Em entrevista à Focus, Eliane Dias, produtora à frente da Boogie Naipe, comemora o título de Honoris Causa concedido aos Racionais MC’s pela Universidade de Campinas (UNICAMP) no final de 2023 e comentou planos para o ‘Mano a Mano’, podcast de sucesso tocado por Mano Brown

Dizer que Eliane Dias é empresária seria simplificar demais o arco de atividades que essa mulher negra, mãe, advogada, palestrante, política e feminista exerce. À frente da Boogie Naipe, uma marca que na verdade é um hub de empresas, como a própria Eliane classifica, ela dirige negócios que vão do mundo artístico (cuidando da carreira de nomes como Racionais MC’s, Mano Brown, Duquesa, Danzo, Yunk Vino e Victoria Cerrid), passando pela moda, produção cultural e, evidentemente, ativismo político.

A CEO da Boogie Naipe já foi assessora parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo e se define como de esquerda: “eu gosto de ser de esquerda!”. E como Eliane parece que nunca se cansa dos inúmeros trabalhos que realiza ou coordena, ainda arrumou um tempo para se aprofundar mais no mundo business, formando-se no MBA em Gestão de Negócios na Fundação Getúlio Vargas, e emenda: “eu vou fazer uma pós em Direitos Autorais”, como se fosse pouco.

Em entrevista exclusiva à Focus, a empresária revela a surpresa dos membros do grupo e festeja o título Honoris Causa concedido pela UNICAMP: “uma honra para todos eles.” Eliane Dias afirma que profissionalmente é “um misto de coisas”, além de administrar também a marca Mano Brown. “Estava esquecendo de falar, a marca que a gente trabalhou, lançou o “Mano a Mano”. Pudera, com tantas atividades, alguma coisa escapa!

“Mano a Mano”, programa de entrevistas do Spotify apresentado por Mano Brown, já conversou com figuras do calibre de Lula, Sueli Carneiro, Marina Silva, Conceição Evaristo, Sonia Guajajara, Gloria Maria, Gilberto Gil, Eduardo Suplicy. Enfim, a lista de celebridades é longa. O “Mano a Mano” completou quatro temporadas, alcançando milhares de seguidores. O bicho da política e do ativismo de esquerda picou Eliane Dias desde muito cedo, e durante a entrevista, ela fez a seguinte confidência: “Queria estar lá trabalhando com o Lula, entendeu? Se ele me convidar, eu vou.” 

Leia entrevista a seguir:

Com tantas atividades profissionais, como você se apresenta? 

Hoje, profissionalmente, eu sou um misto de coisas, a minha empresa é uma hub, praticamente, porque embaixo da Boogie Naipe a gente tem a Yebo, que é uma empresa de moda, a gente faz roupa streetwear feminina, e estivemos na Casa de Criadores, em dezembro, com uns looks ótimos. Temos a Boogie Week (evento dedicado à cultura e arte negra), a Cosa Nostra, que é a marca Racionais, uma parceria com a Labbel Records, dois E-commerces, o Boogie Naipe Store, no qual foi feito um reposicionamento da marca neste ano, com a venda de roupas, entre outras coisas. E ainda tem a marca Eliane Dias, que eu trabalho, faço palestras, faço publicidade, e tudo mais. Então eu sou esse misto de coisas, eu sou empresária e empreendedora. Estava quase esquecendo de falar que a Boogie Naipe também administra a marca Mano Brown e a marca Racionais. A marca Racionais é uma marca muito forte, então a gente tem grandes trabalhos com ela. Pela marca Mano Brown lançamos o “Mano a Mano” no Spotify, que teve 64 episódios. Administramos de forma individual a marca Mano Brown, está tudo embaixo da Boogie Naipe.

A Boogie Naipe completa 10 anos este ano, de onde surgiu a necessidade de criar uma produtora?

