Por Maria Luiza Ribeiro Viotti*

Celebrar duzentos anos de relações diplomáticas é um marco notável. Esta é uma história não apenas de dois países, mas de uma parceria que perdurou e evoluiu ao longo da própria história do continente americano e do mundo. Menos de dois anos após nossa independência, os Estados Unidos se tornaram um dos primeiros países a acolher formalmente o Brasil no cenário mundial. Este gesto inicial de amizade definiu o tom de uma relação que resistiria a muitas turbulências. Ao longo dos anos, nossos laços cresceram, o comércio floresceu e as trocas culturais se multiplicaram. 

Hoje, os dois países têm uma agenda dinâmica e diversificada, baseada em valores compartilhados e interesses comuns. Democracia, direitos humanos, promoção do desenvolvimento sustentável e a luta contra as mudanças climáticas estão no centro de nosso trabalho. Buscamos fortalecer nossa cooperação em múltiplas áreas, desde o comércio e investimento, passando por energia, saúde, ciência, tecnologia, segurança e defesa, educação e cultura.

Os EUA continuam sendo o parceiro comercial mais importante do Brasil em serviços e o segundo em bens, além de serem a principal origem do investimento estrangeiro direto no Brasil. Desde o ano passado, houve anúncios importantes de novos projetos de investimento dos EUA no Brasil. Os EUA também estão se tornando um destino importante para os investimentos de empresas brasileiras, que já alcançaram 43 bilhões de dólares, criando riqueza e empregos neste país. O Brasil é cada vez mais visto como um país com potencial para ajudar a enfrentar alguns dos maiores desafios do nosso século: produzir alimentos, gerar energia limpa, fornecer minerais críticos e combater as mudanças climáticas.

O lançamento da Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores pelos Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden em setembro de 2023 demostrou nosso compromisso conjunto com o desenvolvimento econômico justo e sustentável. Reafirmou nosso desejo de trabalhar para combater a exploração, promover o trabalho decente, combater a crescente precarização das condições de trabalho e enfrentar os desafios impostos à força de trabalho na era digital. 

RICARDO STUCKERT
Foto: RICARDO STUCKERT

A busca por uma economia de baixo carbono motiva as discussões em curso de uma “Nova Parceria para a Transição Energética” entre Brasil e Estados Unidos. Uma colaboração reforçada nessa área poderá apoiar setores nos quais nossos países têm vantagens comparativas e interesses compartilhados, como o hidrogênio limpo. Estudos recentes indicam, nesse sentido, que Brasil e EUA têm o potencial de se tornarem os principais produtores e exportadores de hidrogênio limpo dentro de uma década.

Democracia e direitos humanos também são preocupações importantes que nossos países compartilham. Os desafios recentes enfrentados pelo Brasil e pelos Estados Unidos nos aproximaram e confirmaram a força de nossas respectivas instituições democráticas. A proteção dos direitos humanos e a promoção da inclusão social também estão no topo de nossa agenda.

Em 20 de maio, poucos dias antes da data em que celebramos o bicentenário de nossas relações diplomáticas, foi realizada em Washington a segunda edição do Diálogo de Alto Nível Brasil-Estados Unidos. A reunião foi co-presidida pela secretária-geral das Relações Exteriores, embaixadora Maria Laura da Rocha, e pelo vice-secretário de Estado, Kurt Campbell. A amplitude dos tópicos discutidos pelas duas delegações confirma a importância que Brasília e Washington atribuem a essa relação, que transcende o âmbito bilateral e abarca desafios regionais e globais.

Neste ano de celebrações do bicentenário, Brasil e Estados Unidos têm diante de si uma oportunidade única de alavancar seus valores e interesses compartilhados, a vitalidade e o dinamismo de uma cooperação de longa data para construir uma parceria ainda mais forte, com resultados tangíveis e de longo prazo para ambas as sociedades e um impacto positivo para nossa região e fora dela.

Maria Luiza Ribeiro Viotti é embaixadora do Brasil nos Estados Unidos. Este artigo foi escrito para a edição 118 do boletim semanal do WBO, publicado em 24 de maio de 2024.

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