Em meados deste ano, o Grupo de Puebla, convicto da gravidade da pandemia e do profundo impacto que estava causando, e com o apoio de um grupo acadêmico de alto nível, aprovou uma Agenda Progressista para o Pós-pandemia que recolheu propostas relacionadas ao seu financiamento, bem como à necessidade de uma posterior reconstrução do tecido social, a reativação econômica e o fortalecimento da democracia como respostas aos desafios da pós-pandemia.

No plano social, denunciamos a vulnerabilidade dos trabalhadores do setor informal atingidos pelos confinamentos e as novas falhas na educação e a falta de conectividade em tempos de pandemia. Para superá-los, propõe a aprovação de uma renda básica solidária capaz de permitir amortecer o duro golpe provocado por quase dois anos de pandemia.

Mais recentemente, somou-se aos apelos para que a vacinação em nível global não acabe refletindo as assimetrias existentes entre o Norte desenvolvido e o Sul Global e para que, em função das necessidades objetivas, os países da imensa periferia possam ter acesso massivo à imunidade de rebanho. Daí a importância de que o Sul em uníssono e sem divisões, apoie a quebra imediata de patentes para a produção global de produtos biológicos.

Na mesma linha, o Grupo manifestou a necessidade de convocação de uma sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas para tratar de soluções para a pandemia e formas de reativar solidariamente as economias de todo o mundo, levando em conta as assimetrias nos graus de vulnerabilidade e desenvolvimento.

Também têm ecoado as propostas de mudanças nos termos da tributação internacional, como o acordado recentemente pelo G20 acerca de um imposto básico para as empresas transnacionais mais ricas, a começar pelas gigantes digitais, que deve ser pago nos países onde são gerados lucros ao invés de transferi-los para paraísos fiscais, sonegando impostos.

O Grupo de Puebla tem pela frente enormes desafios e, nestes dois anos, tem demonstrado a força de espaços de “concertación” da sociedade civil, que no curto e médio prazos deverá significar uma América Latina mais progressista, ou seja, mais justa, mais sustentável e integrada. É o único caminho para não regressar ao dramático quadro de região mais desigual do planeta. Neste esforço, não pode deixar de submeter se aos princípios da democracia, dos direitos humanos e da paz que o norteiam.

Não poderíamos concluir este balanço sem fazer uma breve, mas clara referência à recente decisão do governo dos Estados Unidos de endurecer ainda mais o bloqueio que mantém contra Cuba, de forma ilegal e desumana há mais de 60 anos. Esta decisão equivocada trará consequências negativas no caminho de construção de um novo relacionamento na região, depois do governo de Donald Trump.

Felizmente, ventos progressistas sopram na região, a exemplo da eleição dos novos governos da Argentina, Bolívia, México e Peru, a instalação da Assembleia Constituinte social e paritária no Chile, as históricas mobilizações dos jovens na Colômbia e a proposta de um Novo Modelo Solidário de Desenvolvimento.Cinco princípios que nos uniram desde o nosso surgimento republicano: liberdade, igualdade, justiça, democracia e soberania.

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