É tempo de semear esperança, ouvir o povo e retomar o diálogo para a reconstrução do país. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera todas as pesquisas para a corrida presidencial de 2022, colocou o pé na estrada na última semana e foi ao encontro do povo brasileiro. Com uma agenda de estadista, Lula iniciou uma jornada por seis estados do Nordeste, foi recebido por líderes políticos e de movimentos sociais e organizações da sociedade civil. “É possível reconstruir o nosso Brasil”, disse Lula, levou uma mensagem de esperança e força para o povo.

Essa foi a primeira vez que Lula percorreu o país, depois de ter ficado 580 dias preso injustamente em Curitiba, como reconheceu o Supremo Tribunal Federal. O ex-presidente esperou ser vacinado para começar a caminhar pelo país e, ainda em razão da pandemia de Covid-19, teve que cumprir uma agenda com restrições sanitárias, o que não permitiu a realização de atos públicos em massa. Isso não o impediu de tratar do futuro do país e denunciar os retrocessos impostos pelo governo Bolsonaro. Por onde andou — Pernambuco, Piauí e Maranhão —, Lula reacendeu o coração das pessoas e da militância.

A jornada do ex-presidente começou por Pernambuco, sua terra natal. Lula foi recebido pelo governador Paulo Câmara (PSB), e pelo prefeito de Recife, João Campos (PSB), em um jantar no Palácios das Princesas, sede oficial do governo. Ele agradeceu a receptividade dos líderes do PSB e disse que o diálogo é importante no momento em que o país está perdido e sem rumo, com Bolsonaro se descuidando do povo e colocando a Nação à beira do abismo. A caravana da esperança de Lula prossegue até 26 de agosto, quinta-feira. As próximas paradas são no Ceará, no Rio Grande do Norte e na Bahia. 

Ainda em Pernambuco, Lula colocou na pauta a importância da agricultura familiar e do combate à fome, em visita ao assentamento rural do MST no município de Moreno. “Quando tomei posse em 2003 muita gente achou que eu ia fazer um discurso revolucionário… Eu fui lá e disse: ‘Se ao final do meu mandato cada brasileiro puder tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida. Comer é sagrado. Eu sei o que é uma mãe não ter um leite pra dar pro filho. E enquanto tem gente fazendo turismo no espaço, milhões de pessoas morrem de fome no mundo, sobretudo crianças. Isso é inadmissível. Não existe explicação pra tanta gente passando fome no Brasil”, disse.

“Se o pequeno produtor tiver incentivo do Estado, esse país jamais passará fome. Quando estávamos no governo a agricultura familiar tinha preferência”, lembrou. “Criamos uma dezena de programas com trabalhadores rurais, como o PAA. Não só pra garantir a produção, mas também distribuição. A gente tem que lembrar sempre que o grande exportador do agronegócio não come o que ele produz. Quem produz o que vai pra mesa dele é o pequeno e o médio produtor brasileiro. E essa gente precisa ser valorizada”.

Lula participou, ainda, de um encontro com representantes dos movimentos sociais e dos povos indígenas no Recife. Depois de apresentações culturais e manifestações artísticas, ele fez um discurso em defesa da política e condenou as agressões sofridas por militantes e movimentos progressistas, em razão da escalada autoritária do governo Bolsonaro.

“Eu pensei que tinha cumprido a missão da minha vida quando conseguimos tirar o Brasil do Mapa da Fome. Pensei que a minha trajetória de luta tinha acabado”, ressaltou. “E foi então que eu aprendi uma coisa: um ser humano que tem uma causa só para de lutar quando ele morre”. Lula defendeu que não tem o direito de se aposentar, nem de ficar quieto e nem de carregar ódio e que o PT tem a obrigação de voltar a governar o Brasil.

No Piauí, a Caravana da Esperança desembarcou em Teresina, onde o ex-presidente participou com o governador Wellington Dias (PT) de um ato com estudantes. No Centro de Educação em Tempo Integral (CETI), no bairro Pedra Mole, na zona leste da capital piauiense, Lula defendeu a educação como um dos caminhos para a erradicação da fome. 

