Em entrevista à TV italiana ‘Sky tg24’, ex-presidente volta a cobrar do G20 quebra de patentes. E volta a criticar Bolsonaro e o papel dos EUA na colaboração suspeita com a Lava Jato

 

Na mesma semana em que a OMS e a OMC, duas das mais importantes agências da ONU, reconheceram o fracasso na distribuição de vacinas às economias mais pobres, o presidente Lula voltou a enfatizar a necessidade de uma reestruturação das Nações Unidas. Para Lula, a mudança está no cerne da construção de uma nova governança global.

O primeiro passo está na quebra das patentes das vacinas, insiste o ex-presidente. Ele fez a defesa em entrevista ao programa italiano Sky tg24, na sexta-feira, 23. “Vacina não deve ser só para quem pode comprar, mas para todos os seres humanos”, disse. Lula enalteceu as relações do Brasil com a União Europeia, em especial a Itália e lembrou do papel dos EUA na Lava Jato.

“Acho que falta uma governança global que leve em conta a realidade do mundo de hoje”, disse. “As Nações Unidas hoje não representam mais a geopolítica atual”. Na avaliação do ex-presidente, a solução para a pandemia deve ser global, com os países mais ricos assumindo a responsabilidade no enfrentamento da crise.

“Há muito tempo venho dizendo que a vacina deve ser um bem para a humanidade”, justificou, ao abordar a quebra das patentes dos medicamentos. “Os países ricos devem ser capazes de garantir que todos os países – independentemente de sua condição econômica — possam receber vacinas”, disse. “Porque todos os habitantes do planeta têm o direito de serem tratados com dignidade”. Ele lembrou que, num mundo globalizado, “sempre há uma maneira de marginalizar uma parte da humanidade”.

“Já mandei mensagem a [Joe] Biden, a [Emmanuel] Macron, a Angela Merkel, para a China… As vacinas devem chegar a quem não tem chance”, cobrou. “Então, se eu pudesse enviar uma mensagem ao [Mario] Draghi [primeiro-ministro da Itália], eu diria que é importante que na reunião do G20, em outubro, a decisão [de quebrar parentes] seja tomada por todos os países, para compensar as deficiências nos países mais pobres. O apelo que gostaria de fazer é o seguinte: a vacina não é só para quem pode comprar, mas para todos os seres humanos”, disse.

Sobre a Lava Jato, foi taxativo: ‘Temos provas da participação do Departamento de Justiça dos EUA, temos provas da participação de procuradores americanos”, disse. ‘Houve interferência em meu encarceramento porque uma mentira foi contada a meu respeito”, contou.