#24J Pela democracia e pela vida: todos nas ruas

Na quarta onda de protestos, 600 mil pessoas tomaram as ruas em todos os estados do país e no exterior: Fora, Bolsonaro!

 

Manifestações massivas marcaram o #24J, a nova onda de protestos ocorridas no sábado. Um dia de luta para o povo brasileiro contra o governo do presidente genocida. A luta pelo impeachment de Bolsonaro, em protesto pelas quase 550 mil mortes pela pandemia de Covid-19, pela volta do auxílio emergencial de R$ 600 e por vacina para todos.

Os atos reuniram 600 mil pessoas, de acordo com os organizadores, que protestaram contra a volta da fome, do desemprego e da inflação e as ameaças autoritárias do General Braga Netto e do presidente da República, que atenta, contra a democracia. A luta de todos que tomaram as ruas foi também pela defesa dos direitos dos trabalhadores e contra todos os retrocessos civilizatórios que o governo Bolsonaro representa.

As manifestações começaram cedo, com grandes atos realizados em cidades como Rio de Janeiro e Salvador pela manhã. À tarde, a onda de protestos continuou reunindo multidões em Brasília, Porto Alegre, Recife, Florianópolis e São Paulo. Em todos os locais, os militantes e populares se preocuparam em manter o distanciamento sempre que possível e não dispensaram o uso de máscaras.

Os atos do #24J foram somaram mais de 500 manifestações em 495 cidades e 18 países. Os protestos foram organizadas pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, que em conjunto agregam mais de uma centena de organizações sociais. Além disso, os protestos foram realizados pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro, que reúne as centrais sindicais e diversos partidos da oposição —  PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB, PSTU, PCB, PCO e UP —, além de organizações como a União Brasileira dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).

Em São Paulo, a Avenida Paulista ficou tomada de gente nos dois sentidos, repetindo a cena vista em 29 de maio, 19 de junho e 3 de julho, quando ocorreram os três primeiros protestos. Um dos discursarem no caminhão principal, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) exaltou os participantes: “Nós estamos aqui com vocês até a última gota de suor para tirar o genocida do Palácio do Planalto”.

Haddad falou a uma multidão estimada em 100 mil pessoas. Ele disse que, desde a redemocratização, no começo dos anos 80, nunca foi tão importante a manifestação dos cidadãos a favor da democracia e pela responsabilização de um governo que se provou genocida e corrupto. “Bolsonaro é um governo de provocação permanente, que testa a paciência dos democratas. E está recebendo a resposta dos democratas”, disse.

“Acredito que os atos de rua vão crescer. Penso que temos de acolher todos aqueles que se opõem a esse governo. Temos de tirar esse governo, preferencialmente pelo impeachment, ou pelas urnas em 2022”, declarou. “Bolsonaro encarna um sentimento, poderia dizer que é uma recidiva de uma série de maldades que a gente julgava superadas: um discurso de ódio, de racismo. Mas temos esperança, porque as pessoas estão reagindo”.

Os atos do #24J foram puxados pela desastrada tentativa de tutela da democracia pelo do ministro da Defesa, General Braga Netto. Segundo o Estadão, o militar mandou aviso ao presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) que se não houver voto impresso, não serão realizadas eleições no ano que vem. As declarações do general provocaram forte reação das instituições, de parlamentares e da imprensa.

O #24J foi a quarta grande mobilização popular contra Bolsonaro neste ano. Em 3 de julho, mais de 800 mil pessoas tomaram as ruas do país em mais de 360 cidades, exigindo a saída de Bolsonaro da Presidência. Em 19 de junho, foram 750 mil manifestantes em 400 cidades. E, em 29 de maio, 470 mil pessoas em 213 cidades dos 26 estados e do Distrito Federal e em 14 cidades no mundo.

A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), e a deputada Erika Kokay (DF) acompanharam a manifestação em Brasília, onde milhares marcharam na Esplanada dos Ministérios. “Não adianta o genocida fazer motociata e ameaçar. Tem resistência e luta”, afirmou Gleisi. Já no Nordeste, o deputado José Guimarães (CE) foi com seus conterrâneos às ruas de Fortaleza, onde a organização estimou a participação de 30 mil pessoas. “Foi grande, foi forte e com muito apoio por onde a caminhada passou. O Brasil vai se unindo pelo impeachment de Bolsonaro”, comemorou.

No Sul do país, a deputada Maria do Rosário (RS) celebrou a força do protesto na capital gaúcha: “Imensa e linda caminhada pelas ruas de Porto Alegre. Nossa cidade dá um grito de basta ao autoritarismo, ao genocídio, à violência e a tudo de ruim que Bolsonaro representa. Queremos viver com alegria, dignidade e esperança”. E, no Norte, o líder do PT no Senado, Paulo Rocha, acompanhou a passeata na capital do Pará, Belém.

Presente no ato de São Paulo, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, saudou o que chamou de “um dia histórico”. “Desde a manhã, a classe trabalhadora, o povo brasileiro, ocupou as ruas nos 27 estados da federação, e não só nas capitais. O movimento está indo para o interior. A sociedade brasileira tomou consciência”, disse.

“A gente quer um país melhor, não quer ver mais famílias inteiras pedindo auxílio nas calçadas, passando fome, um terço da nossa população desempregada, essa tragédia de mais de meio milhão de brasileiras e brasileiros mortos e, mais triste ainda, 130 mil crianças que perderam os pais”, completou.

Pela manhã, o maior protesto ocorreu no Rio de Janeiro, com a participação de 70 mil a 75 mil pessoas, pelos cálculos do Bloco Democrático, grupo que organizou o ato e reúne movimentos sociais, centrais sindicais e partidos de esquerda. A concentração começou às 10h na Avenida Presidente Vargas, em frente ao monumento em homenagem a Zumbi dos Palmares. De lá, os participantes seguiram a pé até a Praça da Candelária.

Salvador foi outra capital que reuniu dezenas de milhares de manifestantes logo pela manhã. O protesto começou às 10h30, no bairro de Campo Grande, e se deslocou até o Centro Histórico. Além de pedidos por mais vacinas e de Fora Bolsonaro, o movimento trouxe outras pautas, como a luta contra a privatização dos Correio. No estado, cidades como Feira de Santana, Alagoinhas e Barreiras também tiveram atos. “Aqui na Bahia, o recado foi dado: o povo quer vacina no braço, comida no prato, emprego e dignidade”, disse o senador Jaques Wagner (PT-BA).

Com Bolsonaro o Brasil atravessa uma das maiores crises da sua história recente. De acordo com o IBGE, são 14,8 milhões de desempregados, 33,3 milhões de subutilizados e 6 milhões de desalentados. Além disso, a inflação dos últimos 12 meses foi de 8,06%, com o preço do botijão de gás superando os R$ 100 em diversas cidades e a alta no preço dos alimentos reduzido o poder de compra das famílias.

O povo não aguenta mais os retrocessos liderados pelo governo Bolsonaro. A desigualdade social está avançando no país desde o afastamento do PT da Presidência da República, com a derrubada de Dilma Rousseff. Agora, 14,5 milhões de famílias brasileiras voltaram para a extrema pobreza, tendo que sobreviver com uma renda de R$ 89 per capita por mês. Outras 2,8 milhões de famílias estão em situação de pobreza — vivem com renda entre R$ 90 e R$ 178 por membro da família por mês.