Ele destacou o legado dos governos petistas na educação e recordou que foi ao Piauí em 1980 numa caravanas. Disse que o estado era visto como o mais pobre e tratado de forma pejorativa, mas destacou que Wellington promoveu uma revolução. “Este estado, que há 40 anos era sinônimo de pobreza, de desemprego, de evasão escolar, de desnutrição e de mortalidade infantil, é hoje um dos que mais crescem economicamente e que tem uma das melhores qualidades de ensino, da creche à universidade”, lembrou.

Também ganhou destaque no ato em defesa da educação a fala do jovem Natanael Alves Dias, que era criança quando o Bolsa Família chegou à cidade dele, Guaribas, no interior do estado, e o ajudou a vencer a fome. “Eu fui beneficiado pelo Bolsa Família, depois entrei na escola integral do governo do estado e entrei na universidade pelo Enem e com bolsa do ProUni. Então, sou filho da revolução social que o governo do PT representa”, contou.

Ainda no Piauí, Lula fez uma visita a um centro de reabilitação de pessoas acometidas pela Covid-19. Ele lamentou o fato de não existir nenhuma iniciativa do governo federal para o tratamento pós-Covid, após ser informado pelo governador de que, além dos três centros existentes no Piauí, há apenas outros cinco no país, todos feitos com recursos estaduais.

“Por favor, mostrem para o Ministério da Saúde que é possível fazer. Ninguém deve morrer antes do tempo e é função do Estado impedir que isso aconteça”, disse. “Já deveria haver pelo menos um centro desses em cada capital do país”, indignou-se Lula, diante da falta de ação do governo Bolsonaro.

Apesar da pandemia já ter vitimado mais de 570 mil brasileiros, Bolsonaro não visitou nenhum centro de reabilitação de doentes. Mais que isso, o presidente da República segue boicotando o uso de máscaras e negando todas as medidas sanitárias recomendadas pela medicina baseada em evidências científicas para evitar a propagação do vírus.

No Maranhão, Lula desembarcou em São Luis na quarta-feira, 19, e foi recebido já no aeroporto pelo governador Flávio Dino (PSB). Em terras maranhenses, o ex-presidente recebeu o título de Guardião dos Territórios Indígenas, além de uma lança, um capacete e um colar indígena, símbolos de honra para os povos originários do Brasil. “Uma árvore em pé hoje é mais importante do que 60 pés de cana. É muito mais lucrativo. para o Brasil, para os indígenas e para toda a humanidade do que qualquer quantidade de soja”, disse.

Junto com Dino, o ex-presidente também acompanhou a vacinação da segunda dose dos trabalhadores da construção civil. Ali, falou sobre a importância do uso da máscara e do isolamento social para combater a pandemia, que já vitimou 570 mil brasileiros. Vidas perdidas pela negligência do governo federal e que, em sua maioria, poderia ter sido evitada. “A vacinação deveria ser obrigatória. É como a mãe que insiste pro filho tomar remédio e ele não quer”, lembrou Lula. “Ela insiste porque quer que o filho melhore. Eu já tomei duas doses, se falarem da terceira, tomo de novo. Eu acredito tanto na ciência que se precisar tomo vacina até na testa”, brincou.

Outro compromisso de Lula no Maranhão foi um encontro com movimentos sociais. “Nunca imaginei que depois dos avanços que tivemos na Constituição de 1988, a gente voltaria a uma situação de anomalia democrática”, lamentou. “Todos nós temos que refletir se em algum momento nós tivemos responsabilidade pelo que está acontecendo.

O ex-presidente avalia que oposição ainda não conseguiu mostrar à população que uma situação como esta, de ameaça de volta a uma ditadura, não é normal. Ao final do encontro com representantes de movimentos sociais, Lula disse que não acredita que a Câmara votará o impeachment de Bolsonaro e que o ex-capitão terá que ser tirado da Presidência pelo povo.