela força de sua compaixão e solidariedade. O Brasil está determinado a liderar não através da dominação, mas através do exemplo e da cooperação.”
Esta abordagem não apenas fortalece a posição do Brasil como um gigante político no cenário mundial, mas também estabelece um novo paradigma para as relações internacionais – um paradigma baseado na empatia, na cooperação e na busca incansável por justiça social. O desafio agora é transformar essas palavras inspiradoras em ações concretas que possam mudar a vida de milhões ao redor do globo.
Pedro Henrichs é gestor público, ex-presidente do Fórum de Juventude dos BRICS. É observador eleitoral há 14 anos em 18 países na América, 4 países na Europa, 1 na África e 3 na Ásia.