24 de agosto de 1954 – Getúlio se mata com um tiro no coração

De manhã cedo, o presidente Getúlio Vargas, de pijamas, sai do seu quarto no palácio do Catete, vai até o gabinete de trabalho e volta com um envelope. Pouco tempo depois, ouve-se um tiro. O filho, Lutero, corre para os aposentos do pai, seguido pela irmã, Alzira, e pela mãe, Darci. Encontram Getúlio caído na cama, com um revólver Colt calibre 32 perto da mão direita. Na altura do coração, um buraco da bala e uma mancha de sangue. Encostado no abajur, sobre o criado-mudo, estava o envelope contendo a carta que, datilografada na véspera por um amigo, explica o gesto — não é um lamento, mas um manifesto político.

A carta-testamento não deixava dúvida sobre como o suicídio deveria ser entendido: era uma reação a uma campanha subterrânea dos grupos internacionais, aliados aos grupos nacionais, para bloquear a legislação trabalhista e o projeto desenvolvimentista. “Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida”, dizia a carta, que concluía: “Serenamente dou o meu primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar para a história.”

Naquele momento, o maior adversário de Getúlio, Carlos Lacerda (UDN), ferido no pé dias antes no atentado da rua Tonelero, comemorava com champanha o golpe que parecia vitorioso.

Horas antes, uma reunião de oficiais de alta patente recusara a proposta de Getúlio de licenciar-se da Presidência enquanto se desenrolasse o Inquérito Policial Militar (IPM) sobre o atentado. Brigadeiros, almirantes e generais foram taxativos: só aceitariam a renúncia.

Certo de que vencera o último round na luta contra Getúlio, Lacerda vociferou numa emissora de rádio: “Aqui estou, no dia da redenção nacional […] para declarar que esse covarde, esse pusilânime, não está licenciado, está é deposto, o lugar dele é no Galeão [palco do IPM] ou no estrangeiro, e deve apodrecer na cadeia!”

Getúlio estava encurralado. Às duas horas da manhã, numa reunião ministerial, ouvira dos ministros militares que os oficiais das três armas haviam se unido em torno do manifesto dos brigadeiros que pedia sua renúncia. Às seis horas, dois oficiais da Aeronáutica foram ao Catete convocar Benjamim, irmão de Getúlio, para depor no Galeão.

Pouco antes do suicídio, o presidente recebera a notícia de que o comando das Forças Armadas havia se somado ao movimento pela sua renúncia imediata.

Getúlio cumpriu então o que havia prometido ao país dias antes. Eleito pelo povo, só sairia morto do palácio do Catete. Por volta das oito horas da manhã, suicidou-se com um tiro no peito.

A notícia, veiculada pouco depois pelas rádios, chocou o país. A população, revoltada, saiu às ruas para expressar sua indignação e homenagear o presidente morto.

No Rio de Janeiro, capital da República, uma multidão amargurada, revoltada e colérica passou a percorrer as ruas, armada com paus, pedras e fúria. Arrancou dos postes propaganda da oposição, quebrou as vidraças da Standart Oil, apedrejou a fachada da embaixada dos Estados Unidos e os prédios onde funcionavam os jornais “O Globo” e “Tribuna da Imprensa”. Para arrematar, incendiou os caminhões que distribuíam esses jornais. Só a “Ultima Hora”, que era favorável ao governo Vargas, pôde circular naquele dia.

Horas depois, em frente ao palácio do Catete, 1 milhão de pessoas tentava ver o corpo do presidente. Muitos choravam compulsivamente, outros desmaiavam, e havia aqueles que, ao entrar na sala onde acontecia o velório, se agarravam ao caixão.

Às 8h30 do dia 25, a multidão acompanhou o corpo de Getúlio até o Aeroporto Santos Dumont, em um gigantesco cortejo que se desenrolava pela praia do Flamengo, do Russel até a avenida Beira-Mar.

Quando o avião da Cruzeiro do Sul desapareceu no céu rumo a São Borja, aconteceu o inevitável: as pessoas perceberam que estavam em frente ao quartel da 3ª Zona Aérea. O que era dor virou cólera, e a multidão avançou contra a guarnição da força militar que era escancaradamente oposição ao governo Vargas. Os soldados da Aeronáutica, aterrorizados, dispararam contra a população civil desarmada durante 15 minutos. No tumulto, mulheres e crianças foram pisoteadas, uma pessoa morreu e muita gente saiu ferida.

A comoção nacional transformou inteiramente a situação política. Os golpistas tiveram de recuar às pressas. As tropas voltaram aos quartéis, e os líderes da oposição, inclusive Lacerda, preferiram se esconder da fúria popular.