A empresa completou 10 anos, mas, na verdade, estou exclusivamente dedicada à Boogie Naipe há apenas três anos. Nos primeiros sete anos, eu trabalhava na Assembleia Legislativa e me dedicava à Boogie somente na parte da manhã. Em 2019, entrou uma nova gestão de extrema-direita, que mudou a configuração de poder na ALESP. A grande maioria das pessoas que assumiram cargos de liderança na Assembleia eram de direita, eu fui exonerada. Desde então, fiquei exclusivamente cuidando da Boogie Naipe. Na verdade, essa empresa foi pensada para cuidar apenas do Mano Brown, da marca Mano Brown. Em 2009, eu, o Mano Brown e mais dois sócios pensamos em criar uma marca, começamos a pensar na marca Mano Brown. E aí o Mano Brown falou: “olha, eu não gosto de ter esse foco todinho na marca Mano Brown. Não quero misturar essa marca Mano Brown com roupa, com produtos, essas coisas”. Em 2010, depois de muita insistência, ele nos disse: “Vamos colocar outro nome, Boogie Naipe”, que quer dizer ‘do meu jeito’. O Naipe significa a sua vestimenta e o boogie é a ginga, o seu jeito de fazer as coisas. Eu gostei. Em 2009, pensamos no produto, em 2010, no nome, e, em 2011, começamos a formalização, a construção da identidade visual. Esse foi um processo gradual. Já em 2012, surgiu uma nova proposta de que a empresa não se limitasse exclusivamente à marca Mano Brown e ampliasse o escopo cuidando também da marca Racionais. Em março de 2013, entrei nesse prédio para cuidar da marca Racionais e da marca Mano Brown. Estamos próximos ao Terminal Capelinha, bem perto do Capão Redondo. A casa, o espaço, já ficou pequeno para nós.

Como é que você avalia esses 10 anos de atividade da Boogie Naipe?

É um desafio. Avalio o desafio, a resiliência, o aprendizado enorme, gigante. Fui fazer MBA para entender o que era gestão de negócios, porque sou advogada, a minha formação é no Direito. Então entrei aqui sem saber nada, absolutamente nada de gestão de negócios. Fui estudar para fazer a gestão dos negócios. A minha sobrinha, que era minha sócia, estava mais adiante, ela é formada em Ciências Contábeis, então fazíamos a administração juntas. O Mano Brown era sócio, mas não estava aqui na administração da empresa, e o outro sócio também, economista, estava cuidando da vida dele. Nós duas ficávamos aqui administrando, depois todo mundo saiu, fiquei sozinha, e foi um desafio legal, um aprendizado. Nesse momento, eu trouxe meu filho para ser meu sócio. Tive que aprender tudo: sobre tributos, empresas, funcionários, sobre tudo. Fui aprendendo tudo, foi um desafio que envolveu muita resiliência. Tem muita gente que fica perturbando e dizendo que as empresas terminam em dois anos, essas coisas. A minha empresa fecha quando eu quiser. No dia que não quiser mais, eu fecho.

Você está administrando a carreira da sua filha também? 

Eu não quis administrar a carreira da minha filha. Ela tem seu empresário, eu não tenho conhecimento para administrar a carreira de uma atriz. Além de que eu amo muito minha filha, amo muito meu filho, eu não quero ficar brigando por dinheiro. Eu estou sempre presente, estou sempre com ela, acompanho todos os contratos e tudo sobre a carreira dela. Mas ela tem uma agência que faz isso por ela, e eu supervisiono tudo.

Você prefere trabalhar com a sua família? Você falou da sua sobrinha, do seu filho…

Na verdade, nem é bom trabalhar com a família, eu aprendi que não podemos colocar para trabalhar conosco aqueles que não podemos mandar embora. Então,  não é bom trabalhar com a família. Aprendi com o decorrer do tempo que não é uma coisa boa. Você encerra a relação empresarial e encerra a relação familiar, e isso é péssimo, eu não gosto. Meu filho está com 28 anos agora, e ele começou a trabalhar comigo quando ele tinha 16, 17. Era legal trabalhar com ele, ele precisava ter responsabilidade, e aí decidi trazê-lo para trabalhar comigo. Minha filha começou a trabalhar cedinho também, ela também é minha sócia. Eles trabalham comigo porque eles são meus herdeiros, só por isso, porque se eles não fossem meus herdeiros, eles não iriam trabalhar comigo. Não trabalho mais com parentes.

O que é o projeto “Boogie Week”?

É um projeto para trazer um entendimento da cultura negra, é fazer as pessoas entenderem de uma forma gostosa o que é a cultura negra. A Boogie Week é uma Semana de Cultura Preta, uma semana onde temos a oportunidade de colocar todo mundo que faz cultura preta no mesmo espaço. A primeira edição foi em 2021, em plena pandemia. Embora tivesse uma grande logística envolvida por se tratar de um evento online, foi mais fácil, pois usamos uma única sala, filmamos tudo e entregamos.

