Em Manaus, ele se reúne com líderes indígenas e pede aliança entre países amazônicos para desenvolvimento sustentável da floresta. Ex-presidente defende ONU fortalecida para o cumprimento de acordos climáticos

 

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro se mostra completamente omisso e indiferente à destruição promovida na floresta amazônica, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está atento aos desdobramentos da crise ambiental em que o país está mergulhado desde o impeachment de Dilma Rousseff. A partir de 2016, o retrocesso na política ambiental tem ocorrido de maneira acelerada, com o desmonte dos instrumentos de fiscalização e controle do Estado  brasileira.

Na quarta-feira, 31, Lula estava em Manaus, no Amazonas, reunido com líderes indígenas. Ele defendeu que o Brasil volte a ter participação mais forte nas discussões sobre o papel das Organizações das Nações Unidas (ONU) na questão ambiental. “Nós defendemos uma ONU fortalecida, com a participação de outros países e com poder de decisão, sobretudo na questão climática, senão a gente vai ficar fazendo discurso e não vai cumprir”, disse Lula, em encontro promovido no Museu do Amazonas.

“Se não houver uma governança mundial que decida o cumprimento de um acordo internacional, se cada governo não levar para dentro do seu Estado, a gente nunca vai cumprir decisões”, disse o ex-presidente. “O Protocolo de Kyoto até hoje não foi assinado. O acordo de Paris até hoje não foi cumprido por muita gente. É preciso que haja responsabilidade e aí tem que ter governança mundial mais forte”.

No mesmo dia, a Reuters noticiou que assessores de Lula estavam desembarcando na Indonésia e na República Democrática do Congo para formar uma frente unida de países nas negociações climáticas da ONU deste ano. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ou COP27, a ser realizada em novembro em Sharm El Sheikh, Egito, deve servir de palco para a retomada do protagonismo brasileiro na agenda ambiental, caso Lula seja eleito em outubro. O ex-presidente é o favorito nas pesquisas de opinião.

Em Manaus, Lula defendeu um pacto entre os países que dividem a floresta amazônica para que a região se desenvolva de maneira sustentável, gerando emprego, renda e melhor qualidade de vida para a população. “Nosso povo está passando fome, necessidade, precisamos permitir que as pessoas vivam dignamente”, disse. “Estou convencido de que nenhum de nós quer transformar a Amazônia num santuário da humanidade”.

O ex-presidente disse que é preciso tirar proveito da biodiversidade para gerar melhores condições de vida por povos que moram na floresta, e não apenas na Amazônia brasileira, mas na venezuelana, colombiana e equatoriana.  “É preciso se colocar de acordo com outros governos da América do Sul para que a gente trate, sem abrir mão da nossa soberania, de como convidar cientistas do mundo inteiro para participar da exploração de um mundo mega-diverso”, disse.

Lula afirmou ainda que já passou o tempo onde as pessoas achavam que o aquecimento global era assunto apenas para intelectuais, acadêmicos e jovens universitários. “Antigamente parecia piada quando escutávamos o Evo Morales dizer ‘vamos cuidar da ‘madre’ terra. Hoje todo mundo tem responsabilidade de que é muito importante cuidar da nossa floresta, da nossa água”, ressaltou.

Ele voltou aproveitou a ocasião para defender a criação do Ministério dos Povos Originários, onde indígenas poderiam colaborar ainda mais na preservação da floresta e “decidirem sobre suas próprias vidas”. “Eu tenho dito que não haverá mais garimpo ilegal neste país”, prometeu. “Eu conheço o Rio Tapajós e ver ele banhado de mercúrio… a gente não pode acreditar que o ser humano seja insensível de não perceber o mal que ele está causando para o futuro do planeta”, completou.

A expectativa de reversão do quadro de destruição generalizada da floresta é grande na Europa. A promessa feita pelo ex-presidente de que vai  enfrentar o crime na Amazônia se voltar ao poder foi um dos grandes destaques na imprensa internacional, no mês passado, por conta da entrevista concedida por Lula a correspondentes estrangeiros. O ex-presidente do Brasil disse que vai reprimir garimpeiros e madeireiros ilegais. É exatamente o contrário do que Bolsonaro tem feito. •

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