Mais de uma vez na história, a extrema direita usa de golpes de Estado para tomar o poder, especialmente na América Latina. Exemplo recente desse expediente foram as eleições da Bolívia, em 2020, quando até a OEA, desmascarada posteriormente por estudos de diversas universidades, foi utilizada como instrumento para deslegitimar os resultados das urnas e impedir a eleição de Evo Morales.

Donald Trump, referência da extrema direita mundial e de Bolsonaro, flertou com a tentativa de um golpe nos Estados Unidos. Sem qualquer prova ou indício, Trump questionou o processo eleitoral americano, não reconheceu a ampla vitória de seu concorrente, Joe Biden, e pressionou autoridades de alguns colégios eleitorais. Em um último ato de desespero, incentivou a inédita invasão do Capitólio, mas a solidez das instituições norte-americanas prevaleceu e a democracia daquele país resistiu.

Bolsonaro, que nunca escondeu sua vocação golpista, vem adotando estratégia similar. Desde 2018, questiona a idoneidade da urna eletrônica, que elegeu FHC, Lula, Dilma, o próprio Bolsonaro, os filhos dele, além de governadores e todo o parlamento. Por meio de fake news, procura desmoralizar o reconhecidamente exitoso processo eleitoral brasileiro.

Ao mesmo tempo, o ex-capitão promove ataques permanentes às instituições democráticas, como o STF e Congresso, por meio de manifestações pelo país, mesmo em tempos de pandemia, como os recentes cortejos da morte em Brasília e no Rio de Janeiro. Também promove viagens oficiais para atacar membros da CPI da Covid, como fez em Alagoas.

É evidente que, à medida que perde apoio popular, com Lula liderando pesquisas em todos os cenários, Bolsonaro radicaliza o discurso para inflar e manter a base obscurantista radical e, em certa medida, armada. Apostando cada vez mais na polarização, o trabalha com a ideia de levar as eleições, mesmo se perder.

Soma-se a isso, a grave participação de Eduardo Pazuello, um general da ativa, nas manifestações contra a democracia, uma atitude que agride a lei e o regimento militar. O Exército precisa reagir publicamente para evitar que a quebra de disciplina e da hierarquia contamine demais instâncias da tropa.

Outro ponto de atenção é a participação de Carlos Bolsonaro em licitação do Ministério da Justiça para a compra de um software espião, retirando a prerrogativa de investigação do Judiciário. Esse é um indício claro da formação de uma Abin paralela para alimentar o gabinete do ódio e a tentativa golpista de Bolsonaro.

Em 2016, o golpe contra Dilma pariu Bolsonaro. Agora, precisamos de uma forte mobilização da sociedade e de uma ampla aliança das forças democráticas, especialmente no segundo turno das eleições, para derrotar de forma definitiva o golpismo de Bolsonaro e tudo que ele representa. O que o Brasil mais precisa é de mais e mais democracia.