João Carlos Coser, nascido no dia 13, é o décimo segundo filho de uma família de 13 filhos. Ele conta com orgulho que cresceu na roça, viu o mar pela primeira vez aos 17 anos e começou a trabalhar em uma empresa da família na capital, onde liderou uma greve para reivindicar direitos trabalhistas. Através da  teoria da libertação e dos movimentos eclesiais de base, descobriu sua vocação para a militância. Determinado a continuar sua contribuição na construção partidária, representou o PT em eleições proporcionais e voltou à Assembleia Legislativa do Espírito Santo em 2022 com uma expressiva votação, recebendo votos suficientes para eleger ao menos quatro parlamentares. Técnico em contabilidade e bacharel em direito, considera-se um comérciário e um sindicalista com mandato de deputado. 

Por Fernanda Otero

Foto: Reprodução

O deputado estadual João Coser, pré-candidato a prefeito em Vitória, capital do Espírito Santo, quer tirar a capita capixaba do isolamento. Foi o quinto filiado a assinar a ata de fundação do Partido dos Trabalhadores no Espírito Santo. “O PT começou de baixo para cima, constituímos um partido dos trabalhadores mesmo!”, afirma com orgulho. Elegeu-se deputado estadual em 1987, quando era presidente da CUT. Também foi presidente e vice-presidente do partido no estado, presidente do diretório municipal, além de membro do diretório nacional do PT.

Foi presidente do Sindicato dos Comerciários do Espírito Santo. Elegeu-se deputado federal em 1995, tendo sido reeleito para um segundo mandato em 1999. Em 2004, candidatou-se a prefeito. Na eleição de 2008,-se para um segundo mandato já no primeiro turno. 

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Deputado, falando um pouco da sua trajetória, o senhor gosta de dizer que é um sindicalista com mandato de deputado. O que é ser sindicalista hoje no Brasil? 

– Olha, realmente sinto um grande orgulho pela trajetória que tive, principalmente porque nasci no interior do Espírito Santo, mais precisamente em Santa Teresa, na roça, como a maioria das pessoas de lá. Me mudei para a capital, onde trabalhei em uma loja de comércio e também em uma oficina. Mais tarde, me envolvi com o sindicato dos comerciários e acabei por me tornar o primeiro presidente da Central Única dos Trabalhadores aqui na região. Isso aconteceu durante os anos de 1984 e 1985, um período marcado pela efervescência do movimento sindical. Portanto, fui realmente privilegiado por estar no lugar certo, na hora certa. Testemunhei todo o crescimento do movimento sindical brasileiro, tanto rural quanto urbano. Assim, participei da fundação da Central Única dos Trabalhadores, engajado em todo o processo de debates, nas grandes assembleias e nas grandes greves, o que foi extremamente gratificante. Durante minha gestão na CUT, por exemplo, conseguimos realizar, em um único ano, 56 paralisações, incluindo categorias e grupos menores, o que foi fundamental. Foi então que realmente me descobri como pessoa, após minha experiência na Igreja Católica, nas comunidades de base e no movimento popular, mas foi no sindicato que encontrei minha verdadeira vocação: defender ardorosamente os interesses e os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras. De fato, me realizei muito como ser humano, como homem, como pessoa, através da minha atuação sindical. Por isso digo, embora esteja sempre envolvido em outras atividades, minha cabeça não muda. Inclusive, durante meu período no Congresso, era o único deputado que tinha como profissão registrada ‘comerciário’. Representava todos os trabalhadores, naquela ocasião, através de uma eleição que foi o resultado dessa organização sindical que impulsionou minha eleição, primeiro como deputado estadual, depois federal.

Como será sua abordagem em relação ao orçamento participativo, violência e saúde em seu programa de governo e como o senhor irá dialogar com outros grupos para mostrar, especialmente em meio à disseminação de fake news, que mesmo com um prefeito bem avaliado, as áreas de saúde e segurança continuam sendo áreas que carecem de melhorias significativas?

