Lula promete um 'revogaço'

Em visita ao Acampamento Terra Livre, o líder democrata diz que, se eleito em outubro, vai reverter medidas adotadas por Bolsonaro que trouxeram atraso na política indigenista e ambiental

 

As imagens rodaram o mundo ao longo da última semana. A vista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Acampamento  Terra Livre, em Brasília, no último dia 12, acenderam a chama da esperança por dias melhores para o Brasil a partir de 2023. Lula prometeu aos povos indígenas que interromperá a mineração ilegal em suas reservas e reconhecerá as reivindicações para a demarcação de terras, caso vença eleição presidencial que acontece em outubro.

“Tudo o que este governo decretou contra os povos indígenas deve ser revogado imediatamente”, disse. Representantes de mais de 200 grupos indígenas do país estiveram reunidos em Brasília para protestar contra a política anti-indígena adotada pelo do presidente Jair Bolsonaro, que permite a invasão de terras indígenas para a exploração do agronegócio, mineração e até de petróleo em suas terras.

“Ninguém fez mais pelos indígenas do que nossos governos do Partido dos Trabalhadores, e agora tudo foi desmantelado por este governo sem escrúpulos”, criticou Lula. Ele foi ovacionado pelos milhares de indígenas que participaram do ato em que o ex-presidente se comprometeu a fazer um ‘revogaço’ para restituir uma agenda que assegure a autonomia dos povos indígenas e ir além da política indígena estabelecida no marco da Constituição de 1988.

“Vocês são povos inteligentes que cuidavam desse país antes da gente chegar aqui”, lembrou. “E, agora, vocês me deram uma ideia. Ora, se a gente criou o Ministério da Igualdade Racial, se a gente criou o dos Direitos Humanos, se a gente criou o Ministério da Pesca, por que que a gente não pode criar um ministério para discutir as questões indígenas?”, disse.

Lula defendeu que um representante dos povos indígenas assuma o novo ministério. “Eles vão dizer ‘ah, mas gasta muito, é preciso diminuir os ministérios’. Na verdade, o que eles não querem é que a sociedade esteja participando ativamente”, declarou.

No palco com a presença de grandes representantes dos povos indígenas, como Sônia Guajajara e Célia Xakriabá, Lula defendeu a criação do “Dia do Revogaço”, para pôr fim a decretos criados por governos insensíveis às demandas dos povos originários. “A gente não pode permitir que aquilo que foi conquista da luta de vocês, aquilo que foi conquista do sacrifício de vocês, seja tirado por decreto para dar direito àqueles que acham que tem que acabar com a floresta e com a nossa fauna”, criticou.

Lula recebeu apoio a uma nova candidatura e uma carta aberta com demandas de representantes indígenas. Eles pediram compromisso do eventual novo governo do PT com a demarcação e proteção das terras. Na carta, lida por Célia Xacriabá e Kleber Karipuna, os índios pedem que o processo de destruição em curso seja interrompido, que os povos isolados sejam respeitados e que as perdas de direito sejam revistas.

“Estamos aqui porque entendemos a urgência e a emergência que o Brasil e nossos povos vivem. Nossas aldeias, terras e plantações estão sendo invadidas e destruídas com o avanço ilegal da mineração e do garimpo”, disse Xacriabá, acrescentando que casas de rezas em aldeias de todas as regiões do Brasil estão sendo queimadas, crianças violentadas e jovens perseguidos e assassinados.

“Precisamos interromper esse processo de destruição.  Nossa luta é pelos nossos povos, mas também pelo Brasil e pela humanidade”, completou, defendendo ainda a construção de outro projeto civilizatório, com democracia, cuidado com o meio ambiente e sem racismo e discriminação. “Não existe democracia sem a demarcação dos territórios indígenas”, disse.

A simples visita do ex-presidente no encontro dos povos indígenas ganhou repercussão internacional por conta dos despachos das agências de notícias. Reuters destacou: “Lula promete a tribos indígenas que reverterá medidas de Bolsonaro”.

E a Associated Press: “Lula critica decretos de Bolsonaro sobre indígenas”. As duas agências lembraram que Bolsonaro está atrás de Lula nas pesquisas eleitorais e que o atual mandatário prometeu em 2018 não reconhecer um único centímetro de terra de reserva indígena, ganhando o apoio do poderoso lobby agrícola do Brasil.

Líderes indígenas pediram a Lula que volte a dar protagonismo e reconstrua a Funai, que teve seu financiamento cortado e funcionários demitidos sob Bolsonaro. “Lula, estamos desprotegidos. Nossos direitos estão sendo pisoteados”, disse a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR), única representante indígena do país no Congresso.

Ela denunciou as ocupações ilegais de terras indígenas, que estão sob proteção da lei e do Estado brasileiro, e vêm sendo alvo da cobiça de garimpeiros, que estão invadindo reservas, destruindo florestas e poluindo os rios. A situação crítica enfrentada pelos grupos indígenas levou um número recorde de mais de 30 representantes dos povos originários a concorrer ao Congresso este ano. •