Pixinguinha
Filme apresenta a vida e obra de um dos grandes gênios da MPB, interpretado por Seu Jorge, em exibição no canal Telecine
Bia Abramo
É sempre arriscado classificar algum artista como “gênio”, antes que se passem, pelo menos 100 anos de sua morte. No caso de Alfredo Vianna Filho, Pixinguinha, os 50 anos em 17 de fevereiro de 2023 já bastam.
Nascido em 4 de maio de 1897 em uma família de músicos, Pixinguinha já na infância mostrava habilidade na flauta transversal. O pai, Alfredo Vianna, investiu na carreira na carreira dos filhos, pagando aulas de música para Pixinguinha e os irmãos Otávio, China e Léo.
Foi, no entanto, com Os Oito Batutas, grupo formado para tocar no cinema Palais, que a carreira de Pixinguinha deu um salto. A banda tinha entre seus integrantes o violonista Donga, responsável por registrar e gravar o primeiro samba “Pelo Telefone”, em 1916. As pessoas aglomeravam-se na calçada só para ouvi-los. Começaram a fazer excursões por outros estados, como São Paulo, Minas, Bahia e Pernambuco.
Além do músico Ernesto Nazareth (1863-1934), um dos habituês da antessala do cinema era o milionário mecenas Arnaldo Guinle, que custeou a ida dos Batutas para Paris no início de 1922. Prevista para apenas um mês, a temporada se estendeu até julho. Eles voltaram consagrados, ainda que enfrentassem discriminação e preconceito racial pelo fato de ser um grupo exclusivamente formado por negros.
É esse personagem real que a diretora Denise Sarraceni e a roteirista Manoela Dias transformaram no filme “Pixinguinha, um homem carinhoso”. É um velho projeto de Sarraceni, que pretendia lançar o filme em 2013, quando se completaram 40 anos da sua morte. Ela só retomou a obra em 2016.
Desafio complexo, sobretudo para jovens audiências que talvez lembrem que ele é autor de “Carinhoso”, música que escreveu ao 20 anos e só foi receber letra de João de Barro em 1936, quando a então primeira-dama Darcy Vargas (1895-1968) realizou espetáculo beneficente no Theatro Municipal do Rio de Janeiro para arrecadar fundos para obras sociais. “Carinhoso” tornou-se a terceira canção mais regravada da MPB, com 411 versões.
Daí também o acerto da dupla Sarraceni-Dias optar por uma cinebiografia, como forma de apresentar esse músico genial às novas gerações. Para o papel de Pixinguinha, convidaram Seu Jorge. A esposa do músico, Betí, estrela da Companhia Negra de Revista e com quem Pixinguinha se casou em 1927, é vivida por Taís Araújo.
Há inserção de poucas cenas documentais, entre elas “Saravah” (1966), que o ator e cineasta francês Pierre Barouh (1934-2016) realizou no Brasil, tendo o violonista e compositor Baden Powell (1937-2000) como mestre de cerimônia, e resgata Pixinguinha, Donga e João da Baiana.
Esse homem “carinhoso” e um poço de generosidade evidentemente não estava isento de tristezas e frustrações. A primeira dela é que se descobriu estéril e não poder ter os “sete, oito” filhos que planejava com Betí. Assim, um dia trouxe o menino de uma vizinha em adoção à brasileira, a quem deu o nome de Alfredo Vinna Neto e o ensinou a tocar piano.
Foi com o Almirante (Tuca Andrada) e seu programa de rádio, que novas gerações de músicos puderam ouvir novamente Pixinguinha. Ele atraiu admiradores, como Tom Jobim e Hermínio Bello de Carvalho.
Pixinguinha morreria de infarto aos 75 anos, dois sábados antes do Carnaval, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. A Banda de Ipanema, em ensaio pré-carnavalesco, começou a tocar Carinhoso em sua homenagem.
“Pixinguinha, um homem carinhoso” está em exibição no canal Telecine. •