– Estamos no processo de elaboração do programa de governo, iniciando as formalidades e realmente engajados em criar um plano eficaz. Estamos realizando debates nas regionais da cidade e coletando sugestões da população. Há um esforço técnico significativo em curso, que incorpora o conhecimento científico e técnico das universidades, com a colaboração de diversos setores da sociedade, e ao mesmo tempo mantemos um canal aberto para ouvir a população. Portanto, esse é um grande foco de nossa elaboração. No que se refere à segurança, enfrentamos um desafio preocupante: Vitória ainda apresenta um índice de homicídios muito alto, infelizmente, superior ao de outras cidades, o que aumentou no último ano, diferente da tendência de outras cidades brasileiras. Esse tema de segurança será amplamente discutido, especialmente considerando as promessas de alguns candidatos, como um delegado que prometeu cuidar da segurança interna do próprio gabinete. Para nós, a segurança é um tema muito importante. Sobre a área da saúde, há negligências que precisam ser abordadas, tanto na atenção básica quanto nas especialidades. Implementamos um centro de especialidades médicas que oferece uma variedade de serviços e conseguimos reduzir significativamente as filas. Hoje, enfrentamos problemas, como longas esperas para exames especializados e consultas, em que alguns casos, a espera por atendimento chega a durar três anos. Perto do final do mandato, percebemos algum movimento para tentar corrigir isso. Além disso, existem recursos federais disponíveis para Vitória que não estão sendo efetivamente aproveitados pela administração municipal na melhoria da saúde pública. Esses, além de outros temas, representam um grande desafio. A atual gestão não tem marca. A própria pesquisa revela que ele não alcançou nenhuma marca de sucesso, nem realizou obras notáveis. No entanto, ele é bastante eficaz no que poderíamos chamar de maquiagem urbana, como o recapeamento asfáltico, a instalação de brinquedos nas praças e a manutenção de parques e jardins nas áreas mais nobres. Ela gerencia essa ‘maquiagem’ com habilidade, embora careça de obras estruturantes que tenham impactado significativamente qualquer parte da cidade. Apesar disso, ele recebe uma avaliação positiva, o que é um fato. Portanto, precisamos destacar a realidade, fazer comparações, inclusive destacar as diferenças entre o que fizemos e o que ele está fazendo. Realizamos várias obras importantes e estruturantes, criamos vias significativas como a Via Fernando Ferrari, e construímos uma bela ponte estaiada. Nos empenhamos intensamente no saneamento básico, incrementando a coleta de esgoto de 56% para 100% durante nossa administração, introduzimos estações de tratamento e alcançamos a coleta e tratamento integral. Fizemos um amplo trabalho de drenagem em três pontos críticos que frequentemente inundavam e causavam dificuldades em Vitória, problemas estes que conseguimos superar. Assim, deixamos marcas significativas de trabalho estruturante que transformaram o perfil da cidade. O atual prefeito, por outro lado, parece focar apenas no dia a dia, gerenciando bem os aspectos cotidianos da cidade, mas acabou isolando-a politicamente. Ele não mantém relações com o governo federal ou com o governo estadual devido a divergências políticas e uma crítica que fez, insinuando corrupção no Palácio Anchieta, o que deteriorou a relação com o governador. Desde então, o prefeito e o governador raramente se falam, exceto em cumprimentos oficiais. Então, é uma prefeitura, uma cidade isolada, não se relaciona com os entes federados, União, Municípios e Governo do Estado, e também não se relaciona muito com a classe política. É questionável se essa abordagem é eficaz. Ele parece saber como captar a atenção e a aprovação da população, que parece se contentar com uma gestão que mantém as coisas como estão, enquanto outras cidades do entorno, como Serra, Vila Velha e Cariacica — todas maiores do que Vitória e com relações estreitas com o governo estadual e federal — estão recebendo mais recursos e desenvolvendo-se rapidamente. No momento, o Vitória não está avançando.

O seu nome aparece entre os favoritos do eleitor nas pesquisas espontâneas. Além da sua larga experiência, ser um político aberto ao diálogo seria o grande diferencial para vencer esta eleição?

– Eu não tenho dúvida de que o trabalho realizado durante meus mandatos como prefeito e deputado foram importantes. Eu tenho essa característica, e sou o único candidato com habilidades excepcionais para estabelecer relações de forma eficiente com o governo federal. Conheço pessoalmente o presidente Lula, ministros e diversos membros do governo, além de manter uma excelente relação com o governador Renato Casagrande e sua equipe. Portanto, é nítido que Vitória parece estar estagnada, à espera de um prefeito capaz de interagir de maneira eficaz com o governo estadual e federal para realizar muitas melhorias. Por essa razão, é essencial apresentar um plano de governo arrojado que, uma vez aprovado pela sociedade e eleito, possa ser colocado em prática. Conto com o respaldo do governador e do presidente, o que realmente faz diferença. Durante a campanha, destacaremos esse ponto como uma vantagem crucial para votar em um projeto que representarei. No entanto, lógico, sou uma pessoa muito democrática e reconheço a diversidade de motivos que guiam o voto de cada cidadão. Espero que os eleitores compreendam por que considero que tenho as condições ideais para fazer mais pela cidade do que os demais candidatos, exatamente por essa habilidade de estabelecer relações. Quando fui prefeito de Vitória, sempre mantive ótimas relações, não só localmente, mas também fui presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, o que evidencia essa capacidade de articulação e interlocução. Eu era o representante das 440 maiores cidades do Brasil perante o presidente da República e os ministérios. Considero isso como uma marca pessoal, mas reconheço que, naturalmente, será submetido ao escrutínio da sociedade e ao voto dos cidadãos.

