Por Elvino Bohn Gass *

 

O banho de sangue patrocinado pela polícia do Rio de Janeiro na favela do Jacarezinho, no dia 6, com a morte de 27 moradores e de um policial, merece o repúdio de quem preza os valores humanos e a lei. Foi um ato de  barbárie no estado onde surgiram as milícias e também um presidente da República que é unha e carne com milicianos e esquemas criminosos que continuam funcionando a pleno vapor, inclusive com forte presença na política.

O atual governador, Cláudio Castro, deu carta branca à operação e celebra o saldo trágico de mais um extermínio de gente pobre. Sintomático que o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, antes mesmo da divulgação dos nomes das vítimas tenha se referido elas como como sendo “tudo bandido”.  Ora, alguns, nem todos, tinham antecedentes criminais. Mas antecedente criminal até o Bolsonaro tem e nem por isso ele deve ser fuzilado.

Segundo  Ruppert Colville, porta-voz da Organização das Nações Uidas, algo está muito errado. De janeiro de 1998 a março de 2021, 20.957 pessoas morreram em confronto com a polícia do Rio. Média de uma pessoa assassinada pela forças policiais a cada dez horas.

Os 200 policiais fortemente armados, além da matança, prenderam 6 moradores e apreenderam apenas 23 armas e 12 granadas. Em 2019, foram apreendidos 117 fuzis no Vivendas da Barra, mesmo condomínio onde tem casa Jair Bolsonaro, mas não houve nenhuma morte. A justificativa da Polícia Civil para a realização da operação seria a execução de 21 mandados de prisão, mas dos 27 mortos, apenas sete estavam na lista.

Não existe pena de morte no Brasil, portanto é preciso investigação rigorosa do Ministério Público para punir os responsáveis pela chacina. É  preciso apurar também a motivação política da operação, que atingiu frontalmente o Supremo Tribunal Federal, que proibiu operações como a realizada no Jacarezinho durante o período da pandemia de Covid-19.

É preciso dar um basta. A polícia, com Bolsonaro no poder, nunca matou tanta gente. Pior, a matança é dirigida contra os negros.  Em 2019, de cada dez vítimas de violência policial, oito eram negras. Pela Constituição, os negros e os moradores das favelas têm os mesmos direitos do restante da população.

A  sociedade brasileira que preza a democracia não pode ficar à espera de novos banhos de sangue e deve acionar todos os instrumentos para barrar operações policiais como a ocorrida no Jacarezinho. Uma sociedade civilizada não pode permitir que a barbárie prospere, com a utilização do poder do Estado.  •

 

* Deputado federal pelo Rio Grande do Sul, é o líder do PT na Câmara dos Deputados