Bolsonaro volta a promover a barbárie e anuncia que o governo federal vai desobrigar o uso de máscaras para aqueles que já tiveram Covid ou foram vacinados

 

Com o Brasil próximo de atingir a trágica marca de 500 mil mortos por Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro voltou a espantar o mundo com declarações negacionistas e mentirosas sobre o enfrentamento da pandemia no país. Ele anunciou que o governo vai recomendar aos brasileiros que já tiveram Covid, ou aqueles que já foram vacinados, sejam dispensados do uso de máscaras – um protocolo básico recomendado por infectologistas e pela Organização Mundial da Saúde.

Além das declarações estapafúrdias em torno da liberação da máscara – um disparate, segundo especialistas e médicos – o presidente também voltar a promover novos ataques contra a China e colocou em dúvidas a eficácia das vacinas e as medidas não farmacológicas de contenção da expansão do vírus. Sem se importar com o cerco da CPI à sua declarada estratégia que já provocou a morte de 485 mil brasileiros, Bolsonaro volta a assombrar.

Durante culto evangélico em Goiás, na quarta-feira, 9, o presidente insinuou que o coronavírus foi criado propositalmente em um laboratório chinês. “Depois tivemos um problema seríssimo, a tal da pandemia. Ainda, eu não tenho provas, mas esse vírus nasceu de um animal ou de um laboratório?”, questionou. “Eu tenho da minha cabeça de onde ele veio e para quê. Mas ele está aí, está entre nós”, disse.

As agressões de Bolsonaro à China ocorrem quando a vacinação em massa patina no Brasil em razão da falta de insumos e vacinas importadas daquele país. Em maio, o ex-capitão afirmou que existia uma “guerra química” e que a China foi o país que mais cresceu durante a pandemia.

Além disso, Bolsonaro colocou em dúvidas a eficácia das vacinas contra a Covid-19 e defendeu, sem apresentar provas, que o vírus foi politizado para prejudicar o governo. “A vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está experimental”, disse. “Passamos momentos difíceis. Começou-se a utilizar politicamente o vírus, ‘vamos fechar tudo, lockdown, toque de recolher, que a gente pela economia tira esse cara daí’”.

As declarações mentirosas do presidente não pararam por aí. Em live nas redes sociais, na quinta-feira, 10, Bolsonaro declarou que “milagre” para o Brasil ter “poucos óbitos” foi o tratamento precoce. “O tratamento inicial dá certo e fui um dos raros chefes de Estado que apostou nisso. O milagre, com toda a certeza, depois de termos, uma vez, apurado esses números aqui, pelo menor número de mortes por milhão de habitantes é o tratamento inicial, é o remédio da malária e do piolho. Não tem outra explicação”, afirmou.

As declarações de Bolsonaro esbarram na realidade. No Brasil, morrem quatro vezes mais pessoas por Covid-19 do que a média mundial. Em todos os levantamentos, o país está entre os que mais morrem pessoas pela pandemia no mundo, quando considerado o número de óbitos em relação ao tamanho da população. Informações da publicação digital especializada “Our World In Data”, do início de maio, colocam o Brasil como a Nação com mais mortes por Covid-19 em relação à sua população entre aquelas mais populosas do planeta.

Sobre o uso da cloroquina, diversas instituições de saúde, incluindo a Organização da Mundial da Saúde (OMS), tem alertado para a ineficácia do medicamento e de outros – como a hidroxicoloriquina e a ivermectina – para o tratamento da Covid-19. Os próprios fabricantes e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já se posicionaram publicamente reconhecendo a ineficácia comprovada do chamado “tratamento precoce”.

O mentiroso continuou a aprontar ao longo da última semana. Para minimizar o desastre da condução desastrosa do enfrentamento da pandemia no Brasil, Bolsonaro citou um relatório falso produzido por um auditor do Tribunal de Contas da União, que menciona supernotificação dos números de mortes por Covid-19 no país.  Segundo o documento fraudulento, 50% das mortes pela pandemia em 2020 tiveram outras causas. Entretanto, o próprio TCU desmentiu a existência do relatório e o auditor confessou ter inserido os dados falsos no sistema, foi afastado. O relatório havia sido encaminhado a Bolsonaro pelo pai do auditor, que é amigo pessoal do presidente.

Na contramão do mundo, durante cerimônia no Palácio do Planalto, ainda na quinta, Bolsonaro afirmou que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, está preparando um parecer para desobrigar o uso de máscara para quem se vacinou ou contraiu Covid.

“Acabei de conversar com um tal de Queiroga, não sei se vocês sabem quem é, nosso ministro da Saúde. Ele vai ultimar (sic) um parecer visando a desobrigar o uso de máscaras para aqueles que estão vacinados ou que já foram contaminados para tirar esse símbolo que obviamente tem utilidade para quem está infectado”, anunciou, sob aplausos da plateia de apoiadores.

A reação foi imediata. O próprio ministro Marcelo Queiroga reconheceu que o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras depende do avanço da vacinação. Já o presidente do Fórum dos Governadores, Wellington Dias (PT-PI), comparou a iniciativa de Bolsonaro com jogar querosene em um incêndio, enquanto todos tentam apagar o fogo.

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