Editorial - A reação da democracia e o avanço da esperança

Na semana em que teve início oficial a campanha eleitoral, a mais importante desde a redemocratização, a posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do Superior Tribunal Eleitoral marca um importante freio de contenção da institucionalidade contra o projeto golpista de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, Lula segue liderando as pesquisas com ampla vantagem e é o único candidato que colocou na rua uma campanha com força para mobilizar multidões e realizar atos de massa pelo país.

Primeiro, a posse de Moraes foi uma forte demonstração de união do país em torno dos valores da democracia e da segurança do processo eleitoral. Além de quatro ex-presidentes da República os presidentes da Câmara e do Senado, ministros do Supremo Tribunal Federal, governadores, candidatos à Presidência, diversas autoridades e parlamentares prestigiaram a cerimônia.

Na ocasião, um constrangido e isolado Bolsonaro assistiu Moraes ser ovacionado pelos presentes após um discurso em defesa da Justiça Eleitoral e do combate às fake news. O novo presidente do TSE chegou a dizer que a Constituição não permite a divulgação de mentiras que atacam eleições, em um claro recado ao ‘projeto Capitólio’ do atual mandatário do país.

Outro ponto que chamou atenção na cerimônia foi a desenvoltura de Lula, comparada à de Bolsonaro. Enquanto o estadista Lula foi o centro das atenções do mundo político presente, tendo sido o mais procurado por diversas autoridades para conversas institucionais, Bolsonaro ficou acuado em um canto cercado por seus próprios ministros, assessores e demais asseclas remunerados.

O simbolismo da posse de Moraes se soma aos atos em defesa da democracia de 11 de agosto e à Carta em Defesa de Democracia, que já reúne mais de 1 milhão de assinaturas. Bolsonaro sentiu a força da resistência democrática e, ao longo da semana, voltou a demonstrar desespero frente à iminente derrota eleitoral que se aproxima.

No caso mais emblemático, o ex-capitão se envolveu em uma confusão física. Após ter sido chamado de “tchutchuca do Centrão” e ser questionado sobre medidas adotadas pelo governo, perdeu a compostura, agarrou a camisa e tentou tirar o celular de um youtuber de extrema direita na marra. Foi mais um gesto carregado da truculência e do autoritarismo que lhe é peculiar.

Bolsonaro chegou a declarar que respeitará o resultado das eleições, no caso da derrota. Apesar do aparente recuo, as forças democráticas precisam estar atentas. Foram reveladas mensagens de um grupo de empresários bolsonaristas no WhatsApp, nas defendendo um Golpe de Estado, caso Lula seja eleito. Talvez, o caso seja o primeiro grande teste para Moraes enfrentar à frente do TSE e mostrar que as ações em defesa da democracia não ficarão apenas no discurso de posse.

Mas, as péssimas notícias para Bolsonaro não param por aí. Outro fato de relevância foi a divulgação das pesquisas eleitorais após o início do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, que Bolsonaro sempre foi contra e só garantiu o pagamento até o final do ano. Ao contrário do que previam os marqueteiros do ex-capitão, nem mesmo o vale-tudo eleitoral do governo, com a tentativa descarada de comprar votos, foi capaz de recuperar a deteriorada imagem do presidente.

Lula segue liderando as pesquisas com imensa vantagem e com possibilidade real de vitória ainda no primeiro turno. Bolsonaro permanece com uma rejeição alta e consolidada, acima dos 50%. Ou seja, o teto de Bolsonaro continua baixo e o piso alto, inviabilizando qualquer possiblidade de crescimento da chamada terceira via e mantendo a polarização já posta entre a esperança e a barbárie.

É verdade que o estelionato eleitoral, somado ao uso massivo da máquina de mentiras contra Lula e a radicalização do discurso na pauta dos costumes e dos valores anticivilizatórios, fez Bolsonaro oscilar positivamente dentro da margem de erro nas pesquisas. Entretanto, essa variação foi muito pequena diante do enorme esforço feito pela campanha da reeleição, que agrediu a paridade de armas na disputa eleitoral. Isso porque, apesar da sensação de alívio de curto prazo, não há perspectiva de retomada de crescimento sustentável, de inclusão social e de melhoria da distribuição de renda. A vida do povo continua muito dura, com desemprego, trabalho precarizado, fome, custo de vida altíssimo, salário-mínimo desvalorizado e famílias endividadas.

Nesse contexto, Lula permanece sendo a grande esperança que pulsa no coração do povo brasileiro. É também o único candidato que de fato mobiliza uma militância apaixonada e que percorre o país com eventos de massa, como os realizados na última semana em Belo Horizonte e em São Paulo.

Com o início da campanha e a adesão de mais três partidos e de André Janones ao nosso projeto, Lula começa a avançar também no enfrentamento nas redes sociais, em que sempre tivemos mais dificuldades. A candidatura Lula-Alckimin terá o maior tempo nas redes de televisão e rádio, que permitirá resgatar o legado dos governos de Lula e apresentar os projetos de futuro.

Essa onda de esperança chamada Lula começa novamente a pesar o pêndulo da história em favor do povo brasileiro nessa encruzilhada histórica em que nos encontramos. O desfecho será uma enorme festa democrática e popular na Praça dos Três Poderes, em 5 de janeiro de 2023, com Lula subindo a rampa do Palácio do Planalto para dar início à reconstrução do Brasil. •