O bolsonarismo deixou marcas na sociedade muito ruins, que ainda estão vivas na sociedade. Qual sua estratégia para combater esse projeto nefasto de destruição que eles adotam? 

– A campanha eleitoral será fundamental para expor as contradições da atual gestão. Muitas falhas, ações não realizadas e oportunidades perdidas precisam ser destacadas. Um exemplo disso é a situação da Covid. A pandemia nos pegou de surpresa, perdemos muitas vidas devido a orientações equivocadas e posturas inadequadas do presidente e seus seguidores na época. O prefeito de Vitória sempre foi um seguidor declarado e fervoroso do Bolsonaro, e até hoje, se declara um apoiador dele. O grande problema, para aqueles que não o conhecem, é que ele é uma figura com pouca empatia e sensibilidade humana, sem compaixão. Vitória é uma cidade muito próspera, porém abriga uma população miserável que é ignorada. O número de pessoas em situação de rua está crescendo de forma alarmante, como Vitória é uma cidade pequena, cada indivíduo conta, temos como cuidar. Diferentemente de São Paulo, aqui mil pessoas significam uma grande parcela da população. É essencial termos um líder com compaixão, alguém que veja cada cidadão como um ser humano que merece cuidado e considere investir mais nas comunidades menos favorecidas. Atualmente, vemos grandes investimentos em obras como recapeamento asfáltico, um contrato milionário, enquanto a periferia carece de novas construções habitacionais e unidades de saúde. A discrepância entre regiões ricas e pobres é evidente, com a cidade periférica demandando mais atenção e investimentos, é aí que mora a minha preocupação, elaborar um programa de governo robusto para atender às necessidades mais urgentes dessa parcela da população. Nosso compromisso é cuidar com carinho e amor de todas as áreas da cidade, mas sabemos que precisamos dedicar uma atenção especial às áreas mais necessitadas. Melhorando a situação da periferia, teremos uma cidade ainda mais próspera e igualitária, beneficiando a todos. Essa é a diferença. Essa abordagem visa aprimorar a qualidade de vida de toda a população, e aí entra o coração. Precisa de coração. A atual gestão é muito distante, opera de forma mecânica, sem a compaixão necessária para lidar efetivamente com as questões humanas.

Existe uma união progressista em torno da sua candidatura? Como é que o senhor está trabalhando as alianças?

– Olha, sou uma pessoa de fé e otimista por natureza. Estou em constante diálogo com várias pessoas, sem qualquer aliança formal estabelecida no momento. Dentro do Partido dos Trabalhadores (PT), apresentei minha candidatura, assim como outros candidatos já se lançaram, como pré-candidatos do PSB, PSOL, PSDB e até do Podemos. Temos diversas candidaturas em nosso campo político, mas estamos em diálogo contínuo entre nós, visando construir um comprometimento para, caso avancemos para o segundo turno, conseguirmos apoio de vários grupos. Sou otimista em relação a possíveis alianças no primeiro turno e, pessoalmente, estou aberto até mesmo a alianças com a base do governo do Estado, liderada pelo governador Casagrande, que é do PSB, estou trabalhando isso com muito respeito. No segundo turno, faremos um grande movimento em defesa da cidade para alcançarmos a vitória. Considerando que a eleição tem dois turnos e, até agora, já contamos com sete pré-candidatos, observamos um ambiente bastante positivo entre nós, no campo democrático. O governador Casagrande, que possui uma base política ampla que vai desde o PT até o Podemos, unindo outros partidos como União Brasil, PSD, PSDB, demonstra essa variedade dentro de nosso campo político.

O PT tem um projeto de ampliar o número de prefeituras no Brasil. Como o senhor pretende participar das campanhas em outros municípios do estado? 

