Existe a possibilidade de se consolidar um bloco político democrático, que ao passo que garanta o funcionamento das instituições, atue no sentido do crescimento econômico, da melhoria das políticas públicas e da distribuição de renda? 

O poder da máquina pública e o entendimento do cotidiano do povo, por Alberto Cantalice

Reduzir os resultados das disputas municipais de 2024 a uma polarização tal qual a ocorrida nas eleições de 2022, além de demonstrar um descolamento do dia a dia da população, remete a uma espécie de sociologismo de botequim. Onde tudo se fala e se discute sem maiores consequências. 

Para começar, temos que reconhecer que o voto para vereador ou vereadora fora dos grandes centros é um voto “pessoalizado”. 

Nos grandes conglomerados urbanos, a questão do bairro e das comunidades pesam efetivamente: as pequenas melhorias, o empreguismo e o peso do dinheiro para a contratação de milhares de cabos eleitorais ao arrepio da legislação. O voto de opinião existe. Cada vez mais motivados por pautas de identidade e pela rejeição delas – vide a eleição de influencers da esquerda e da direita. 

Para as prefeituras não foi muito diferente: apesar do voto não ser pessoalizado ou partidarizado (em sua imensa maioria), pesou a realização de feitos administrativos, muitos deles levados pelas Emendas PIX do Orçamento Secreto. 

Apostar na polarização não deu o resultado esperado, dado que os grandes vencedores do pleito são partidos vinculados ao Centro: uns mais próximos da base de sustentação de Lula e outros, na oposição. 

É ilusório e irresponsável avaliar esse pleito como vitória ou derrota para o PT e os partidos da esquerda e centro esquerda. A musculatura da disputa de 2026 passa por uma série de outras variáveis. 

Existe a possibilidade de se consolidar um bloco político democrático, que ao passo que garanta o funcionamento das instituições, atue no sentido do crescimento econômico, da melhoria das políticas públicas e da distribuição de renda? 

No meu entendimento, sim.   

Além disso, precisamos estar conectados ao cotidiano das pessoas. Medir o pulso das necessidades e anseios da população. E isso não é novo. No início da década, o filósofo e crítico marxista Georg Lukács, avaliava que um dos grandes erros da burocratização do socialismo real, era a não investigação do que ele chamou de cotidianidade das pessoas. 

Hoje em dia, há várias formas de acompanhar os sentimentos e os anseios da população. Além das ruas, dos bairros e das redes.