A campanha de ódio contra a vice-presidenta da Argentina quase vira tragédia. Com uma arma na mão, brasileiro tenta matá-la à queima-roupa. A arma falhou. Lula e Dilma condenam o episódio e Bolsonaro é obrigado a tratar do tema. Preso, o autor da tentativa de homicídio é identificado como radical apoiador do líder brasileiro

 

A noite de quinta-feira, 1º de setembro, transcorria tranquila na cidade de Buenos Aires. No bairro da Recoleta, a vice-presidenta Cristina Kirchner regressava de um evento nos arredores da capital argentina quando desceu do carro para cumprimentar apoiadores na frente do seu prédio. E então tudo aconteceu de maneira rápida. Um homem suspeito se aproxima da presidenta, saca uma pistola, aponta para a cabeça dela e dispara. A arma falha e imediatamente o homem é preso .

Cristina escapou ilesa do atentado. O suspeito foi identificado como Fernando Andrés Sabag Montiel, brasileiro, 35 anos, que vive no país há 20 anos. Apontado como um apoiador do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, Montiel só não a matou por um erro humano. Tremendo, ele puxou mal o ferrolho do revólver para trás, a bala não entrou na câmara e isso salvou a vida do vice-presidente da Argentina. A investigação deve determinar o que motivou o ataque. O presidente Alberto Fernandez disse que a arma estava carregada com cinco balas.

“Este é o evento mais sério pelo qual passamos desde que a Argentina voltou à democracia”, disse o presidente argentino, em pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, ainda na noite de quinta-feira, referindo-se ao fim do regime militar em 1983. “Um homem apontou uma arma de fogo para a cabeça dela e puxou o gatilho. Cristina ainda está viva porque, por algum motivo ainda a ser confirmado, a arma… não disparou”.

Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff se solidarizaram com os líderes e o povo argentino. “Toda a minha solidariedade à companheira Cristina Kirchner, vítima de um fascista criminoso que não sabe respeitar divergências e a diversidade. A Cristina é uma mulher que merece o respeito de qualquer democrata no mundo. Graças a Deus ela escapou ilesa”, disse Lula.

“Minha solidariedade a Cristina Kirchner e meu firme desejo de que o seu país, o Brasil e a América Latina superem esta situação e retomem o caminho da paz e da estabilidade”, declarou Dilma. “E que a violência política, venha de onde vier, não consiga obstruir os avanços civilizatórios dos povos de todo o mundo”. A posição de Lula e Dilma contrasta com a demora do presidente Jair Bolsonaro que só se manifestou tardiamente, dizendo lamentar o epsiódio, mas aproveitando para trazer à tona o episódio da facada: “Agora, quando eu levei a facada, teve gente que vibrou por aí”, sem citar nomes.

Uma das mais carismáticas líderes populares da política argentina, Cristina foi presidente entre 2007 e 2015, e é vítima de uma campanha judicial e midiática — assim como Lula e Dilma —, sendo acusada sem provas pelo Ministério Público por corrupção. As denúncias se referem a contratos públicos concedidos no início dos anos 2000. Os promotores responsáveis pelo caso não apresentam provas das acusações.

O Ministério Público pediu 12 anos de prisão da ex-presidenta da Argentina. “Quando o ódio e a violência prevalecem sobre o debate, as sociedades são destruídas e surgem situações como essas”, reagiu o ministro da Economia, Sergio Massa, que foi recentemente nomeado para enfrentar a crise nacional.

Chefes de Estado e aliados políticos na região, incluindo o presidente chileno Gabriel Boric, o venezuelano Nicolás Maduro, o peruano Pedro Castillo também denunciaram o ataque. Eles expressaram solidariedade com Cristina Kirchner e expressaram alívio por ela não ter se machucado.

O Papa Francisco I ligou na manhã de sexta-feira para Cristina, prestando solidariedade após a tentativa de assassinato. “Rezo para que a harmonia social e o respeito aos valores democráticos sempre prevaleçam na amada Argentina, contra todo tipo de violência e agressão”, disse o pontífice. •

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