Diante das revelações de que o STM sabia da prática de tortura durante pelo menos 10 anos da ditadura militar, o general Mourão ri: “Vai trazer os caras do túmulo?”

 

Não bastassem as constantes afrontas do presidente Jair Bolsonaro à democracia e suas instituições, também o vice-presidente da República agora deu para debochar das revelações de que o regime que sufocou o país durante 21 anos, torturou dissidentes e matou muitos. Na segunda-feira, 18, o General Hamilton Mourão riu diante das revelações do Globo, no domingo, 17, sobre os áudios de sessões do Superior Tribunal Militar (STM) em que ministros admitem a prática de tortura.

“Vão Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô. Vai trazer os caras do túmulo de volta?”, disse Mourão, rindo, ao chegar no Palácio do Planalto. A colunista Miriam Leitão, que teve acesso ao material, divulgou parte dos áudios, que vêm sendo estudados pelo historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Nas sessões do STM, entre 1975 e 1985, os ministros do STM tecem comentários sobre casos de tortura que ocorreram durante a ditadura. “Isso já passou. É a mesma coisa que a gente voltar para a ditadura do Getúlio. São assuntos já escritos em livros, debatidos. É passado, faz parte da História do país”, desdenhou Mourão.

A Comissão de Direitos Humanos do Senado, presidida por Humberto Costa (PT-PE), anunciou que vai pedir acesso às gravações em que ministros do STM admitem a prática de tortura. “A exposição desses áudios é uma assunção cabal do Estado brasileiro sobre tudo o que cometeu durante o regime militar”, disse. “Isso mostra que o trabalho com o nosso passado mal começou. A Comissão da Verdade foi um grande passo. Mas ainda há um enorme caminho a percorrer”.

Segundo Humberto, a partir da divulgação desses dados sensíveis, a Comissão de Direitos Humanos do Senado vai promover uma devassa. “Precisamos passar o Brasil a limpo. Urgentemente. Vamos fazer uma rigorosa investigação sobre esses arquivos”, disse. O deputado Carlos Veras (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, lembra que nada justifica a prática violenta contra presos políticos. “Esses áudios reforçam que durante a ditadura militar houve perseguição, tortura e morte de pessoas que eram contrárias ao regime”, aponta. “Vale lembrar, que torturadores jamais deveriam ser exaltados”. •

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