– Sou extremamente focado. Considero que estou sendo direcionado para uma missão na região sudeste, concorrendo a uma prefeitura de uma capital. Não tenho muito tempo para olhar para o lado… Naturalmente, prestarei solidariedade aos companheiros, não apenas do PT, mas também de nossos aliados. Obtive uma expressiva votação para deputado, sendo o terceiro mais votado, com um total de 58 mil votos; 14 mil votos seriam suficientes para eleger um deputado com legenda. Desta forma, conquistei votos equivalentes aos necessários para eleger quase quatro deputados. No interior, foram 18 mil votos, suficientes para garantir uma vaga. Nesse sentido, devo prestar atenção total aos meus eleitores, eles merecem meu foco durante o período de pré-campanha. Estou envolvido na organização das chapas de vereadores, no planejamento das candidaturas, nas alianças partidárias e contribuindo politicamente como líder partidário. Como vice-presidente do partido e deputado, estou concentrado nessas tarefas no momento. No decorrer da campanha, pretendo dedicar-me integralmente às eleições em Vitória, apresentando um programa de governo sólido, pautado em um debate digno e propositivo, mantendo sempre uma conduta correta, como sempre fiz. Ao longo de toda minha trajetória, sendo filiado ao Partido dos Trabalhadores desde seu início, sendo o quinto filiado em Vitória, em meu sétimo mandato, nunca abri mão dos princípios da honestidade e da retidão. Desejo manter o mesmo padrão de conduta e postura, buscando a vitória de forma transparente, com as pessoas compreendendo que, ao assumir a prefeitura, tenho capacidade para fazer mais, fazer melhor e, sobretudo, garantir uma gestão inclusiva. Você citou o orçamento participativo, eu falei pouco sobre isso, mas quando vencemos as eleições, iniciamos reuniões em 80 bairros de Vitória, coletando demandas e sugestões da população. Posteriormente, realizamos um congresso com 650 delegados, onde ouvimos representantes de diversos setores. Consolidamos as demandas e trabalhamos durante oito anos para atender aos anseios da cidade de forma harmoniosa. Essa experiência foi gratificante, e espero recriá-la, com ajustes para o modelo atual, onde as redes sociais permitem uma participação ainda maior da comunidade, até mesmo em consultas virtuais sobre projetos e ideias. Tenho o desejo de retomar alguns aspectos e aprimorar outros.

Foto: Ricardo Stuckert

De onde vem a energia para permanecer 44 anos no PT, ser um político vocacionado e qual sua fonte de motivação para buscar algo diferente e melhor do que o senhor já realizou até agora? 

– Para mim, a questão da fé e a crença no Partido dos Trabalhadores como um instrumento de transformação na vida das pessoas é crucial. Quando me perguntam a qual partido pertenço, sendo muitos os que mudam constantemente de sigla, eu respondo que não somente estou no Partido dos Trabalhadores, mas sou do PT com imenso orgulho. Conheço nosso programa, estatuto, congressos e resoluções, e sei o bem que o partido faz ao Brasil e aos brasileiros. Talvez o cidadão comum não tenha essa percepção, mas os governos do Partido dos Trabalhadores têm contribuído significativamente. Há quem acredite que programas como Prouni, Pronatec e Minha Casa Minha Vida surgiram do nada, como se qualquer governante pudesse implementá-los. Isso não é verdade. Essas políticas existem porque temos companheiros do partido atuando, porque o companheiro Lula, por exemplo, conheceu as dificuldades e as necessidades de perto. Há mais envolvimento quando alguém com uma história de vida, que já passou por experiências reais, assume uma posição de liderança. Isso é o que eu chamo de governar com o coração. Por mais que seja um programa técnico e formal, essa dedicação é o diferencial. É por isso que estou no PT e pretendo permanecer aqui. Tenho paixão pelo Partido dos Trabalhadores e acredito que ele representa o melhor do cenário partidário no Brasil. Perfeito? Longe disso. Como em qualquer lugar onde há seres humanos, há falhas e equívocos,  nosso partido não é diferente. No entanto, em comparação com outros, sem dúvida somos o melhor partido político do Brasil e contribuímos positivamente para a sociedade, inclusive para aqueles que criticam. Mantemos respeito por todos, independentemente de suas crenças ou preferências, um dos motivos pelos quais é muito bom ser petista. Quanto aos meus planos futuros, pretendo primeiro aperfeiçoar o que já foi feito, cuidar com esmero da cidade e promover uma inclusão mais abrangente, com foco particular em regiões periféricas. Embora tenha realizado muitas obras estruturantes, percebi que grande parte delas foi em áreas privilegiadas, próximas à praia. Agora, desejo concentrar meus esforços em áreas menos favorecidas. Nessas localidades, com menos recursos, ainda é possível realizar projetos importantes. Tenho planos de preservar os morros, criar novos parques e desenvolver habitações populares, como centros de convivência para idosos, eles precisam de tanta atenção quanto as crianças. Vamos retomar e expandir programas para a terceira idade, já que notamos a falta de uma política efetiva para essa parcela da população. Minha proposta inclui buscar recursos do Governo Federal e Estadual, aplicando recursos da própria Prefeitura para atender essas demandas dos idosos. Em relação à população em situação de rua, meu objetivo é melhorar a convivência e tratamento, garantindo segurança pública por meio de políticas inclusivas e investindo na formação profissional. Vamos desenvolver projetos visando suprir a demanda por profissionais capacitados, uma vez que muitas pessoas necessitam de emprego, mas carecem de formação adequada. Acredito que a Prefeitura deve atuar onde é mais necessária, e temos diversas ideias em mente. É um programa abrangente que, sem dúvida, vai chegar no coração e na mente dos cidadãos de nossa cidade.

`