Animação da Pixar/Disney mostra os efeitos do transtorno que já atinge 1 em cada 8 pessoas

Henrique Nunes

Divulgação/Disney-Pixar

Mais um dia normal na sala de controle. Enquanto Alegria, a coordenadora da equipe, dita as ordens, Raiva, Nojinho, Medo e Tristeza fazem o trabalho sujo para manter as coisas em seus devidos lugares. Num momento é preciso chorar e aceitar o peso de uma notícia ruim. No outro, é preciso ter raiva para redobrar a força na execução de uma tarefa. No meio disso tudo, um medo aqui, outro nojo ali, ajudam a manter a saúde de nossa heroína em dia. 

Mas de repente, o alarme toca. A sala de controle é invadida pela gerência que tenta colocar tudo abaixo. Logo sabemos o motivo: Riley, a personagem que chocou o mundo da animação em Divertida Mente, está de volta. Agora na puberdade. 

Não demora para que um novo modelo de trabalho seja colocado em prática. A Alegria, a Raiva, a Tristeza, o Medo e a Nojinho são levados ao cárcere. Tornam-se, portanto, sentimentos reprimidos que passarão a lutar para recuperar a relevância, num belo e psicanalítico exercício cinematográfico sobre autoconhecimento, aceitação e independência emocional. 

Quem assume o controle, sempre com boas intenções (como também na vida real), é ela, a onipresente Ansiedade. Aqui um adendo: antes mesmo de o filme ser lançado já havia uma enorme expectativa para ver como o transtorno apareceria na história, diante da relevância do tema em várias partes do mundo. 

No início, a Ansiedade é amparada pelos nem sempre subservientes Tédio, Vergonha e Inveja. Depois, ela só, a Ansiedade, passa a tomar conta de tudo sozinha, espécie de Madre Superiora sempre a propagar o caos e a discórdia, mesmo que ela própria não saiba aonde quer chegar – ou aonde quer levar a nossa pequena Riley. 

Daqui em diante é bom deixar detalhes do filme para quem ainda pretende assistir a Divertida Mente 2. Mas um aviso. Quem for ao cinema deve estar preparado para se ver diante da tela grande. Bom, ao menos há uma grande probabilidade de isso acontecer, já que transtornos como a ansiedade já atingem 1 em cada 8 pessoas no mundo.

O primeiro dado importante para quem está ansioso para saber como a ansiedade aparece na brilhante animação da Pixar/Disney é a própria aparência da personagem, propositadamente, digamos, caricaturizada: cabelos despenteados, pensamentos catastróficos, conclusões dúbias que interferem em atitudes tomadas de maneira nem sempre éticas ou decentes. A doce Riley, sob a tutela da Ansiedade, age por impulso ao se afastar das amigas, ao bisbilhotar o caderno da professora, e até ao agredir uma colega no time de hóquei “sem querer”.

Ansiedade não só assume a sala de controle como acaba por colocar em risco uma engrenagem fundamental na cabeça de Riley: uma pequena árvore chamada Senso de Si, formada pelas convicções construídas ao longo de seus 13 anos e que são, ao fim e ao cabo, o que há de mais autêntico em sua personalidade.

É sobre isso, para usar um jargão da cada vez mais ansiosa juventude brasileira. E, infelizmente não vai ficar tudo bem, caso Riley, este que vos escreve e tantas e tantas outras pessoas por aí não constatarem o óbvio: é preciso buscar ajuda para se livrar da Ansiedade. Calma, não se descontrole.  Se você ainda não precisa de remédio e terapia, respire aliviado. Basta deixar que a Raiva, a Tristeza, o Medo, o Nojo, a Vergonha e o Tédio te abracem na medida certa. Em dosagens controladas. Ah, sim, Alegria demais também pode causar problemas. Alegria é o que nos move adiante, mas também nos cega. Melhor dividir a sala de controle de maneira coletiva e sorrir por saber que vivemos no mesmo mundo, na mesma época, em que animações como Divertida Mente 2 ainda existem. Até a Ansiedade da gente melhora. 

Riley não está sozinha. Nem você 

Considerada um dos principais sintomas da depressão, a ansiedade já é considerada o mal do século para a psiquiatria. No Brasil, o diagnóstico do transtorno não para de crescer e já coloca o país como o mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. 

Dados de 2023 apontam que 26,8% dos brasileiros já receberam diagnóstico médico da doença.

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