Enrolado com a lei, Trump pode ser preso

Em audiência no comitê que investiga o ataque ao Capitólio em 2021, ex-assessora da Casa Branca mostrou como o ex-presidente atuou de maneira criminosa para promover um golpe e ameaçar Biden

 

A situação de Donald Trump vai se complicando, à medida que avança o comitê da Câmara dos Deputados dos EUA, que investiga o ataque de 6 de Janeiro de 2021 ao Capitólio. Na terça-feira, 28, a ex-assessora Cassidy Hutchinson, braço-direito do chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, fez revelações impressionantes sobre a conduta do ex-presidente no exercício do poder. Ela mostrou como ele colocou em risco as instituições americanas e a própria democracia.

Cassidy colocou Trump numa situação delicada e ele corre o risco de ser preso. Seu depoimento teve o efeito de acuar Donald Trump, colocando-o sob a suspeita de encabeçar uma conspiração sediciosa. O Capitólio foi desfigurado por “uma mentira”, declarou Cassidy Hutchinson. Perante o comitê, a ex-assessora de 26 anos revelou que Trump tentou estrangular seu agente do serviço secreto e pulou para o volante quando lhe disseram que não seria levado ao Capitólio para se juntar aos manifestantes, que protestavam contra a vitória de Joe Biden, e queriam impedir o sucessor de assumir o cargo. 

Cassidy confirmou que Trump declarou que Mike Pence “merecia” ser enforcado por sua recusa em derrubar a eleição de Biden. Mas tem muito mais. Ela indicou que o ex-presidente e seu círculo íntimo, que incluía o advogado pessoal Rudy Giuliani — ex-prefeito de Nova York — esperavam que a invasão do Capitólio se tornasse violenta e pouco fizeram para contê-la. 

A ex-assessora descreveu como Trump exigiu que o Serviço Secreto permitisse que seus apoiadores, empunhando armas, entrassem na Elipse para fazer seu comício parecer mais frequentado. “Eles não estão aqui para me machucar”, disse Trump ao descartar as preocupações de segurança, segundo o depoimento dela. 

Embora seja jovem, a assessora de 21 anos trabalhou antes de ir para a Casa Branca com o senador Ted Cruz, uma das estrelas do Partido Republicano. E seu depoimento tornou-se uma bomba. Ela colocou Trump, Rudy Giuliani e Roger Stone, um dos principais assessores republicanos do então presidente, exatamente no centro da trama naquela semana que antecedeu a insurreição. Além disso, deixou claro que a ameaça de violência era grande nos dias e momentos antes da invasão do Capitólio. Cassidy foi interrogada por cerca de duas horas pela vice-presidente do comitê, a deputada republicana Liz Cheney. 

“Nos dias anteriores a 2 de janeiro, eu estava apreensiva sobre o dia 6. Eu tinha ouvido planos gerais para um comício. Eu tinha ouvido movimentos hesitantes para potencialmente ir ao Capitólio. Mas ao ouvir a opinião de Rudy [Giuliani] sobre 6 de janeiro e depois a resposta de Mark [Meadows], aquela noite foi o primeiro momento em que me lembro de sentir medo e nervosismo pelo que poderia acontecer em 6 de janeiro. E eu tinha uma preocupação mais profunda com o que estava acontecendo com os aspectos de planejamento disso”, disse a ex-assessora.

Trump condenou Hutchinson na terça-feira no Truth Social, sua rede de mídia social, como “totalmente falsa” e “vazadora”. Ele disse que mal a conhecia. No Twitter, Cassidy Hutchinson foi comparada a John Dean, ex-assessor da Casa Branca do presidente Richard Nixon, cujo depoimento em audiência pública provou ser fundamental para descrever o papel do presidente no acobertamento de Watergate, o escândalo que o levou a renunciar à Casa Branca. •