Getúlio, o “pai dos pobres”, havia partido. O povo estava de luto, mas vigilante. Nas ruas, deixava claro que não aceitaria ver os inimigos do presidente, que o haviam levado à morte, dando novamente as cartas no Brasil.

 

 

23 de agosto de 1963 – Martin Luther King: “Eu tenho um sonho”

“Eu tenho um sonho”, discursou o ativista negro Martin Luther King a uma multidão de compatriotas num gigantesco comício diante do simbólico monumento ao presidente abolicionista Abraham Lincoln em 23 de agosto de 1963, em Washington “Eu tenho um sonho de que um dia, no Alabama, meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãos e irmãs”, disse.

O pronunciamento do pastor sensibilizou os Estados Unidos e o mundo para a questão racial norte-americana, impulsionando o movimento pelos direitos civis num país ainda manchado por leis estaduais segregacionistas.

De todos os estados, o Alabama era o mais segregacionista. O próprio presidente John Kennedy chegou a se declarar “enojado” com imagens que mostravam cães da polícia atacando crianças negras. Já Luther King havia sido preso em uma visita a Birmingham, ficando oito dias incomunicável, sendo solto apenas após a intervenção de Kennedy e seu envolvimento com a causa dos direitos civis.

Apesar desse sistema que tratava os negros como cidadãos de segunda classe e das violências enfrentadas cotidianamente, Luther King não aprovava uma reação nos mesmos moldes, mas defendia estratégias de não-violência, com o intuito de atrair a opinião pública.

A luta por leis nacionais que garantissem o fim das leis segregacionistas estaduais ganharia o apoio do presidente democrata, que proporia uma lei de direitos civis. Kennedy seria assassinado logo depois, antes de vê-la aprovada, em 1964.

Luther King, que mais tarde receberia o Prêmio Nobel da Paz, também foi morto a tiros, em 1968, por extremistas.

 

 

 

21 de agosto de 1981 – Trabalhadores realizam a 1ª Conclat

Entre 21 e 23 de agosto de 1981, num desafio à ditadura e à legislação sindical autoritária, delegados de 1.091 sindicatos urbanos e do campo realizaram em Praia Grande, litoral do estado de São Paulo, a 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat).

A Conclat foi a primeira reunião ampla de categorias diversas desde o Golpe de 1964, que desarticulou a organização dos trabalhadores. A conferência se realizou num momento de ascensão do movimento sindical e de avanço da luta pela redemocratização do país.

Mais de 5 mil delegados, na maioria eleitos diretamente pelas bases, participaram do encontro. A luta pela redemocratização do país, por melhores salários e contra a repressão aos trabalhadores eram os pontos de unidade na Conclat. Havia, no entanto, uma profunda divisão a respeito da criação da Central Única dos Trabalhadores, organização sindical nacional e independente defendida pelo PT e pelas oposições sindicais.

Os três dias de reunião da Conclat foram marcados por essa disputa e pela difícil negociação de uma chapa única para a Comissão Nacional Pró-CUT. A comissão eleita ao final do encontro recebeu o prazo de um ano para organizar a nova entidade, mas a fundação da central só iria ocorrer em 1983.

 

 

19 de agosto de 2003 – Atentado mata o diplomata Sérgio Vieira de Mello

Um atentado terrorista em 19 de agosto de 2003 arrasou a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Bagdá, deixando 22 mortos. Entre as vítimas estava o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos e, naquele momento, representante especial no Iraque do secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

Vieira de Mello tornou-se funcionário das Nações Unidas em 1969, atuando, na maior parte do tempo, no Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Em 2002, assumiu o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Por sua postura humanista e profissional e pela defesa da democracia, Sérgio Vieira de Mello era tido como referência mundial no tema dos direitos humanos. Foi ele o primeiro brasileiro a ocupar o mais alto escalão da ONU.

 

 

Outras datas históricas

23/08/1900: Nasce em São Paulo José Correia Leite, personalidade histórica do Movimento Negro brasileiro.

19/08/1945: Começa a guerra na Indochina. Viet Minh ocupa Hanói e proclama República. De Gaulle acena com divisão.

20/08/1949: Criada a Escola Superior de Guerra, associada à National War College, dos Estados Unidos.

23/08/1950: Nasce Eurides Mescolotto, fundador do PT e ex-integrante o Diretório Nacional do PT. Ele foi o primeiro candidato ao governo de Santa Catarina do PT, em 1982.

22/08/1988: Criação da Fundação Cultural Palmares, entidade ligada ao Ministério da Cultura.

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