A semana na História – 20 a 26 de agosto
23 de agosto de 1900
NASCIMENTO DE JOSÉ CORREIA LEITE
Nasce José Correia Leite, ativista do movimento negro brasileiro desde os primeiros anos do século 20. Como tipógrafo, é um dos fundadores do jornal O Clarim da Alvorada, em 1924. Também cria o jornal Chibata, em 1932, e apoia a fundação da revista Niger, em 1960. Na trajetória de militante, destacam-se também a fundação do Centro Cívico Palmares, em 1926, e da Frente Negra Brasileira em 1931, além do Clube Negro de Cultura Social em 1932.
23 de agosto de 1931
REPRESSÃO A COMÍCIO MATA OPERÁRIO
Polícia ocupa os principais pontos de Santos, cidade portuária paulista, para impedir a manifestação convocada pelo Socorro Vermelho Internacional e pela Federação Sindical de Santos para homenagear anarquistas executados nos Estados Unidos. Na Praça da República, o conflito entre populares e a repressão rapidamente tomA grandes proporções. Entre os estivadores que participavam dos protestos estava o ensacador de café Herculano de Sousa, negro e militante comunista. Atingido por um disparo da polícia, ele tombou agonizante e morreu nos braços de Pagu (a escritora Patrícia Galvão). Ela e a também comunista Guiomar Gonçalves acabaram presas.
24 de agosto de 1954
GETÚLIO SE MATA COM UM TIRO NO CORAÇÃO
De manhã cedo, o presidente Getúlio Vargas, de pijamas, sai do seu quarto no palácio do Catete, vai até o gabinete de trabalho e volta com um envelope. Pouco tempo depois, ouve-se um tiro. O filho, Lutero, corre para os aposentos do pai, seguido pela irmã, Alzira, e pela mãe, Darci. Encontram Getúlio caído na cama, com um revólver Colt calibre 32 perto da mão direita. Na altura do coração, um buraco da bala e uma mancha de sangue. Encostado no abajur, sobre o criado-mudo, estava o envelope contendo a carta que, datilografada na véspera por um amigo, explica o gesto — não é um lamento, mas um manifesto político.
A carta-testamento não deixava dúvida sobre como o suicídio deveria ser entendido: era uma reação a uma campanha subterrânea dos grupos internacionais, aliados aos grupos nacionais, para bloquear a legislação trabalhista e o projeto desenvolvimentista. “Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida”, dizia a carta, que concluía: “Serenamente dou o meu primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar para a história“.
Getúlio cumpriu então o que havia prometido ao país dias antes. Eleito pelo povo, só sairia morto do palácio do Catete. Por volta das 8 horas da manhã, suicidou-se com um tiro no peito. No Rio, capital da República, uma multidão amargurada, revoltada e colérica passou a percorrer as ruas, armada com paus, pedras e fúria. Arrancou dos postes propaganda da oposição, quebrou as vidraças da Standart Oil, apedrejou a fachada da embaixada dos Estados Unidos e os prédios onde funcionavam os jornais “O Globo” e “Tribuna da Imprensa”. Para arrematar, incendiou os caminhões que distribuíam esses jornais.
25 de agosto de 1954
‘MATARAM GETÚLIO!’ – E O POVO SAI ÀS RUAS
Logo após a notícia do suicídio do presidente, multidões saem às ruas, enfurecidas, abortando qualquer hipótese de intervenção — muito embora o dispositivo militar montado para obrigar Getúlio a renunciar continuasse armado. Populares ocuparam ruas e praças em todo o país e atacaram sedes de partidos de oposição — principalmente da UDN —, jornais alinhados ao udenismo e quartéis. E não se esqueceram do maior inimigo do líder morto: Carlos Lacerda. Caçado nas ruas do Rio, ele se refugiou na embaixada dos Estados Unidos. Quando esta foi atacada, ele fugiu num helicóptero militar para o cruzador “Barroso”, ancorado na baía da Guanabara.
“Mataram Getúlio! Mataram Getúlio!”, gritavam os populares nas inúmeras manifestações que se seguiram à notícia do suicídio do presidente. No Rio, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e capitais do Nordeste, a multidão mostrava a cara e manifestava profunda revolta com o desfecho trágico da dura campanha oposicionista contra Vargas. O Exército interviria em várias cidades.
No Rio, armados de paus e pedras, populares percorreram o centro da cidade destruindo material de propaganda da oposição. Só o jornal “Ultima Hora” pôde ir para as bancas, pois os manifestantes incendiaram carros e exemplares de “O Globo” e da “Tribuna de Imprensa”, que tiveram grande atuação na campanha sem trégua que levara Getúlio Vargas ao suicídio. Em Porto Alegre, populares se concentraram no Comitê Central Pró-Candidatura Leonel Brizola, da ala esquerda do PTB, em busca de informações. De lá, saíram às ruas carregando fotos de Getúlio e bandeiras nacionais tarjadas de preto, em sinal de luto.
21 de agosto de 1981
CONCLAT: SINDICATOS
SE REÚNEM LIVREMENTE
Em desafio à ditadura e à legislação sindical autoritária, delegados de 1.091 sindicatos, urbanos e rurais, realizam entre 21 e 23 de agosto de 1981, a 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT). A principal decisão do encontro é eleger a Comissão Nacional Pró-Central Única dos Trabalhadores (Pró-CUT), organização sindical nacional e independente.
Mais de 5 mil delegados, na maioria eleitos diretamente pelas bases, participam do encontro. Foi a primeira reunião ampla de categorias diversas desde o Golpe de 1964. Estavam representadas todas as correntes do sindicalismo em suas diversas tendências políticas: os sindicalistas combativos, identificados com o PT; as oposições sindicais, com influência das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs); o bloco da Unidade Sindical, aliando dirigentes moderados, o PCB, o PCdoB e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8); os sindicalistas ligados às novas organizações de esquerda; além de associações e entidades pré-sindicais.
Esta publicação é fruto da parceria entre o Centro Sérgio Buarque de Holanda, da FPA, e o Memorial da Democracia. Os textos remetem a um calendário de eventos e personalidades da esquerda que é colaborativo e está em constante atualização. Envie suas sugestões por e-mail para [email protected]