Lula, Rafael Correa, Chico Buarque, Noam Chomsky, Jane Fonda, Cornel West, Gleisi Hoffmann e mais de 400 intelectuais, líderes políticos, clérigos, artistas de todo o mundo escrevem carta aberta a Joe Biden, exigindo que levante imediatamente o bloqueio à ilha

 

Um documento político, assinado por 400 intelectuais, líderes políticos, artistas e clérigos de todo o mundo, foi publicado na sexta-feira, 23, em anúncio de página inteira no jornal The New York Times, exigindo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o fim do bloqueio à Cuba. A iniciativa partiu do Martin Luther King Memorial Center e das organizações The People’s Forum e Codepink. O documento se chama “Deixem Cuba viver”.

“Parece inconcebível, especialmente durante uma pandemia, bloquear intencionalmente remessas e o uso de instituições financeiras globais para Cuba, visto que o acesso a dólares é necessário para a importação de alimentos e medicamentos”, diz a carta, assinada pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Rafael Correa (Equador), além de intelectuais como Noam Chomsky, Frei Betto, Chico Buarque e Atilio Borón.

Também subscrevem a carta o cineasta Oliver Stone e os atores Danny Glover, Jane Fonda, Wagner Moura e Susan Sarandon, entre outros. “É hora de dar um novo rumo às relações EUA-Cuba. Nós, abaixo assinados, estamos fazendo este apelo público e urgente a vocês para que rejeitem as políticas cruéis postas em prática pela Casa Branca de Trump, que criaram tanto sofrimento entre o povo cubano”, aponta o texto.

A carta a Biden diz que Cuba, um país de onze milhões de habitantes, vive uma crise difícil devido à crescente escassez de alimentos e medicamentos. “Protestos recentes chamaram a atenção do mundo para isso. Embora a pandemia de Covid-19 tenha se mostrado um desafio para todos os países, o foi ainda mais para uma pequena ilha sob o peso de um embargo econômico”, lembra os subscritores do manifesto.

“Quando a pandemia atingiu a ilha, seu povo — e seu governo — perderam bilhões em receitas do turismo internacional que normalmente iriam para o sistema público de saúde, distribuição de alimentos e ajuda econômica”, lembra o documento. “Durante a pandemia, a administração de Donald Trump endureceu o embargo, colocou de lado a abertura de Obama e colocou em prática 243 ‘medidas coercivas’ que intencionalmente estrangularam a vida na ilha e criaram mais sofrimento”.

Diz o documento: “A proibição de remessas e o fim dos voos comerciais diretos entre os Estados Unidos e Cuba impedem o bem-estar da maioria das famílias cubanas”. E continua: “‘Apoiamos o povo cubano’, escreveu o senhor em 12 de julho. Se for esse o caso, pedimos que assine imediatamente uma ordem executiva e anule as 243 ‘medidas coercitivas’ de Trump”.

Os missivistas apontam que não há razão para manter a política da Guerra Fria, que exigia que os EUA tratassem Cuba como um inimigo existencial em vez de um vizinho. “Em vez de manter o caminho traçado por Trump em seus esforços para desfazer a abertura do presidente Obama a Cuba, pedimos que sigam em frente. Retomar a abertura e iniciar o processo de encerramento do embargo. Acabar com a severa escassez de alimentos e medicamentos deve ser a principal prioridade”, diz o texto.

“Em 23 de junho, a maioria dos estados membros das Nações Unidas votou para pedir aos EUA o fim do embargo. Nos últimos 30 anos, esta tem sido a posição consistente da maioria dos Estados membros”, lembra o documento. “Além disso, sete relatores especiais da ONU escreveram uma carta ao governo dos Estados Unidos em abril de 2020 sobre as sanções contra Cuba. ‘Na emergência da pandemia’, escreveram eles , ‘a falta de vontade do governo dos Estados Unidos em suspender as sanções pode levar a um risco maior de sofrimento em Cuba’”.

Ao final do documento, os subscritores insistem: “Pedimos que acabem com as ‘medidas coercitivas’ de Trump e voltem à abertura de Obama ou, melhor ainda, iniciem o processo de fim do embargo e normalização total das relações entre os Estados Unidos e Cuba”. •

A íntegra da carta no site Let Cuba Live.