Indústria brasileira avança e surpreende no cenário global
País alcança 40ª lugar entre 116 nações, puxado pela indústria de bens duráveis
Após anos de desafios, a indústria de transformação brasileira começa a dar sinais consistentes de recuperação. Segundo relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o Brasil subiu 30 posições no ranking mundial de crescimento da produção industrial, elaborado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). Agora, o país ocupa a 40ª posição entre 116 nações, uma melhora expressiva em relação ao 70º lugar registrado em 2023.
No segundo trimestre de 2024, a produção industrial brasileira cresceu 2,9% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse desempenho coloca o Brasil acima da média global, que foi de 2,0% no acumulado do primeiro semestre, destacando uma recuperação que parece finalmente ter encontrado tração.
Economistas apontam que o avanço é reflexo de uma combinação de fatores econômicos e políticos. “A indústria de bens duráveis é a principal responsável por esse dinamismo.
Além disso, há fatores como a criação de empregos com melhores salários, o aumento do rendimento real, a acomodação da inflação e programas públicos como o reajuste do salário-mínimo e a ampliação do Bolsa Família”, explicou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, ao portal 247.
O bom desempenho da indústria brasileira contrasta com os números negativos de outros países da América Latina, como México (-1%), Chile (-0,6%), Colômbia (-3%) e Argentina, que apresentou uma queda de 17,1%, a segunda pior no ranking, atrás apenas da Palestina, com retração de 28,5%. Em termos globais, o Brasil também superou potências como Estados Unidos (-0,1%), Reino Unido (-0,5%) e França (-1,5%).
Selic e políticas públicas favorecem recuperação
Um dos principais motores desse crescimento foi o ciclo de queda na taxa básica de juros (Selic). A partir de agosto de 2023, a Selic passou de 13,75% para 13,25%, e ao final de maio de 2024, estava em 10,50%. Essa redução facilitou o crédito e impulsionou tanto o consumo quanto a produção industrial. Embora a taxa tenha subido para 10,75% em setembro, esse aumento não afetou o período analisado e não diminuiu o impacto positivo acumulado nos trimestres anteriores.
Além dos juros mais baixos, outras políticas tiveram papel crucial na recuperação. Destacam-se iniciativas como a retomada dos financiamentos de longo prazo pelo BNDES e a redução de impostos sobre veículos. São medidas que ajudaram a injetar demanda na economia e fortaleceram o setor produtivo.
Com um crescimento acumulado de 2,3% no primeiro semestre de 2024, a indústria brasileira não apenas superou a média mundial, mas também deu sinais de que pode sustentar uma trajetória de recuperação mais ampla para a economia do país. O impacto desse desempenho positivo se espalha por outros setores, criando um efeito de “encadeamento” que pode favorecer a retomada econômica em diferentes frentes.
Essa guinada no setor industrial sugere que o país, após anos de instabilidade, está encontrando caminhos para um crescimento mais robusto e sustentável, com o fortalecimento do consumo e maior previsibilidade nas políticas econômicas.
Presidente e vice comemoram
Em mais uma dobradinha nas redes sociais, o presidente Lula e o vice e ministro do Desenvolvimento Geraldo Alckmin comemoraram o resultado. Lula escreveu primeiro, provocando quem ainda chama de acaso a sucessão de bons resultados que o país vem alcançando: “O Brasil não para de avançar, doutor Geraldo Alckmin (…) Alguns chamam de sorte, mas é só trabalho duro”.
O vice-presidente logo respondeu, reforçando a mensagem e afirmando que “a sorte segue a coragem desde que a coragem seja competente, presidente Lula”. Afinal, tantos bons resultados assim só podem ser fruto de um trabalho sério, dedicado e focado no crescimento do país e no bem da população.
Nova Indústria Brasil
O Nova Indústria Brasil (NIB), plano lançado pelo governo para fortalecer o setor, é apontado como um dos principais fatores por trás da retomada. Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi, destaca que, além da política industrial, a recuperação tem sido beneficiada pelo impacto defasado da redução da taxa Selic, iniciada em 2023, que facilitou o acesso ao crédito para a compra de bens duráveis. “É justamente essa indústria de bens duráveis que vem puxando o dinamismo industrial brasileiro neste ano”, observa.
Acredita: R$50 bi injetados
O presidente Lula anunciou na última sexta-feira (18), a expansão do programa de crédito Acredita, para beneficiar pequenos negócios interessados em exportar produtos. Durante evento em São Paulo, Lula assinou projeto de lei, a ser enviado ao Congresso Nacional, que permite a adoção de alíquotas diferenciadas por porte de empresa no regime que envolve o reembolso de valores tributários existentes na cadeia produtiva de empresas exportadoras. Nos próximos anos, o Acredita vai injetar R$ 50 bilhões na economia.
O Acredita foi lançado por Lula em 22 de abril, por meio de Medida Provisória, enviada ao Congresso. O foco da iniciativa é oferecer crédito com taxas de juros diferenciadas para quem mais precisa: os pequenos empreendedores. O programa cria linhas de crédito para públicos variados: dos usuários do CadÚnico, que terão acesso a microcrédito orientado a empresas de pequeno porte.
Saúde
O Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis) anunciou, na última semana, um investimento histórico de R$ 4,2 bilhões, como parte do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula, para a produção nacional na área da saúde.
O foco é atender as demandas estratégicas do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da modernização de laboratórios públicos, Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) e novas parcerias público-privadas.
O montante será distribuído em 42 projetos selecionados pelo Ministério da Saúde (MS), abrangendo 16 instituições até outubro de 2024. As iniciativas buscam fortalecer a produção de insumos essenciais, como vacinas, medicamentos para doenças negligenciadas, anticorpos monoclonais, radiofármacos e Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA), economizando na dependência monetária.
Hoje, o Brasil importa 90% da IFA e atende apenas 50% da demanda nacional de equipamentos médicos com produção local. A meta do governo é atingir 70% da produção nacional em 10 anos, com previsão de R$ 8,9 bilhões em investimentos até 2027.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou a importância dessa medida para o fortalecimento do SUS no Brasil.
“Este é um momento importante para a nova política industrial e para as metas do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, que se tornam realidade graças ao trabalho conjunto de todos os envolvidos”, afirmou.