Em 2022, na segunda edição, já foi mais complicado, porque optei por fazer dentro do Ibirapuera com atividades online. O dia principal do evento coincidiu com a data do primeiro turno das eleições. Como ativista, eu estava bem insegura do que poderia acontecer com as pessoas negras, com as pessoas LGBTQ+. Organizamos uma semana inteira de palestras e um grande show no sábado, deu tudo certo. 

Para o ano passado, planejamos um evento maior. A princípio, eu queria fazer no teatro do Ibirapuera, porque tem aquele palco reversível. Mas fiz uma consulta bem minuciosa ao clima que previa muita chuva; eu não podia arriscar, as datas não batiam. Fizemos uma parceria com o Museu Afro-Brasil Emanoel Araújo, algo que eu já queria fazer há bastante tempo. Eu tinha que fugir da data do dia 20, pois a concorrência é muito grande, tem muita coisa acontecendo no dia 20 de novembro. Assim, optamos por realizar no Museu, e foi lindo.

Esse será um evento fixo da Boogie?

A ideia é realizar o festival até quando ele der prazer, até quando ele fizer sentido, o objetivo ainda não foi alcançado. Em 2024, vai ter, sim Boogie Week. Em 2023, promovemos palestras para falar sobre plataformas digitais com dois representantes de empresas que são pessoas negras. Exibimos três curtas para as crianças, e um deles foi dirigido e filmado por uma diretora negra. Teve a roda dos 50 anos de Hip Hop, artistas, um monte de coisas aconteceram nessa semana. Onde tem cultura negra, acho que tem espaço para trabalhar.

O Festival apresentou o talentoso October London, como foi recebê-lo? 

Foi a primeira vez que ele veio ao Brasil, o show teve quase 4 mil pessoas, um artista revelado pelo Snoop Dogg. O show foi muito bom, mesmo com a chuvinha fina que caiu. 

O que você achou da lei sobre o Hip hop ser uma referência na cultura brasileira?

Acho ótimo, o Hip hop é referência, eu vivo isso, eu vivo o Hip hop. Estou com o Pedro Paulo há 30 anos, e há mais de 30 anos o Hip hop está aí. Isso é só a ponta, é só o começo; eu acho que tem que vir muito mais. Quando a UNICAMP tornou obrigatório a letra da música “Sobrevivendo no Inferno”, as pessoas só tinham acesso pelo vídeo. Eu falei: não, as pessoas têm que ler o livro, e a Companhia das Letras lançou um livro com as músicas do álbum “Sobrevivendo no Inferno”. As pessoas ampliam a cabeça quando leem o livro, quando ouvem as músicas. São milhões de pessoas que ouvem rap. Que venham outras leis que coloquem o rap no seu devido lugar, que reconheçam o DJ, o MC, que reconheçam o grafite. O break está na Olimpíada, e o break é uma das três pontas do Hip hop.

Quais outros artistas você está administrando, além do Racionais?

Hoje, na Boogie, cuidamos das carreiras de Racionais MC’s, Mano Brown, Duquesa, Danzo, Yunk Vino e Victoria Cerrid. Cuidamos da burocracia da Labbel. Hoje em dia, eu quero ser mais criteriosa; eu nem quero ter muitos artistas para administrar. Administrar uma carreira de artista é muito difícil; é um investimento de tempo e recurso financeiro muito alto para fazer um artista se destacar. É um trabalho que você tem que ir até os festivais, tem que fazer networking, tem que conversar com todo mundo, apresentar e entregar o seu artista, fazer música boa. Tem que entender tudo que está acontecendo, tem que entender de direito autoral, onde aquele artista passa, qual o nicho daquele artista, pensar na roupa, qual é a cor, qual é a cultura. Um trabalho enorme que não se esgota na música. E o artista, ele é um personagem. A pessoa é uma coisa, o personagem é outra coisa. E aí, nós somos pessoas que trabalhamos com aqueles personagens. Eu quero potencializar o que eu já tenho. O artista, para trabalhar comigo hoje, ele tem que ser comprometido; ele tem que trabalhar a rede social dele todos os dias, a cada dois dias, ele tem que postar ali na rede dele; tem que ser comprometido. Ele tem que saber que ele tem que ter um posicionamento; ele não pode sair falando qualquer coisa, fazendo qualquer coisa. Ele não pode sair por aí brigando, socando todo mundo. Ele tem que chegar no horário; ele tem que entregar; ele tem que fazer música; ele tem que ter o visual bonito. A carreira tem que ser a prioridade total; ele tem que estar comprometido integralmente. Se ele me disser: ‘Isso é o que eu quero para minha vida’, assim eu posso aceitar outros artistas. Quando vejo um artista, procuro aquela coisa que você olha uma, duas vezes e pensa: nossa, tem uma coisa intrigante aqui; eu quero ficar olhando para essa pessoa. O artista tem que ter muito compromisso com esse personagem para trabalhar comigo

