Afeganistão: crepúsculo do império
Vinte anos depois de investir sobre o Afeganistão, após alimentar por uma década os jihadistas, incluindo Osama Bin Laden, contra a União Soviética, os americanos assistem impávidos à ascensão do Taliban e a queda de Cabul
A doce América, o porrete da democracia no mundo, sucumbiu na última semana ante a ascensão dos talibans, aqueles que um dia o presidente George W. Bush jurou combater até que entregassem o terrorista Osama Bin Laden, o homem que realizou o 11 de Setembro, em 2001, e promoveu o maior ataque aos Estados Unidos desde a invasão de Pearl Harbour pelos japoneses, em dezembro de 1941, quando os Estados Unidos entraram na 2ª Guerra Mundial.
Em 15 de agosto, a última cidade importante do Afeganistão, Cabul, caiu ante os pés dos “estudantes do Corão”. O Taliban retornou triunfante, como o movimento fundamentalista e nacionalista islâmico que se difundiu no Paquistão e, sobretudo, no Afeganistão, a partir de 1994. Entre 1996 e 2001, o Taliban governou três quartos do país. Agora, o dinheiro do ópio bastará para manter o grupo no poder? O que será da Pax Americana?
Durante duas décadas, a partir de 2001, os EUA reinaram no Afeganistão, jurando tornar aquela pátria uma força da democracia ocidental, banindo os mujahidin — os “combatentes que se empenham na luta (jihad)”, que os próprios americanos armaram e fomentaram quando os radicais em nome de Alá combatiam a União Soviética, como o próprio Bin Laden, durante a guerra que entre 1979 e 1989. Tudo em nome do anticomunismo.
Agora, o posto avançado dos EUA no Afeganistão resume-se a um lado do aeroporto de Cabul, um resquício caótico das tropas da retaguarda que tentaram salvar na última semana os desesperados afegão e os restos de dignidade e honra jogados de lado pelo presidente Joe Biden e a Casa Branca. A queda de Cabul é uma vergonha e poderia ter sido evitada ou adiada até que a situação na região ficasse menos tensa. Mas Washington preferiu deixar para trás seus aliados, que agora enfrentam os terríveis dilemas de vida ou morte. Ou cooperam com os radicais do Taliban ou morrerão como infiéis.
A queda de Cabul pode ser comparada à de Saigon, durante a Guerra do Vietnã. Em julho, Biden rejeitou a comparação, afirmando que “o Talibã não é o exército norte-vietnamita”. “Não haverá nenhuma circunstância em que você verá pessoas sendo resgatadas do telhado de uma embaixada dos Estados Unidos no Afeganistão”, disse. Na segunda, 16, a imprensa mundial mostrava funcionários da embaixada americana queimando documentos e helicópteros transportando diplomatas para o aeroporto”.