30 anos sem Gonzaguinha
Em 29 de abril de 1991, em um acidente de carro ocorrido no interior do estado do Paraná morreria um dos mais importantes e engajados artistas brasileiros: Luiz Gonzaga do Nascimento Junior, o Gonzaguinha (1945 a 1991). Filho do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha trilhou na música brasileira um caminho diferente do pai. Criado no morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, o cantor e compositor que iniciou sua brilhante carreira no MAU (Movimento Artístico Universitário), nos idos de 1970, foi notabilizado como o “cantor rancor”. É autor de inúmeras canções de protesto contra o regime militar.
Por sua postura ativa e absolutamente crítica, Gonzaguinha teve mais de 54 composições censuradas pelo regime. Uma delas, “Comportamento Geral”, foi seu primeiro grande sucesso: “Você deve notar que não tem mais tutu, e dizer que não está preocupado. Você deve lutar pela xepa da feira e dizer que está recompensado… Você deve aprender a baixar a cabeça e dizer sempre: muito obrigado. São palavras que ainda te deixam dizer, por ser homem bem disciplinado… Você merece, você merece. Tudo vai bem, tudo legal. Cerveja, samba e amanhã seu Zé. Se acabarem com seu carnaval”.
No final da ditadura, Gonzaguinha dá uma virada na carreira e começa a compor canções que ficaram célebres nas vozes de Elis Regina, Maria Bethânia, Fagner, entre outros. “Começaria tudo outra vez”, “Explode coração”, “Grito de alerta” e “Maravida, é”, dentre outras, embalaram o cancioneiro popular e continuam até os dias de hoje como sucesso espetacular.
Crítico feroz do tratamento que as gravadoras e empresários davam aos artistas brasileiros, o artista resolveu no início da década de 1980 romper com o esquema e montar seu próprio selo, Moleque, onde gravou seus últimos trabalhos.
Gonzaguinha foi um militante da luta contra a ditadura e um entusiasta da democracia. Participou de inúmeras campanhas e movimentos reivindicatórios e da luta pela anistia. Apresentou-se inúmeras vezes nos festivais da “Voz da Unidade”, jornal do antigo PCB, vinculando-se posteriormente aos novos ares trazidos à esquerda brasileira pelo movimento operário do ABC paulista e ao Partido dos Trabalhadores.
Desiludido com a perda de áreas livres e pela excessiva urbanização e proliferação do trânsito no Rio, Gonzaguinha decidiu morar em Belo Horizonte. Pouco antes do fatídico acidente que o vitimou, juntou-se ao pai, Gonzagão, em uma série de shows pelo Brasil que rendeu a edição de um álbum duplo “Vida de viajante”. O show marcou o fim das diferenças entre pai e filho, motivadas por percepções distintas da política, já que Luiz Gonzaga, de espírito conservador, incomodava-se com as posições de esquerda do filho.
Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o “moleque” Gonzaguinha nos deixou aos 45 anos de idade e no auge da carreira. “Era uma vez eu no meio da vida. Essa coisa assim, tanto mar. Coisa de doce e de sal, essa vida assim, tanto mar… A vida, vida, vida que seja do jeito que for. Mar, amar, amor. Se a dor quer o mar dessa dor. Quero meu peito repleto de tudo que eu possa abraçar”.
Ah, Gonzaguinha… Que falta você nos faz!