Em São Mateus, no norte do Espírito Santo, vereadora petista venceu com pautas relacionadas à educação e cultura

Em São Mateus, no norte do Espírito Santo, vereadora petista venceu com pautas relacionadas à educação e cultura
Divulgação

“São Mateus é uma cidade coronelista”, assim classificou Valdirene Bernardino Pires, professora da rede pública da cidade que fica no interior do Espírito Santo, cerca de 200 km da capital, Vitória, com pouco mais de 100 mil habitantes. Mulher negra, mãe de dois filhos, Professora Valdirene, nome pelo qual ficou conhecida nas urnas, foi eleita vereadora pelo Partido dos Trabalhadores com 1.131 votos. 

A campanha, considerada bem-sucedida, foi organizada, segundo Valdirene, com a perspectiva de alcançar a maior parte da população mateense e não restrita apenas às bases nas quais ela militou boa parte de sua vida. 

Professora desde os 19 anos, Valdirene sempre participou ativamente da política local; compôs a direção do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais até 2016, integrou o Conselho Municipal de Educação e atuou no Coletivo de Mulheres Pretas Constância D’Angola, formado no município. 

Apesar do envolvimento no movimento social, a trajetória dentro da política institucional começou agora, em sua primeira eleição aos 53 anos, após sugestões de colegas do partido. “Você não deixa de ser mãe ou ser mulher só porque entrou na política, né? Tenho 33 anos de profissão, agora com os filhos criados e encaminhados, fica mais fácil me dedicar a esse espaço”, comenta. 

Única representante de esquerda na Câmara Municipal a partir de 2025, a petista conta que “bateu muita perna” na cidade inteira, além de contar com o apoio da comunidade escolar, onde já era bastante conhecida. 

A vereadora eleita apontou como ponto importante para as campanhas políticas atuais o diálogo nas redes sociais, em especial para alcançar os eleitores mais jovens; algo que na visão de Valdirene ainda precisa ser melhor trabalhado no campo da esquerda no geral. 

Desafios no âmbito municipal

A professora destaca a complexidade dos desafios do pleito municipal. “Quando a política é nacional, o PT dificilmente perde em São Mateus, Lula ganhou aqui com uma votação boa, mas na prefeitura o jogo é diferente”, relata. Nas últimas décadas, foram eleitos prefeitos ligados ao universo empresarial. “As pessoas aqui tem uma tendência de achar que só porque fulano gerencia um negócio, ele pode gerenciar uma cidade”, comenta.

Em 2021, o prefeito Daniel Santana (sem partido), conhecido como Daniel do Açaí, foi alvo de uma operação da Polícia Federal e chegou a ser preso por fraude em licitações. Nesta eleição, de 2024, o vencedor foi o empresário Marcus da Cozivip (Podemos). 

Mentoria da FPA

Como trabalho de organização de suas propostas, Valdirene, na condição de candidata, participou de algumas aulas do Time de Mentoria da FPA, uma iniciativa da Fundação Perseu Abramo. Segundo a vereadora eleita, o grupo foi importante para que ela tivesse instrumentos para ordenar seus objetivos dentro do plano da campanha. 

Os mentorados da FPA puderam contar com especialistas em 24 áreas, sendo algumas delas: comunicação, meio ambiente, segurança pública, pessoas idosas, energia, trabalho, micro e pequenas empresas. O trabalho voltado às eleições é uma iniciativa coordenada pelos Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas da fundação. 

Expectativas do mandato

As propostas da Professora Valdirene têm relação com diferentes setores da população de São Mateus. Ela destaca como principal demanda a ser atendida a questão da educação para alunos da rede pública que necessitam de cuidados, como aqueles que possuem transtornos como autismo e outras deficiências. 

Além disso, cita ainda a importância do fortalecimento da cultura local. “Os negros são 52% da população da cidade, e sofremos com o apagamento da nossa cultura”, pontua a vereadora que nasceu em uma comunidade quilombola capixaba. Um olhar apurado na fiscalização das verbas do município para educação e saúde também fazem parte do plano. 

“Não será fácil, nada é fácil para uma mulher negra, não é mesmo? Mas, a minha expectativa é que a população mateense possa cobrar dessa Câmara, de fato, com a cobrança da população, o legislativo vai começar a fazer o seu dever de casa, vai poder fiscalizar melhor”, afirma Valdirene. 

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