Qual é a diferença da Eliane Dias personagem, da artista e da mulher?

Não tem diferença, eu tenho esse problema. Sou Eliane Dias, não sou personagem; eu me daria melhor com as redes se eu tivesse um personagem, eu até tentei criar um personagem, mas eu não consigo. Sou a doutora Eliane Dias. A hora que não existir mais a empresária, eu volto para o meu escritório de advocacia, é disso que eu gosto. Você não vai me ver de biquíni, não vai me ver de decotão; você vai ver a doutora Eliane Dias o tempo todo, eu gosto de ser advogada. Fui conselheira por dois anos na Ordem dos Advogados do Brasil; hoje, eu faço parte do Poiesis (Organização Social gestora de Cultura) e faço parte da Unesco. Então, não tem personagem, eu sou isso aqui. Eu fiz o MBA em Gestão Empresarial e vou fazer uma pós em Direitos Autorais assim que formarem a turma na FGV. Eu continuo cuidando da minha carreira de advogada.

E vocês estão fazendo algum trabalho social no momento?

Não, eu não quero fazer nada nesse sentido. Eu quero fazer a Boogie Week, eu quero cuidar da Labbel, da Boogie Naipe Store. Eu quero trabalhar o que eu já tenho na mão. Os Racionais já são uma atividade social por si só. A Boogie Week arrecadou alimentos, e estou direcionando para a ONG Capão Cidadão, administrada pela minha irmã. Todo o trabalho que eu puder fazer para contribuir com eles, eu faço. Eles atendem 120 crianças e 120 mulheres. A campanha de Natal agora é para a Capão Cidadão. Não adianta a gente querer fazer 10, 15 coisas que não dá. Agora, os artistas, cada um pode ter a sua vertente, ter o seu segmento. O Mano Brown pode ajudar outras organizações; aí é da parte dele, e ele realmente ajuda outras organizações. O Edi Rock ajuda outra entidade, o KL Jay também tem ajudado outras organizações. O Racionais MC’s também, sempre que são solicitados, eles ajudam também. Então, acaba que cada um pega um cantinho, cada um pega um e dá uma ajuda. A Boogie Naipe ajuda uma, o Mano Brown ajuda outra, os Racionais, sempre que podem, estão ajudando outra organização. Assim, estamos envolvidos dessa forma.

Quais são os seus planos, os seus projetos para 2024? Vai ter viagens internacionais, show internacional? 

Meus planos são infinitos. Tudo que eu penso, eu realizo. Então, eu tenho vários projetos chegando aí. Posso falar sobre um que já está em andamento, que é a Casa de Criadores. Nós estivemos s na Casa de Criadores em dezembro, com a marca Yebo. Mas em dezembro, eu tenho novidades; em janeiro, teremos novidades. Então, vamos seguir trabalhando. Tem muita coisa boa para fazer.

Saindo um pouco da arte e entrando na arte da política, como é que você está vendo o governo Lula, os seus ministros e ministras, como você avalia esses primeiros 11 meses de governo?

