Em ofício dirigido ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, delegada da Polícia Federal aponta vínculos entre esquema de fake news e o Palácio do Planalto

 

 

O governo Bolsonaro se vê sob o cerco da Polícia Federal. Relatório da delegada Denisse Ribeiro, que apura o funcionamento das milícias digitais, apontou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o esquema montado para promover ataques à democracia e às instituições do país, inclusive o próprio STF, usou a estrutura do chamado “gabinete do ódio” — o grupo montado por aliados do presidente Jair Bolsonaro e que atua no Palácio do Planalto.

O inquérito que apura a existência de milícias digitais foi aberto em 2021, depois que o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu o arquivamento de outra investigação cujos alvos eram aliados de Bolsonaro. Na época, Moraes atendeu ao pedido de Aras, mas decidiu abrir novo inquérito para investigar a atuação das milícias digitais.

Segundo a PF, a ação do grupo seria orquestrada com propósito de difundir ataques e desinformação, criando e deturpando dados para obter ganhos políticos, ideológicos e financeiros. O relatório é direto. Aponta que a milícia digital atua de forma anônima e tem como alvos adversários políticos, ministros do STF, integrantes do próprio governo e dissidentes, além da imprensa tradicional. Para a PF, a ação do grupo estimula a polarização e o acirramento do debate com os ataques à imprensa.

Diz o relatório: “Identifica-se a atuação de uma estrutura que opera especialmente por meio de um autodenominado ‘gabinete do ódio’: um grupo que produz conteúdos e/ou promove postagens em redes sociais atacando pessoas (alvos) – os ‘espantalhos’ escolhidos – previamente eleitas pelos integrantes da organização, difundindo-as por múltiplos canais de comunicação, em atuação similar à já descrita outrora pela Polícia Federal, consistente no amplo emprego de vários canais da rede mundial de computadores, especialmente as redes sociais”, escreveu.

A delegada voltou a relacionar a investigação das milícias digitais a outros dois inquéritos: o que apura a live de 29 de julho do ano passado para questionar a segurança das urnas eletrônicas e o que se debruça no vazamento de uma investigação sigilosa da PF sobre uma tentativa de ataque hacker aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Neste último, a PF concluiu que Bolsonaro cometeu o crime de violação de sigilo.

O Palácio do Planalto também foi implicado em outro trecho do documento, que descreve em detalhes o modus operandi dos investigados e o uso da estrutura do chamado “gabinete do ódio”. 

A atuação é resumida em quatro etapas pela PF: 1) a escolha dos alvos; 2) a preparação do conteúdo, separação de tarefas e definição dos canais usados para “promover a amplificação do discurso”; 3) a publicação simultânea de postagens com “conteúdo ofensivo, inverídico e/ou deturpado”; e 4) a reverberação do conteúdo por meio da “multiplicação cruzada das postagens por novas retransmissões”.

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