País alcança 40ª lugar entre 116 nações, puxado pela indústria de bens duráveis

País alcança 40ª lugar entre 116 nações, puxado pela indústria de bens duráveis
Ricardo Stuckert

Após anos de desafios, a indústria de transformação brasileira começa a dar sinais consistentes de recuperação. Segundo relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o Brasil subiu 30 posições no ranking mundial de crescimento da produção industrial, elaborado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). Agora, o país ocupa a 40ª posição entre 116 nações, uma melhora expressiva em relação ao 70º lugar registrado em 2023.  

No segundo trimestre de 2024, a produção industrial brasileira cresceu 2,9% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse desempenho coloca o Brasil acima da média global, que foi de 2,0% no acumulado do primeiro semestre, destacando uma recuperação que parece finalmente ter encontrado tração.  

Economistas apontam que o avanço é reflexo de uma combinação de fatores econômicos e políticos. “A indústria de bens duráveis é a principal responsável por esse dinamismo. 

Além disso, há fatores como a criação de empregos com melhores salários, o aumento do rendimento real, a acomodação da inflação e programas públicos como o reajuste do salário-mínimo e a ampliação do Bolsa Família”, explicou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, ao portal 247. 

O bom desempenho da indústria brasileira contrasta com os números negativos de outros países da América Latina, como México (-1%), Chile (-0,6%), Colômbia (-3%) e Argentina, que apresentou uma queda de 17,1%, a segunda pior no ranking, atrás apenas da Palestina, com retração de 28,5%. Em termos globais, o Brasil também superou potências como Estados Unidos (-0,1%), Reino Unido (-0,5%) e França (-1,5%).

Selic e políticas públicas favorecem recuperação  

Um dos principais motores desse crescimento foi o ciclo de queda na taxa básica de juros (Selic). A partir de agosto de 2023, a Selic passou de 13,75% para 13,25%, e ao final de maio de 2024, estava em 10,50%. Essa redução facilitou o crédito e impulsionou tanto o consumo quanto a produção industrial. Embora a taxa tenha subido para 10,75% em setembro, esse aumento não afetou o período analisado e não diminuiu o impacto positivo acumulado nos trimestres anteriores.  

Além dos juros mais baixos, outras políticas tiveram papel crucial na recuperação. Destacam-se iniciativas como a retomada dos financiamentos de longo prazo pelo BNDES e a redução de impostos sobre veículos. São medidas que ajudaram a injetar demanda na economia e fortaleceram o setor produtivo.

Com um crescimento acumulado de 2,3% no primeiro semestre de 2024, a indústria brasileira não apenas superou a média mundial, mas também deu sinais de que pode sustentar uma trajetória de recuperação mais ampla para a economia do país. O impacto desse desempenho positivo se espalha por outros setores, criando um efeito de “encadeamento” que pode favorecer a retomada econômica em diferentes frentes.  

Essa guinada no setor industrial sugere que o país, após anos de instabilidade, está encontrando caminhos para um crescimento mais robusto e sustentável, com o fortalecimento do consumo e maior previsibilidade nas políticas econômicas.

Presidente e vice comemoram

Em mais uma dobradinha nas redes sociais, o presidente Lula e o vice e ministro do Desenvolvimento Geraldo Alckmin comemoraram o resultado. Lula escreveu primeiro, provocando quem ainda chama de acaso a sucessão de bons resultados que o país vem alcançando: “O Brasil não para de avançar, doutor Geraldo Alckmin (…) Alguns chamam de sorte, mas é só trabalho duro”.

O vice-presidente logo respondeu, reforçando a mensagem e afirmando que “a sorte segue a coragem desde que a coragem seja competente, presidente Lula”. Afinal, tantos bons resultados assim só podem ser fruto de um trabalho sério, dedicado e focado no crescimento do país e no bem da população. 

Nova Indústria Brasil

O Nova Indústria Brasil (NIB), plano lançado pelo governo para fortalecer o setor, é apontado como um dos principais fatores por trás da retomada. Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi, destaca que, além da política industrial, a recuperação tem sido beneficiada pelo impacto defasado da redução da taxa Selic, iniciada em 2023, que facilitou o acesso ao crédito para a compra de bens duráveis. “É justamente essa indústria de bens duráveis que vem puxando o dinamismo industrial brasileiro neste ano”, observa.

Acredita: R$50 bi injetados

O presidente Lula anunciou na última sexta-feira (18), a expansão do programa de crédito Acredita, para beneficiar pequenos negócios interessados em exportar produtos. Durante evento em São Paulo, Lula assinou projeto de lei, a ser enviado ao Congresso Nacional, que permite a adoção de alíquotas diferenciadas por porte de empresa no regime que envolve o reembolso de valores tributários existentes na cadeia produtiva de empresas exportadoras. Nos próximos anos, o Acredita vai injetar R$ 50 bilhões na  economia.

O Acredita foi lançado por Lula em 22 de abril, por meio de Medida Provisória, enviada ao Congresso. O foco da iniciativa é oferecer crédito com taxas de juros diferenciadas para quem mais precisa: os pequenos empreendedores. O programa cria linhas de crédito para públicos variados: dos usuários do CadÚnico, que terão acesso a microcrédito orientado a empresas de pequeno porte.

Saúde

O Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis) anunciou, na última semana, um investimento histórico de R$ 4,2 bilhões, como parte do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula, para a produção nacional na área da saúde.

O foco é atender as demandas estratégicas do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da modernização de laboratórios públicos, Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) e novas parcerias público-privadas.

O montante será distribuído em 42 projetos selecionados pelo Ministério da Saúde (MS), abrangendo 16 instituições até outubro de 2024. As iniciativas buscam fortalecer a produção de insumos essenciais, como vacinas, medicamentos para doenças negligenciadas, anticorpos monoclonais, radiofármacos e Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA), economizando na dependência monetária.

Hoje, o Brasil importa 90% da IFA e atende apenas 50% da demanda nacional de equipamentos médicos com produção local. A meta do governo é atingir 70% da produção nacional em 10 anos, com previsão de R$ 8,9 bilhões em investimentos até 2027.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou a importância dessa medida para o fortalecimento do SUS no Brasil. 

“Este é um momento importante para a nova política industrial e para as metas do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, que se tornam realidade graças ao trabalho conjunto de todos os envolvidos”, afirmou.