O governo está tentando. Ele está trazendo pessoas que têm propriedade para falar sobre um assunto. Posso falar sobre a questão indígena? Não tenho essa propriedade, posso até falar, mas não vou ter a mesma empatia que a Sônia (Guajajara). Não vou estar no mesmo lugar de fala que ela, com tanta paixão, com tanto amor, com tanto carinho, entendeu? Então, o Lula está colocando as pessoas certas no lugar certo. Sou estrategista política, gosto de política, sei como a política funciona. Sou de esquerda, queria estar lá trabalhando com o Lula, entendeu? Se ele me convidar, eu vou. Converso com pessoas-chave nos momentos-chave, estudo com afinco alguns assuntos, mas sei que há coisas que não são possíveis fazer, no sentido estrito da palavra ‘política’. Trabalhei 10 anos na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, e não tinha como eu trabalhar sem dialogar com a direita. Como acompanhar um projeto de lei, por exemplo, que envolvesse casas de matriz africana? Esse projeto jamais seria aprovado se não conversássemos com a bancada evangélica. Por isso, não dá para a direita fazer um trabalho sem conversar com a esquerda, e vice-versa, já que as Comissões são compostas por parlamentares de diferentes partidos políticos. Tem assuntos que eu já sei que não adianta entrar, já vejo de longe. Mas a sociedade é o que mais importa, o povo é o que mais importa, sabe? O povo é que realmente faz a coisa acontecer. Quando o povo põe a mão na massa e diz: “eu quero que esse assunto seja resolvido” o povo consegue. Tudo está nas mãos do povo.

Você falou do “Mano a Mano”? Podemos esperar uma nova temporada do podcast?

Estou torcendo aqui, estou de dedinhos cruzados. É incrível ouvir as pessoas; eu me sinto privilegiada. Fiquei lá horas ouvindo Sueli Carneiro, horas ouvindo o próprio presidente Lula. Fiquei horas ouvindo as pessoas que eu admiro e também as pessoas que não admiro, entendendo por que as pessoas são daquele jeito. Tinha pessoas que eu não admirava, mas eu fiquei lá ouvindo e vendo o seu posicionamento e porque ela é daquele jeito, porque ela tomou aquela decisão, porque ela foi por aquele caminho. Eu entendi, depois de ouvir aquelas 64 pessoas, que tem espaço para todo mundo. Acompanhei a maioria das gravações, ouvi todos os podcasts, prestei atenção. Tive o prazer de ouvir a minha amada, que Deus a tenha em bom lugar, a Glória Maria; fiquei lá ouvindo a Glória Maria falar, entendeu? Estou torcendo para que o universo conceda mais uma temporada, que Deus abençoe que a gente consiga mais uma temporada. Estou torcendo por isso.

Você participava na construção dessa lista e tinha essa preocupação de trazer vozes dissonantes?

Sim, esse é o propósito. A gente faz um brainstorm, a Boogie Naipe, o pessoal da Gana e o Spotify. Construímos uma lista de nomes e apresentamos ao Mano; depois que ele aprova, mandamos para o Spotify nos Estados Unidos. Quando o Spotify dá ok, a gente sai atrás dos convites. Temos essa preocupação de ouvir pessoas que a gente não sairia para tomar um café. Queremos ouvir todo mundo, porque o Brasil estava tão polarizado e nós não tínhamos mais a escuta um do outro. É importante ouvir todo mundo; é importante ouvir uma criança falar. As pessoas não ouvem as crianças, os jovens; o índice de suicídio está absurdo. A cada quatro segundos no mundo, uma pessoa se mata. Então, é importante ouvir. É importante, eu tenho que ouvir uma criança de quatro anos, de cinco anos, de 16 anos. Eu tenho que ouvir uma pessoa que não gosta de preto e entender porque ela não gosta de preto, porque não gosta de mulher. Agora, por exemplo, tem um movimento de homem que gosta de mulher de até 30 anos. Eu quero entender o que é isso, se é só um marketing, ou se é ignorância mesmo. Então, é importante a gente escutar o outro. Eu gosto muito de ver essas coisas contrárias. É muito interessante quando a gente pode ouvir e ouvir as outras pessoas. É muito interessante a gente calar a boca e ficar prestando atenção numa coisa que a gente não gosta muito, pra gente entender até porque a gente não gosta, entendeu?

Como vocês receberam a notícia do título de Honoris Causa aos Racionais MC’s, concedido pela UNICAMP?

Recebemos com muita alegria esta notícia e ficamos surpresos também. Todos eles ficaram surpresos e felizes com esse reconhecimento. Acho que é uma coisa muito importante para o trabalho deles. Da minha parte, fiquei muito feliz e muito agradecida. É muito importante esse olhar voltado para o Racionais de forma tão importante e tão honrosa; é um presente. Fico feliz que isso esteja acontecendo durante este momento em que estou aqui sendo a empresária deles. Estou muito feliz.

`