Com o megarreajuste dos combustíveis, governo acende a fogueira da carestia e ameaça jogar a economia brasileira na vala dos mortos-vivos. Aumento do diesel, gás e gasolina vai colocar mais pressão na inflação, que já bateu os 10% em fevereiro. O inferno é fogo

 

De onde menos se esperava, a fogueira da inflação foi acendida pelo governo. Apesar das promessas de que o Palácio do Planalto estava preocupado com as oscilações do mercado internacional, por conta da guerra na Ucrânia, a Petrobrás fez esta semana o impensável. Num arroubo de hostilidade ao povo, a diretoria da estatal acendeu o barril de pólvora inflacionário com um aumento brutal dos combustíveis: 24,9% do diesel, 18,8% da gasolina e 16% do gás de cozinha.

Nos governos do PT, a gasolina e os combustíveis nunca foram uma ameaça contra a vida do povo brasileiro. Com Lula, o litro da gasolina custava R$ 2. Com Dilma, no auge das pautas-bombas e da sabotagem conduzida pelo PSDB de Aécio Neves, com estímulo da mídia e do mercado financeiro, em 2015, o preço do litro de gasolina girava em torno de R$ 3,32. Em outubro de 2016, o preço chegou a R$ 3,73. Na sexta-feira, 10, o litro estava sendo vendido a R$ 7,89. No Acre, chegou a R$ 10,55.

Diante da alta crescente dos combustíveis, que em 2021 subiu nada menos do que 46% — sem que houvesse sido detonada nenhuma bomba no leste europeu — Bolsonaro admitiu que é um fantoche do mercado e de acionistas estrangeiros: “Eu não decido nada, não”. Mentiroso.

A Política de Preços Internacionais (PPI) da Petrobras, instituída no governo Michel Temer e que dolarizou os preços dos combustíveis, é uma decisão política do governo federal. Com Dilma Rousseff, por exemplo, a gasolina nunca chegou perto de R$ 8 como agora. É o preço mais alto da história do Brasil. Naquele período, a Petrobrás distribuiu lucro e dividendos no volume médio do mercado internacional. E isso pode ser comprovado em qualquer relatório.

Agora, enquanto a Petrobrás mantém R$ 106,6 bilhões em caixa, com o lucro obtido com as operações no ano passado — graças à irresponsável política de desmonte de patrimônio, desinvestimento e venda de refinarias e outros ativos — a empresa se prepara para distribuir um bônus milionário aos seus diretores. A Petrobrás propõe a seus acionistas separar R$ 13,1 milhões para o pagamento de bônus a seus diretores em 2022. Isso significa que cada um dos nove diretores — incluindo o General Joaquim Silva e Luna — deve embolsar pelo menos R$ 1,450 milhão.

Enquanto isso, a economia brasileira segue rumo a uma perigosa escalada inflacionária, que vai empobrecer os mais pobres e se espalhar por todos os setores, com um rastilho de pólvora. O aumento-bomba dos combustíveis provocará uma reação em cadeia na inflação, alastrando-se para o frete e os transportes.

O reajuste dos combustíveis também afetará duramente o varejo. Segundo o jornal Valor Econômico, consultorias reviram projeções para as vendas de combustíveis e lubrificantes no ano, com baixas de 0,5% e 0,6%, respectivamente. Antes, havia projeções de alta de 2,4% e 1,6%. “Não há mais condição de trabalhar”, desabafou o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Dahmer. “Não tem como acomodar um aumento desse no combustível no preço de um frete”, justificou o sindicalista.

“Não há mágica. Quem consegue, de um dia para outro, se adaptar a um aumento de 25% no seu custo?”, questiona Dahmer. Ele observa que antes do novo reajuste, que ainda não reflete os aumentos gerados pela Guerra na Ucrânia, o custo do diesel abocanhava 60% do lucro em um típico serviço de frete oferecido por caminhoneiros. Agora, a situação piora.

“É inflação na veia, porque o diesel é usado no agronegócio, no frete, no transporte público urbano, fora o aumento da gasolina”, lembra o pesquisador André Braz, da FGV. O impacto maior do reajuste dos combustíveis será sentido pelo consumidor em março e abril. “Mas isso não leva em conta os efeitos do ‘espalhamento’ dos combustíveis nos demais preços da economia”, explica.

Mas o aumento já anunciado é apenas o primeiro do ano.  Segundo o Observatório Social da Petrobras (OSP), ligado à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), a Petrobrás não repassou os reajustes internacionais do preço do barril de petróleo ao mercado interno. Então, outros aumentos-bomba podem ser esperados pelos brasileiros nas próximas semanas.

Com os desdobramentos da guerra no leste europeu, o barril de petróleo ultrapassou US$ 130 (R$ 656). Quando a Petrobras anunciou o último aumento, em 11 de janeiro, o barril custava cerca de US$ 83 (R$ 419). Estima-se que a guerra possa jogar o preço do Brent para US$ 150 nas próximas semanas. É fogo no parquinho do brasileiro. •