Novos levantamentos ajudam a compreender a camada da população que não está polarizada. Quaest aponta que 34% daqueles que dizem que não gostariam que nem Lula nem Bolsonaro vencessem as eleições, votariam no petista

 

 

Neste artigo, trazemos as análises do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo, sobre as pesquisas mais recentes divulgadas pelos institutos de pesquisa. Os novos levantamentos ajudam a compreender a camada da população que não está polarizada, isto é, ainda não optou por Lula (PT) ou Bolsonaro (PL) nos cenários de intenção de voto. Temos enfatizado a necessidade de compreender tal segmento, consideravelmente numeroso e que tem sido foco da agenda de pesquisas e estudos do Noppe.

A nova pesquisa BTG Pactual/FSB Pesquisa, realizada por meio de entrevistas telefônicas entre 18 e 20 de março, aponta que um total de 11% da população não votaria em Lula nem em Bolsonaro. Outros 9% não rejeitam nenhum dos dois candidatos. O instituto chegou a tais dados cruzando as respostas de outra pergunta, que mensurou a rejeição dos candidatos.

O dado contribui para a discussão que temos feito em relação ao segmento não polarizado da população, e nos permite cogitar que tal posicionamento talvez não se dê somente mediante rejeição de ambos os candidatos. Já uma parcela da população que ainda não decidiu o voto por não ter rejeição a Lula e Bolsonaro.

 

A cabeça do eleitor

A pesquisa Quaest, realizada entre 10 e 13 de março em parceria com a Genial Investimentos, tem demonstrado que, desde novembro de 2021, o segmento que gostaria que “nem Lula, nem Bolsonaro” vencessem as eleições de 2022 se encontra num patamar de 25% da população. Há variações pequenas dentro da margem de erro. A mais recente pesquisa Vox Populi, de janeiro de 2022, aponta que 32% da população tem sentimento indiferente em relação ao Partido dos Trabalhadores — não tem rejeição ou simpatia pelo PT.

Considerando as diferentes formas que os institutos de pesquisa têm buscado para entender essa parcela da população, estamos falando de um total que varia de 21% a 32% — entre 1/5 a 1/3 do eleitorado. Tais números representam, considerando o eleitorado apto a votar no último pleito — eleições municipais de 2020 —, algo entre 31 milhões a 47 milhões de pessoas.

Tanto o levantamento da FSB quanto o da Quaest tentaram mensurar a possibilidade de eleitores praticarem o chamado “voto útil” logo no primeiro turno, em favor de Lula ou de Bolsonaro. Segundo a Quaest, 34% daqueles que dizem preferir que nem Lula, nem Bolsonaro vençam as eleições, votariam no ex-presidente para encerrar o pleito logo no primeiro turno em favor da vitória do petista. Em comparação, 23% estariam dispostos a votar em Bolsonaro para derrotar Lula. Segundo a FSB, 38% do eleitorado mudaria o próprio voto para derrotar um candidato que não gostaria de ver eleito. E 23% mudariam o voto para derrotar Bolsonaro e 9% para derrotar Lula.

Os números demonstram que tal população é disputável eleitoralmente. Há possibilidade de diálogo com este segmento para, de um lado, possibilitar uma possível vitória em primeiro turno e, de outro, mobilizar parcela significativa deste eleitorado para derrotar o atual presidente. São dados que dialogam com o estudo do Noppe, no qual tentamos compreender mais sobre este segmento.

No estudo, apontamos que esta fatia do eleitorado não pode ser rotulado como progressista ou conservador. Suas opiniões são formadas por experiências próprias, sendo possível que uma mesma pessoa seja progressista em relação a determinadas pautas e conservadora em relação a outras.

Detectamos uma tendência em reconhecer a desigualdade social brasileira como um grande marcador da vida cotidiana, de valorizar políticas públicas e a democracia. Demonstramos que há uma maior facilidade em dialogar sobre pautas como o casamento civil e adoção entre pessoas do mesmo sexo. E uma maior resistência a temas que dizem respeito aos corpos das mulheres, como a discussão sobre a regulamentação do aborto.

Os dados quantitativos trazidos pelos institutos, em conjunto com a agenda de estudos e pesquisas que o Noppe tem trabalhado, apontam que, além de ser necessário disputar política e eleitoralmente a população não polarizada, tal diálogo é possível. •