Antes que a destruição seja completa
Lula defende o fim da paridade de preços na Petrobrás, enquanto o governo entrega refinaria a fundo árabe e Paulo Guedes diz ter pressa na venda da estatal, criada há 68 anos. PT aciona MPF contra o general entreguista Joaquim Silva e Luna
O governo entreguista do presidente Jair Bolsonaro moveu mais uma peça para se desfazer de parte importante do patrimônio do povo brasileiro. Na última quarta-feira, 1, o general Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobrás, concluiu a venda da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, ao fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos.
A refinaria foi vendida pela bagatela de US$ 1,8 bilhão e é a primeira a ser entregue pelo programa de privatização da estatal na área de refino. O governo Bolsonaro pretende se desfazer de metade das refinarias da Petrobrás de maneira criminosa e irresponsável. A esperança de Paulo Guedes é estender as privatizações para além das eleições de 2022.
A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), classificou o negócio como prejudicial aos interesses nacionais. “O governo Bolsonaro vendeu a Refinaria Landulpho Alves da Petrobrás, na Bahia, por valor abaixo do mercado. Isso é saquear a Petrobrás, vender barato patrimônio que o povo construiu para o [setor] privado ganhar altos lucros, deixando o preço da gasolina explodir. Saqueadores!”, criticou.
O valor de US$ 1,8 bilhão desembolsado pelo fundo Mubadala é considerado 50% abaixo do valor de mercado, segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). E está 35% aquém do preço justo, de acordo com o banco BTG Pactual. A privatização da refinaria baiana, a segunda maior do país, foi concluída em 30 de novembro.
A intenção do governo é liquidar o setor de óleo e gás, afetando gravemente a soberania nacional. Em entrevista à rádio Gaúcha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o fim da paridade internacional na política de preços praticada pela Petrobrás desde o Golpe de 2016, que levou à deposição da então presidenta Dilma Rousseff.
Lula avisou que, caso seja eleito em 2022, irá alterar a atual política de preços da estatal. “Digo em alto e bom som: nós não vamos manter essa política de preços de aumento do gás e da gasolina que a Petrobrás adotou por ter nivelado os preços pelo mercado internacional. Quem tem que lucrar com a Petrobras é o povo brasileiro”, disse. A posição de Lula provocou imediatamente críticas na mídia corporativa nacional, favorável à liquidação da empresa estatal, criada em outubro de 1953.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, apressou-se a afirmar, na mesma quarta-feira, que o governo Bolsonaro precisa avançar em sua agenda de privatização sob o risco de perder apoio. Só não esclareceu se estava se referindo ao apoio da mídia ou do mercado financeiro. Guedes teve a pachorra de afirmar que os Correios correm o risco de virar uma empresa irrelevante em dois, três anos, bem como a Petrobrás.
“Os Correios vão ter que virar uma empresa de logística, e pior — do que concorrentes. Vende rápido porque tem o risco de daqui a dois três anos estar irrelevante. Ou vende ou perde valor… Isso se aplica à Petrobrás também”, declarou o ministro. O senador Jean Paul Prates (PT-RN), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Petrobrás, reagiu às declarações do ministro.
“Daqui a cinco anos o petróleo ainda não terá perdido totalmente seu valor. Ainda será importante manter refinarias e química a partir do gás e do óleo. E certamente não é vendendo a estatal de petróleo que se faz a transição energética”, rebateu o parlamentar.
A venda da Refinaria Landulfo Alves ao fundo Mubadala Capital é um afronta aos interesses do Brasil. Localizada em São Francisco do Conde (BA) e inaugurada em 1950, a refinaria tem capacidade para processar 323 mil barris ao dia — 14% da capacidade nacional de refino. Segundo uma fonte, a refinaria opera hoje com 60% a 70% da capacidade, mas a intenção do Mubadala é maximizar o retorno financeiro e aproximar a operação do ativo da plena capacidade.
Cínico, Paulo Guedes declarou que o Brasil não está conseguindo tirar petróleo do chão na velocidade necessária para erradicar a miséria. “A Petrobras está sob risco, daqui a dez, 15, 20 anos o mundo vai fazer a transição para fora do petróleo, vai embora para o carro elétrico, e esse tipo de coisa vai desaparecer”, afirmou.
Jean Paul retrucou: “O que deve ser planejado para médio e longo prazo é fazer com que a nossa empresa estatal faça sua própria transição energética, ajudando inclusive o país a fazê-la também, a exemplo da estatal norueguesa Equinor (antes Statoil) e da QatarEnergy (antes Qatar Petroleum)”.
O ex-presidente Lula lembrou que metade do índice de inflação hoje, que aflige o Brasil e prejudica a população, está subordinada aos preços controlados pelo governo. “O governo tem muita responsabilidade pela inflação. Pelo preço da energia, do gás, da gasolina, do diesel”, destacou.
A política de preços da Petrobrás, atrelada ao mercado internacional do petróleo, tem levado a constantes aumentos dos combustíveis nas refinarias, que por sua vez se refletem no preço final ao consumidor na bomba. “Qualquer pessoa séria que ganhar as eleições não vai manter essa política de paridade de petróleo. Não é razoável”, disse Lula.
A alta dos preços dos combustíveis tem sido um dos principais fatores por trás da alta da inflação, que tem afetado a popularidade de Bolsonaro. Na sexta-feira, 3, a bancada do PT na Câmara dos Deputados pediu ao Ministério Público Federal que investigue o general Joaquim Silva e Luna por crimes contra a ordem econômica. Os deputados afirmaram que a escalada do preço dos combustíveis no Brasil é fruto de uma prática abusiva adotada por escolha do governo Bolsonaro. •