O Eder era uma pessoa única. Impossível de descrevê-lo ou defini-lo. Só’ quem conviveu com ele sabe que tipo de pessoa ele foi.

Circulando por todo o Brasil e inclusive fora do Brasil, sempre encontro pessoas que vem me dizer que conheceram o Eder. Sei que tenho que eles esse sentimento de tê-lo conhecido, de saber quem ele foi.

Eu tive o privilégio de ser o irmão dele e de ter nele o meu melhor amigo. Fomos o Negão – ele – e o Neguinho – eu -, os filhos da Nega – nossa mãe. Vivemos no mesmo quarto da mesma casa os primeiros 20 anos da minha vida. Deitados cada um na sua cama, com os pés na parede, passando a limpo o dia, o Brasil e todo o mundo.

Até hoje, mais de 30 anos da morte dele, tem gente que me chama de “Eder” e quando se dão conta, pedem desculpa, quando eu me sinto bem de ser chamado pelo nome dele.

Uma diferença – que terminaria a definir destinos distintos – para nós, é que, sendo filhos dos mesmos pai e mãe, de forma inexplicável, o Eder era hemofílico e eu não. Tínhamos a sensação de que ele viveria menos. Mas que não seria tão cedo. Ele foi vítima – como o Betinho e todos os seus irmãos – da Aids, tendo feito transfusão de sangue antes ainda, o que lhe foi fatal.

O Eder sempre foi a referência fundamental pra mim. Ele, quase dois anos mais velho, ia à frente e eu o seguia. Íamos sempre juntos.

Começamos a militância política juntos numa esquina da Brigadeiro Luis Antonio. O Michael Lowy nos deu um jornalzinho da Liga Socialista, com a foto de uns barbudos que tinha derrubado uma ditadura na América Central – naquela época não havia ainda o Caribe por aqui. Começamos a militância com a solidariedade com Cuba.

O Eder se encaminhou para as ciências sociais, orientado pelo nosso tio – Azis Simão, o primeiro professor cego da USP, sociólogo. Que mais tarde orientou o livro clássico – “Quando novos personagens entraram em cena”. Eu escolhi fazer filosofia – orientado pelo Jose’ Arthur Gianotti.

Militamos juntos, fomos juntos para a clandestinidade. Antes nos havíamos casado, tido o primeiro filho. Saímos ambos para o exilio. Nos reencontramos no Brasil e convivemos, com o mesmo gosto de sempre.

Até hoje sonho constantemente com o Eder, com a naturalidade como se continuássemos a conversar. Foi e continua sendo o meu melhor interlocutor, para conversar sobre tudo.

O Eder foi um militante político, um professor, um intelectual revolucionário. Mas, por sobretudo, foi um ser humano extraordinário. Extremamente sensível, adorava a música, a literatura e o cinema. Era um marxista de mão cheia. Criativo, antidogmático, formador de gerações de militantes – que até hoje me buscam para manifestar o peso que o Eder teve na vida deles. Eles pertencem a várias gerações, a um grupo enorme que teve o privilégio de ser formado teórica e politicamente pelo Eder.

Eu serei sempre o seu irmão menor, o irmão do Eder. Ele, o meu irmão mais velho, o meu maior exemplo, o meu maior amigo.