Desemprego nas alturas

Numa de suas mais acintosas declarações, o então candidato Bolsonaro disparou: “O trabalhador terá que escolher entre mais direito e menos emprego, ou menos direito e mais emprego”.

Nem uma coisa nem outra. O desemprego é um flagelo nacional e os direitos trabalhistas viraram ficção para a maioria da população. Eis o cenário atual, segundo os dados oficiais:

Pioram as condições de vida do povo

O quadro não é responsabilidade da pandemia apenas. Em janeiro de 2020, um mês antes do primeiro caso de Covid-19, o desemprego no Brasil havia atingido 11,9 milhões de pessoas (11,2%), e o total de pessoas fora da força de trabalho chegou a quase 66 milhões – um recorde desde 2012.

Além do desemprego e das ocupações por conta própria, o poder de compra das pessoas e das famílias é cada vez mais baixo. Alguém que ganha o salário mínimo precisa gastar 55% da renda mensal se quiser comprar os alimentos da cesta básica, segundo os dados mais recentes do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).  Isso é resultado da combinação da destruição do mercado de trabalho e da inflação.

 

Inflação e fome

Desemprego e trabalho precário (sem direitos sociais), no governo Bolsonaro, juntam-se à inflação que atinge vários produtos, especialmente os essenciais à vida, como alimentos e produtos para a casa.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), acumulado em 12 meses, chegou a 8,35% em junho, mas a Inflação de alimentos bateu 15,3%. Dentre os quais se destacam:

Pioram as condições de vida do povo

Esse tipo de inflação penaliza mais os pobres do que os ricos, porque são os trabalhadores e trabalhadoras que gastam a maior parte do que ganham com produtos essenciais, lembra a economista Juliane Furno. “Essa inflação acirra o conflito distributivo. Os mais ricos acabam gastando menos, porque os preços dos serviços – cabeleireira, escola particular, trabalhadora doméstica e outros – estão caindo”, diz Juliane.

E mesmo quando esse movimento de subida de preços se estabilizar, a situação será muito ruim para a classe trabalhadora, segundo a economista. “Quando o preço da comida parar de subir, os índices vão registrar que a inflação não existe mais. Porém, os aumentos anteriores vão permanecer, enquanto a renda dos trabalhadores vai continuar baixa”.

 

Choque nas tarifas

Energia elétrica, gás de cozinha, combustíveis. Todos esses preços têm o dedo do governo. A forma como são conduzidas as empresas estatais que devem operar nesses setores influenciam diretamente na inflação.

No caso dos combustíveis e da energia (que subiu 57% desde o início do atual governo), a venda de ativos como distribuidoras, e a paralisação de obras em andamento, como as plataformas de petróleo enferrujando em estaleiros, vão ajudando na inflação.

Outra decisão que prejudica o povo é permitir que as tarifas sigam os preços do mercado internacional, cotados em dólar. Hoje o dólar custa mais de R$ 5. Além disso, o governo deveria cuidar da produção interna, para garantir oferta dos produtos a preços compatíveis com a realidade do povo. O mesmo ocorre com a comida: o governo deveria manter estoques reguladores e estabelecer regras para conter a exportação, além de promover a agricultura familiar.

 

Aluguéis estouram o teto

Nos últimos 12 meses, até julho, a inflação dos aluguéis bateu em 34%, o maior índice desde a implementação do Plano Real. O cálculo é feito com base no Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM), da Fundação Getúlio Vargas.

Junto com os preços de outros itens, os aluguéis tendem a empurrar mais pessoas para a situação de rua. “Muitos despejos ocorrem sem ação judicial, por intervenção direta do proprietário. E isso escapa às estatísticas e o inquilino, sem informação, aceita”, esclarece Raimundo Bonfim, da coordenação de Central de Movimentos Populares (CMP).

Enquanto isso, a situação é crítica. Segundo a campanha Despejo Zero, 14.500 pessoas já foram desalojadas de ocupações durante a pandemia e mais de 90 mil outras estão sob ameaças de ordens de reintegração de posse já expedidas. “Estamos revertendo esses despejos com base na decisão do STF”, diz Bonfim, referindo-se à suspensão, por seis meses, de despejos e reintegrações de posse contra pessoas vulneráveis determinada pelo ministro Luís Roberto Barroso, em junho deste ano. Se dependesse de Bolsonaro, as pessoas continuariam sendo despejadas, sem proteção. Em junho, ele vetou decisão da Câmara dos Deputados neste sentido.