Morre Delfim Netto: economista foi um dos pais do AI-5 e “milagre econômico” da ditadura militar
Conhecido como um dos artífices do “Milagre Econômico” e um dos formuladores do AI-5, Delfim deixa um legado marcado tanto por realizações econômicas quanto por seu papel no endurecimento autoritário da ditadura
Redação Focus Brasil
O ex-ministro da Fazenda, o economista Antonio Delfim Netto, morreu na segunda-feira (12), aos 96 anos. Ele estava internado desde a semana anterior no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, em decorrência de complicações no seu quadro de saúde.
Delfim Netto ficou marcado como um dos mais influentes economistas e figuras públicas do Brasil, com uma carreira marcada tanto por realizações econômicas significativas quanto por sua controversa participação no regime militar.
Foi protagonista de algumas das mais decisivas políticas econômicas do Brasil, tendo sido um dos principais arquitetos do chamado “Milagre Econômico” brasileiro, mas também deixou um legado indelével como um dos formuladores do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o mais repressivo decreto da ditadura militar.
Nascido em 1º de maio de 1928, Delfim Netto começou sua trajetória no mundo acadêmico, graduando-se em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (USP) e, mais tarde, tornando-se professor da mesma instituição. Seu conhecimento técnico e visão pragmática o destacaram e o levaram a ocupar cargos de alta relevância no governo brasileiro durante os anos de chumbo.
Delfim foi nomeado Ministro da Fazenda em 1967 pelo presidente Costa e Silva, e manteve-se no cargo até 1974, durante os governos dos generais Médici e Geisel. Durante esse período, foi um dos responsáveis pela implementação de políticas econômicas que geraram um crescimento acelerado da economia brasileira, com taxas de crescimento do PIB que chegaram a ultrapassar os 10% ao ano. Esse período ficou conhecido como “Milagre Econômico”, mas os benefícios não foram amplamente distribuídos, resultando em uma concentração de renda que perdura até os dias atuais.
Apesar dos êxitos econômicos, Delfim Netto nunca conseguiu se dissociar do papel que desempenhou no endurecimento do regime militar. Como ministro e conselheiro de confiança dos generais, foi um dos responsáveis pela formulação do AI-5, decretado em 13 de dezembro de 1968, que suspendeu direitos civis, fechou o Congresso Nacional e deu início a uma das fases mais repressivas da história do Brasil. O AI-5 abriu as portas para a censura, a perseguição política, a tortura e o desaparecimento de opositores ao regime, marcando indelevelmente a memória do país.
Ao longo dos anos, Delfim Netto tentou, em várias ocasiões, justificar ou minimizar sua participação na criação do AI-5, mas seu papel no episódio permaneceu como uma mancha em sua trajetória. Após o fim do regime militar, Delfim continuou a atuar na política e na economia, ocupando outros cargos de destaque, como o de embaixador do Brasil na França e ministro do Planejamento e da Agricultura.
Nos anos seguintes, manteve-se como uma voz ativa no debate econômico nacional, escrevendo colunas para jornais e revistas, e prestando consultoria para diversos governos, inclusive na redemocratização. Mesmo com a idade avançada, nunca deixou de ser uma figura influente e polêmica, sempre pronto a emitir opiniões sobre os rumos da economia e da política brasileira.
Delfim Netto deixa um legado ambíguo, marcado tanto por sua contribuição ao crescimento econômico do Brasil – questionado por muitos economistas contemporâneos – quanto por seu envolvimento em um dos períodos mais sombrios da história do país. A história o recordará como um homem de muitas facetas, cuja inteligência e pragmatismo moldaram, para o bem e para o mal, décadas de políticas públicas no Brasil.