Segundo o servidor Luis Ricardo Miranda, as estranhezas no processo de aquisição da Covaxin chamaram-lhe atenção imediatamente, quando recebeu a papelada para exame. O recibo apresentado pela Precisa para fechar uma compra de 20 milhões de doses da vacina exigia pagamento antecipado e descrevia um número menor de imunizantes do que o que constava no contrato. Para piorar, o recibo, chamado de invoice, estava no nome de uma empresa offshore, Madison Biotech, sediada em Singapura. As discrepâncias levantaram a desconfiança do servidor, que não deu prosseguimento ao processo da Precisa.

No total, seriam pagos antecipadamente U$ 45 milhões por 3 milhões de doses da vacina Covaxin. O valor custaria mais do que o valor de U$ 15 (R$ 80,70) por cada vacina. Os preços superam vacinas como a Pfizer e AstraZeneca. Além disso, à época da assinatura do contrato, em fevereiro, não havia autorização da Anvisa para uso do imunizante no Brasil. O órgão sempre foi citado por Jair Bolsonaro como fator determinante para aprovação de qualquer medicamento. Mesmo assim, o governo empenhou R$ 1,6 bilhão para a compra de 20 milhões de doses do imunizante indiano.

Curiosamente, a autorização para a compra da vacina Covaxin foi dada por Regina Celia, indicada pelo mesmo Ricardo Barros à pasta. O senador Humberto Costa (PT-PE) apresentou requerimento para convocar a servidora do Ministério da Saúde. Ricardo Barros também deverá ser convocado.

“Existe nesse governo uma empresa VIP. Quem indicou essa empresa?”, questionou o senador Humberto Costa (PT-PE), no depoimento na sexta-feira, 25, quando a CPI ouviu os irmãos Luís e Ricardo Miranda. Que Ministério da Saúde é esse que aceita como intermediário para compra de vacina uma empresa [Global] que já tinha dado um golpe no Ministério da Saúde?”, indagou o senador. “Se o governo era tão preocupado com o preço, por que foi atrás da vacina mais cara? Volto a questionar, qual é o valor de uma vida pra Bolsonaro?”, insistiu Costa.

Sobre os alertas de Luis Miranda a Bolsonaro, Humberto Costa foi incisivo: “No governo que é presidido por alguém que é contra a corrupção, se eu recebesse um deputado federal, da minha base, e um servidor público, com documentos, dizendo que havia possibilidade de corrupção em um processo, eu teria chamado a Polícia Federal para abrir um inquérito”. Em vez disso, pontuou o senador, Bolsonaro colocou a PF para investigar o servidor. “É esse o governo “imaculado” que temos no nosso país”, alerta.