Em um ano, 3,3 milhões de pessoas foram excluídas do mercado de trabalho, de acordo com levantamento do IBGE. Menos da metade da população em idade de trabalhar mantém alguma ocupação. A crise no emprego é fruto da política de austeridade suicida de Bolsonaro e Guedes, não apenas a pandemia

 

O Brasil permanece mergulhado numa crise social sem precedentes, apesar das comemorações sobre o PIB, enaltecido pela mídia comercial e o governo. Mais de 3 milhões de pessoas perderam suas ocupações entre abril do ano passado e abril de 2021. Essa é apenas uma das más notícias da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada na quarta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números mostram a tragédia no mercado de trabalho nacional, fruto da política econômica destrutiva de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.

De acordo com o IBGE, a taxa de desocupação no país chegou a 14,7% no trimestre fechado em abril, 0,4 ponto percentual acima do trimestre encerrado em janeiro (14,2%). O número de desempregados variou 3,4%, com mais 489 mil desocupados, totalizando 14,8 milhões de pessoas. Essa taxa e o contingente de desocupados mantêm o recorde registrado no trimestre encerrado em março, o maior da série desde 2012. “O cenário foi de estabilidade da população ocupada (85,9 milhões) e crescimento da população desocupada, com mais pressão sobre o mercado de trabalho”, afirma a analista Adriana Beringuy, do IBGE.

O país alcançou uma taxa de informalidade de 39,8% no mercado de trabalho no trimestre até abril, com 34,2 milhões de trabalhadores atuando informalmente, segundo os dados da Pnad Contínua.

Um quadro muito diferente quando o PT estava à frente do governo. O Brasil fechou 2014, quando Dilma Rousseff foi reeleita com 54,5 milhões de votos, com a menor taxa de desemprego da história do país. Na média do ano, ficaram sem trabalho 4,8% dos brasileiros pesquisados pelo IBGE em seis regiões metropolitanas do país – Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Porto Alegre). Essa era a menor taxa de desemprego desde 2003, quando o instituto adotou a metodologia atual de análise. Em 2013, o desemprego tinha sido de 5,4%.

 

Golpe piorou trabalho

Após o Golpe de 2016, mesmo com as promessas de emprego, os governos Temer e Bolsonaro levaram o país a maior crise em seu mercado de trabalho, mesmo depois de aprovarem duas reformas trabalhistas que, em vez de ajudarem, pioraram o quadro de emprego no país.

Segundo o IBGE, o nível de ocupação (48,5%) no país no trimestre de abril continua abaixo de 50% desde maio do ano passado. Isso indica que menos da metade da população em idade para trabalhar está ocupada no país. “Ainda registramos perdas importantes da população ocupada (-3,7%), mas já tivemos percentuais maiores. Estamos observando, portanto, uma redução no ritmo de perdas a cada trimestre. No cômputo geral, contudo, temos menos 3,3 milhões de pessoas trabalhando desde o início da pandemia”, pondera Beringuy.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), presidenta nacional do PT, reforçou as críticas ao governo e atribuiu a responsabilidade pelo flagelo social no país à agenda econômica imposta por Bolsonaro e Guedes. “Brasil sob Bolsonaro é só recorde: 14,8 milhões de brasileiros desempregados, 6 milhões de pessoas desistiram de procurar trabalho, 34,2 milhões de pessoas na informalidade. Além de genocida e corrupto, incompetente”, atacou.

O deputado Henrique Fontana (PT-RS) lembra que o desastre é anterior à pandemia do coronavírus. “Jurema Werneck aponta que em 2019 era notório o aumento do desemprego, da insegurança alimentar e da precariedade do trabalho informal e que, quando chegou a pandemia, governo não fez políticas públicas para enfrentar essa situação”, criticou. “Bolsonaro escolheu deixar o Brasil passar fome”, diz o parlamentar gaúcho.

Entre as categorias profissionais, somente os trabalhadores por conta própria cresceram, de acordo com o levantamento do IBGE — 2,3%, ou mais 537 mil pessoas —, totalizando 24 milhões. “Essa forma de inserção no mercado tem um contingente mais elevado agora do que em abril de 2020. Observamos uma reação maior no trabalho por conta própria do que no emprego com carteira no setor privado”, diz a analista do IBGE.

 

 

Famílias mais endividadas

Além do desemprego recorde e das dificuldades agravadas pela pandemia e a política econômica de austeridade que amplia a desigualdade, as famílias brasileiras enfrentam mais dificuldades por conta do endividamento crescente. Dados da Confederação Nacional do Comécio aponta que as fragilidades no mercado de trabalho, a inflação mais elevada e o menor valor do auxílio emergencial para os informais este ano estão pesando em casa.

O endividamento das famílias chegou, em junho, a 69,7%, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC. É o maior patamar da série histórica da pesquisa, iniciada em 2010, e representa uma alta de 1,7 ponto percentual frente a maio, quando estava em 68%. Em junho de 2020, a taxa estava em 67,1%.

O indicador considera o total de famílias que relatam ter dívidas, seja com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal ou prestação de carro e de casa.

Já a parcela das famílias com dívidas ou contas em atrasos aumentou de 24,3% em maio para 25,1% em junho. Neste caso, o patamar de junho de 2020 era superior (25,4%). Também avançou o percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso – ou seja, ficarão inadimplentes: passou de 10,5% em maio para 10,8% em junho. Há um ano, em junho de 2020, o nível era 11,6%.