Velas no velório da terceira via

Numa das mais patéticas encenações da história recente, os candidatos à Presidência que queriam furar a polarização choram a própria morte. João Doria e Sergio Moro enterram suas pretensões

 

Nas vésperas do prazo final para as movimentações de candidatos nas eleições de outubro, dois movimentos desastrados mostraram os naufrágio de dois campeões da terceira via. O ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, o candidato da Rede Globo e do Estadão, saiu do Podemos, filiou-se ao União Brasil e decidiu abrir mão de disputar a Presidência da República. No mesmo dia, o governador de São Paulo vazou que iria desistir de tentar o Planalto, alegando uma ação estratégica para reafirmar sua candidatura dentro do próprio partido, o PSDB, que torce o nariz para o empresário dublê de estadista.

Faz sentido. Os dois tentaram se colocar como uma alternativa entre a candidatura popular de Luiz Inácio Lula da Silva e o extremista da direita Jair Bolsonaro. Ambos votaram no presidente da República em 2018. Depois, convenientemente, se afastaram. Agora, vinham sofrendo para se firmar no imaginário do eleitor brasileiro. Moro oscilava entre 7% e 8% nas pesquisas. Doria patinava nos 2%. Os dois nomes do sonho de consumo do mercado e do Partido da Imprensa Golpista não decolaram. Tampouco os outros cogitados, envasados e ensaiados como  alternativas a Lula, em ensaios formulados desde 2020.

O balão da terceira via vem sendo soprado há dois anos. Por ali subiram os nomes de Luciano Huck, Luiz Henrique Mandetta, Ciro Gomes, João Doria, Sérgio Moro, Rodrigo Pacheco, Luiz Datena, Eduardo Leite, Artur Virgílio, Simone Tebet, Luiz Roberto D’ávila e Alessandro Vieira. Quase todos abriram mão do sonho. As exceções até agora foram Ciro, Simone Tebet e Eduardo Leite. E Moro, que na sexta, 1º de abril, disse que não desistiu.

Também é o caso do ex-governador gaúcho, que continua de olho na butique de Doria. Acredita que, até junho, o colega tucano vai ser rifado pelo PSDB, que se cercaria de alguém palatável que ao menos registrasse 10% nas pesquisas. A União Brasil e o MDB fariam o mesmo. O problema é que o eleitorado não pensa da mesma forma. Qualquer nome que se apresenta como terceira via não chega aos dois dígitos nas pesquisas. Cada vez mais, firma-se no horizonte a polarização. •

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